segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

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Tenho-me sentido bastante deslocada do mundo, nestas ultimas semanas. Não da terra, mas do mundo, daquele que se partilha ou do qual se tenta fazer parte quando estamos em sociedade...
A viver rodeada pelo silencio e pela floresta, onde se ouve ao fundo o barulho constante do mar e do vento a pentear as arvores seria dificil participar nas cerimónias habituais associadas ao natal.
Já tinha decidido passar pelo natal de forma diferente e foi o que fiz... participei num jantar comunitário, onde fui voluntária, no dia 24 e acabei a noite a distribuir o que sobrou pelos sem-abrigo de Lisboa. Semi-hibernei no dia 25 e, finalmente, fiz as reuniões de familia, com a familia que restou, no dia 26. E tomei uma decisão.... o meu filho, para o ano, participa neste roteiro. É, talvez, uma forma de lhe mostrar que não é preciso viver esses dias no consumismo desenfreado e na aparencia. Ao reler frases anteriores por aqui, percebo que acabei por fazer exactamente o que resolvi o ano passado... ignorei a unidade estrutural e alarguei o conceito de familia.
Na semana anterior tive de ir a um centro comercial da cidade e lembro-me de me sentir invadida... Alguma vez se sentiram assim? Invadidos? Demasiada luz, demasiado gasto, demasiado desperdicio, demasiada gente, demasiado.... andei a escapulir-me pelos corredores menos frequentados e a sentir que tinha de sair dali e voltar ao silencio o mais depressa possível. Que aquele não era o meu mundo e já não conseguia fazer parte daquilo...
Nessa noite uma amiga de coração mostrou-me o filme que partilhei no post anterior e estivemos bastante tempo a falar sobre as nossas tentativas de regresso às origens, sobre essa vontade de mudar e sobre o contributo que podemos dar. Sobre a responsabilidade que cada um tem.
O Miguel passou este natal com o pai e no dia 25 à noite sai de casa, sozinha. Apetecia-me sentir o ar frio e o silencio da noite enquanto passeva por ruas desertas. Dei algumas voltas e acabei por me lembrar de um filme de que já tinha visto o trailler e o qual me tinha despertado imensa cusiosidade. Sou completamente fã de livros de ficção cientifica e é um dos estilos de cinema de que também mais gosto.
Decidi aproveitar a noite de folga e ir vê-lo, um pouco ansiosa pela prespectiva de ter de entrar num centro comercial outra vez. Quando cheguei deparei-me com um parque de estacionamento vazio, um centro comercial vazio e silencioso e uma sala quase vazia. Com direito a oculos e a um lugar com uma excelente visibilidade, sentei-me e, obedientemente, pus os oculos quando mandaram.
O que surgiu no grande ecrã foi algo que se me contassem só me teria feito ter mais vontade de ir ver o filme.
Costumo dizer que são os livros que nos escolhem, quando estamos prontos...
Tenho olhos na cara para perceber a ironia de um filme destes vir de onde vem, para perceber o desperdicio de meios e dinheiro para o fazer e o quanto isso é uma contradição com a mensagem que passa. Para me enervar alguns dos cliches e frases feitas tipicas de filmes americanos, para uma série de outras coisas que são absolutamente obvias e irritantes, por serem manipuladoras. Mas preferi ver a estória do filme de outro angulo. Do que me faz sentido neste momento. Do unico angulo que posso ter... o de mera espectadora. E essa visão fez-me correr as lagrimas desde que me afastei do cinema até me deitar...
Não vi o filme a avaliar a qualidade dos efeitos especiais, que são extraordinarios ou da beleza das imagens gráficas, nem a avaliar a estória em si, que é boa, dentro do genero. Essas só consegui avaliar depois.
Mas vi a reconhecer a ligação que era estabelecida com os seres vivos pelo povo indigena. A ligação real e fisica que estabeleciam e a reconhecer o que o autor quis mostrar.
É assim tão dificil estabeler essa ligação com o que nos rodeia? É assim tão dificil ao ponto de ser considerado ficção cientifica? As pessoas que vão ver o filme reconhecem que são capazes de o fazer, de o sentir? Ou fecham-se, como eu fiz no centro comercial, para não me sentir agredida e violada energeticamente?
O que o povo daquela estória representa é algo que encontrei com um grupo de pessoas muito especial e com algumas pessoas isoladamente. É uma ligação que ultrapassa barreiras fisicas ou mentais e é incontornável porque só pode ser dessa forma. E só quem sente assim consegue fazer parte, estar.
