terça-feira, 25 de agosto de 2009

.:: Sons de Encantar ::.

.::: Algures entre o céu e a terra fazem-se sons de encantar :::..

Qualquer coisa despertou nas catacumbas da cidade com um apelo daqueles...

Um apelo de duas almas, quatro mãos e dois sons entrelaçados e enleados.

O som dos metais que se transforma em benção de agua, nas paredes das fundações de Jerusalém.

Não é a cidade de deus, é a cidade dos homens.

E o que aquele som desperta nas catacumbas, no mais fundo do coração de uma cidade e dos homens é algo de muito belo.

Não sei se sabiam o que estavam a fazer ou o porque... mas quando sairam arrepiados daquele momento devem ter tido uma pequena noção da dimensão da oração que construiram e lançaram nas raizes daquele lugar...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Diz

Diz-me a verdade
Mas toda a verdade.
A dos olhos que não mentem
e do coração que não grita.
.
Só peço isso,
que mais queres tu de mim
Senão a verdade,
A minha verdade.
.
Diz-me a verdade,
A tua verdade
Essa que não encontra a minha.
.
Quando acima de todas estas
Nos olha a outra,
A verdade.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Perder o Tempo

Pediram-me para deixar de escrever para mim e começar a escrever para os outros...
Percebo este pedido, sinto que mais tarde ou mais cedo o que escrevo será cada vez menos sobre mim e será cada vez mais sobre nós... e pouco tempo depois ouço e lembro que só por estar já nos mudamos uns aos outros. Só pelo que somos.
Sou também isto, esta escrita egoica e centrada sobre o seu próprio umbigo, pelos desejos e anseios partilhados, pelo reconhecimento das fragilidades humanas e pela aceitação que a unica pessoa a quem tenho realmente de agradar é a mim mesma.
Largo tudo e vou a correr ter com quem me rodeia e precisa com a mesma facilidade com estas linhas surgem, não destingo as cores dos outros, sem ser a dos olhos com a mesma naturalidade e distracção com que aqui regresso, revolto-me com as injustiças com a mesma suavidade com que me deito tranquilamente depois de escrever.
Chamam-me doce e penso não assim tão doce. Aqui dentro algo crepita constatemente, como um lume que estala e se contorce. Que me pode consumir se não deitar cá para fora a labareda dos medos partilhados por toda a gente.
Podia escrever tudo isto de forma lirica e na terceira pessoa. Podia arranjar uma metafora bonita e floreada para quem a quisesse ler. Percebo que mais gente se identificaria. Podia passar conhecimento e falar da minha experiencia de auto-conhecimento e espiritualidade. Podia passar o meu processo e as descobertas de forma mais ou menos generalista. Sinceramente? Não me apetece. Porque o faço e fiz essa troca de braços abertos, olhos nos olhos, braços nos braços.
Quando digo que não me agrada o conceito de mestres é por saber o quanto não o sou e o quão facil é cair na tentação de parecer. Podia fingir estar a dar uma lição, estar a dar uma aula mas isso só faria aumentar o crepitar.
O medo de ficar sozinha e, no entanto, saber que ninguém realmente o está é a maior partilha que posso fazer. Não esconder que sou humana e incarnada, que vivo aqui a aprender, a adaptar-me a mudar, a aceitar, a acreditar que SIM, apesar do medo fazer parte de mim é uma das formas que tenho de partilha. Não posso e não vou fingir textos canalizados, palavras encantadas e cheias de pedagogia espiritual. Não vou, não posso e não quero. Não consigo falar nem escrever sobre essa mim a pessoas a quem não conheço e não senti. Não consigo, nem posso escrever directamente sobre espiritualidade que não seja vivida a aceitar que somos todos humanos incarnados e repletos de medo e fantasmas. Sou o que sou. Aqui e agora sou dual, como carne, faço asneiras, bato com a cabeça nas paredes e com o nariz no chão. Durmo pouco e acordo de mau humor se não sentir o que faço. Não tenho, nem vou fingir que sei muito ou pouco sobre tudo e sobre nada. Fico zangada comigo antes de chorar e aliviada depois, mas choro que nem uma maria madalena arrependida. Sou levada por paixões e recolhida em solidões. Sou o que sou!
Aqui e Agora Sou Humana Incarnada de Um Sol
Sou humana incarnada de um sol, com um ego enorme, que levanta o nariz e se faz de forte com a mesma rapidez e facilidade com que se ri de uma conta exagerada numa esplanada ou se afasta quando dói.
Não posso, nem vou fingir que não sou tudo isso aqui e agora. Vou mostrar, rasgar-me, tirar e largar todas as peles de cobra, deitar abaixo o medo de me abrir e partilhar o que estou.
Sou Feliz
Sou Bem
Mesmo quando não o estou é o que sou. Fingir que sou algo menos ou mais ou que não estou, às vezes, da melhor forma, é criar ilusões em mim e nos outros.
Estou num momento em que preciso de viver a espiritualidade de forma práctica e eficaz. Sem rodeios e pedagogias, sem lirismos nem conversa fiada. Como é que posso aplicar isto de forma practica? Como é que posso utilizar o que sei para me centrar e estar centrada com os outros?
Sei que muita gente lê estas frases e louvo a paciencia de quem chega ao fim. Não tenho a pretensão de ensinar ninguém e mesmo na minha vida pessoal, com as minhas pessoas tenho a mesma atitude. SIMPLIFIQUEM! Não me vale de nada esconder que sou orgulhosa e teimosa, persistente e refilona. Que reclamo quando me fazem passar gato por lebre. Não sou gato, nem sou lebre. Sou pessoa, sou humana a aprender, a crescer, às vezes a desistir.
Recuso falar sobre essa parte de nós como recuso deitar cartas a quem sinto que não posso. Não escondo o que sou e cada vez menos gosto de estar escondida, de estar no meu ninho. Cada vez mais sinto que o meu ninho é o mundo e que de mãos dadas com os outros somos maiores que o mundo.
Quando escrevo o que sinto, escrevo com o coração todo, escrevo o que tenho de escrever, para o melhor e para o pior. E, curiosamente, é a mensagem que mais me apetece passar a quem se acha diferente da multidão. Não somos diferentes de ninguém, não existe ninguém diferente, ninguém especial. Somos todos iguais em diferentes tempos. São os tempos que nos fazem parecer diferentes, que criam essa ilusão. Hoje, aqui e agora estou aqui. Amanhã estás tu neste aqui e eu nesse ai. Se perdermos o tempo ficamos iguais. A unica forma de perder o tempo é aceitar os tempos dos outros e aceitar que estamos no nosso próprio tempo. Tão simples quanto isto... sem perder tempo.