As lagrimas que me correram foi por perceber (e nesta altura do ano é sempre mais visivel e fácil de perceber) que deviamos ser mais. Que as mudanças fisicas acontecem quando atingimos um determinado estado de conexão com o que nos rodeia e que aquele é um dos caminhos possiveis da evolução humana. As lágrimas correram de emoção pela identificação, pela tarde e noite anterior de partilha, pela sensação de que deveria ser mais assim, não apenas em sessões de meditação ou noutras partilhas, mas que deveria ser assim. Que se fosse dado a todas as pessoas a possibilidade de sentirem o que os outros sentem como se fosse na sua propria pele, de adivinharem o que os outros estão a sentir e por vezes a pensar, de sentir e perceber as consequencias dos seus actos seria mais facil viver em sociedade. Que, se mais gente tivesse a coragem de fazer o que sabem, me seria mais fácil viver aqui.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Um Presente Uma Visão

Este filme não é um presente de Natal... mas é um Presente!
É a história da Vida da Terra contada, nua e crua, bela e arrepiante.
Maravilhosamente contada por imagens, pelas cores e padrões que têm moldado a superfície da crosta terrestre e dos céus.
Visto de cima, dá-nos uma perspectiva da Terra invulgar e de extraordinária beleza, acompanhada pela narração cheia de informação
Com o cunho do Luc Besson, é um filme de 1h30. Não é um filme fácil de ver, por ser longo, sem acção aparente, por fazer ligações entre a informação que nos é dada e nos colocar como únicos responsáveis pelas drásticas mudanças que estão a ocorrer.
Mais que um filme sobre responsabilidade ecológica, este é também um filme sobre responsabilidade civil.
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“É tarde de mais para ser pessimista!”
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É uma das frases do final do filme, em que nos são apresentadas estratégias e mudanças que começam a ocorrer em cada um de nós.
"Não precisamos de deixar de consumir, só precisamos de agir de forma diferente. com mais informação e consciência das consequências das nossas acções.Senão vamos ter de consumir menos."
Ninguém tem todas as soluções. Existem milhares delas. Mas o mais importante é trabalharmos juntos, cooperarmos para as juntar e assumirmos a responsabilidade na mudança de atitudes... para podermos viver Juntos.
Juntos com os outros e com a Natureza, numa interacção harmoniosa.
Que seja esta a visão para os próximos anos, onde todos nós ganhamos consciência que partilhamos a mesma história, as mesmas células com todos os seres vivos nesta CASA, onde não existem fronteiras e onde todos juntos podemos viver de forma mais harmoniosa.
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Versão inglesa:
Versão espanhola:
Versão francesa:
Conferência de imprensa:
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Namaste
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Ana Cristina Lopes e Inês Duarte

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Massa Crítica

Quando penso nas coincidencias, nunca consigo deixar de pensar na teoria do caos, nos seus sistemas dinamicos não-lineares e nos atractores estranhos. Atractores estranhos são pontos para onde o aparente caos tem tendencia para se dirigir... como é que tudo isto está relacionado? Aparentemente em nada. Em nada continuaria se não encontrasse esses mesmos estranhos atractores na vida do dia a dia. E se não me passasse à frente dos olhos o nome e conceito Sincronicidade (três vivas ao Jung que se fartava de observar e reflectir de espírito aberto).
Penso tantas vezes que tudo isto é só uma questão de crenças. Que cada um com as suas e que é claro que se quisermos acreditar que nos movemos num mundo aleatório, regido por meia dúzia de leis que os cientistas estão constatemente a actualizar... será assim que vemos o que nos rodeia.
E o mais curioso é que realmente acredito nisso. Acredito que nos movemos num mundo regido por leis anda não exploradas e descobertas, que começamos a arranhar a superficie de algo muito maior, não necessariamente espiritual. Só não necessariamente espiritual, no sentido normalmente associado à palavra, porque pressinto muitas outras explicações...
Céptica?? Ou talvez não... Entrar no campo das crenças é a coisa mais traiçoeira e, por vezes, inútil que conheço. Cada um na sua bola de sabão. Cada um dá os nomes que quiser ao que muito bem entender.
E quando as bolas de sabão nos seus movimentos aparentemente aleatórios começam a convergir para um ponto, para um padrão? Quando cada vez mais bolas começam a deixar de ver apenas o seu interior e aprofundam o campo de visão? Quando começamos a aperceber-nos que as colisões aleatórias nos trazem significados novos, novas prespectivas?
Como é que uma ceptica convicta explica isso?
Confesso que tive umas ajudas extras para essa tomada de conscencia. Do padrão por detrás dos acontecimentos aleatórios... Apaixonada por ficção cientifica desde os meus 14 anos, li e reli e voltei a reler quase todos os clássicos. Todos aqueles que me falavam ao ouvido sobre outras formas de olhar para o mundo. Lembro-me de questionar, quando tive conhecimento do conceito de celula, se não seriamos todos apenas células de um ser gigantesco, com o qual apenas podiamos sonhar, quase totalmente alheios à sua verdadeira vontade.
Quando, devido a uma série de ... coincidencias, me vi obrigada a parar e aprofundar o campo de visão, não notei inicialmente nada de diferente. O nosso cerebro tem tendencia a ignorar tudo o que sai fora do ambito que conhece. Agarra-se de tal forma às crenças que quando confrontado com algo que desconhece, que sai fora do ambito da sua percepção, adapta a informação que recebe às suas próprias crenças. Ou seja.... para aquela pessoa que ficou lá atrás e para o vizinho do lado não aconteceu nada, não viu nada, nada mudou...
E quantos de nós já não ouvimos da boca dos maiores cepticos que não acredita em bruxas, mas que as há, há? Quantos de nós, no nosso crescimento não fomos confrontados, vezes e vezes sem conta, com o tipo de situações que nos obrigam a mudar as nossas crenças? Ou pelo menos a questioná-las. Vezes e vezes sem conta. As mesmas situações, as mesmas escolhas, os mesmos pensamentos, as mesmas emoções, as mesmas acções. Parece um ciclo infernal e é mesmo. Até decidirmos mudar. Mudar qualquer coisa neste ciclo implica mudar tudo. De inicio nem suspeitamos, apenas queremos mudar. E é nesse momento que surgem as coinidencias realmente espantosas. E nesse momento que nos apercebemos que não podem ser so meras coincidencias. Que existe um padrão por detrás. Um estranho e extraordinário padrão.
Não é que ele não existisse antes. Ele estava lá, bem visivel! Mas os os nossos sentidos pregam-nos partidas engaçadas. Mostram-nos as sombras e as nuvens e nós brincamos ao adivinha e faz de conta. Vemos o que queremos ver, acreditando que é essa a realidade. Que é assim, que somos assim, que os outros são assim... Chamamos lei da selva, cada um por si ou, no outro extremo, paz, amor e muita luz.
Questionar o que vemos, o que ouvimos, o que sentimos, o que pensamos e naquilo que acreditamos é a força motriz de qualquer mudança. E sempre que damos algo que precepcionamos como certo e verdade... é porque talvez esteja na hora de voltar a questionar, para que a mudança ocorra e o sincronismo nos ofereça novas direcções.
A questão aqui é a massa crítica...
Massa critica é a quantidade de material ou de pessoas, neste caso, necessárias para que ocorra uma reacção sustentada. Ou seja, a quantidade de pessoas que se começam a aperceber dos padrões por detrás dos acontecimentos e que começam efectivamente a mudar os seus pensamentos, emoções, acções e, em consequencia, as suas crenças em relação aos mesmo.
Massa critica é a quantidade de pessoas por todo o mundo que começam a mudar isoladamente mas que com a sua mudança desencadeiam uma mudança de comportamentos. Uma mudança de comportamentos que gera mais mudança.
Demasiado técnico? Eu sei, que sim. Que não está floreado nem emotivo. E permito-me estes comentários e forma de escrita porque estou farta de pensar sobre isto. Estou farta de procurar explicações, de procurar na ciencia algo que me confirme que, pelo menos, pelo menos andamos a farejar estes factos. Mesmo sem teorias comprovadas ou não.
Não sei se já o tinha dito aqui, mas as conversas mais interessantes que tive com pessoas da ciencia sobre espiritualidade e outras coisas que tal foi com fisicos. Fisicos, imagine-se! Até esses se colocaram no meu percurso para me garantir que há esperança que mais cedo ou mais tarde não vai haver como chamar maluquinhos às pessoas que veem, ouvem e sentem mais do que seria suposto.
As bolas de sabão continuam as mesmas. Talvez as suas paredes se tornem menos opacas, mais transparentes e começamos a ser cada vez mais os que precepcionam (e cuja mente não altera o que percebe) para além das suas fronteiras. Somos cada vez mais os que, a pouco e pouco, se apercebem que vivemos num mundo de ilusões e que talvez... talvez haja algo mais por detrás das coincidencias.