sexta-feira, 31 de julho de 2009

In the right place at the right time

Alguém diz uma frase e, de repente, olho em volta e cambaleio... mas o que se passa aqui?
Estas cores, esta frase... Olho a pessoa nos olhos para perceber se sentiu o mesmo. Não sentiu nada, continua a falar despreocupadamente. O que é que ela disse mesmo? Já sabia isto. Já sabia que se ia passar assim. Tinha a certeza que o resultado andaria por aqui. Mas não esperava o abanão, não esperava a confirmação...
O que foi que disse mesmo? O momento passa e pergunto-me qual será a importancia disto. Quais as consequencias e ajustes. Deixamo-nos levar e fluir levemente, temos imensas pistas que é por ali. Tive que fazer opções para ter estado exatamente onde estava naquele instante. Não vou entranhar-me com a musica e a dança na proxima semana. Estou a sentir-me com saudades do que gostaria de ter feito. Mas continuo a saber que estou onde tenho de estar.
Foi um dejá-vu? Já tinha ali estado, já tinha sonhado com aquele frase, com aquele momento e com alguns dos que se irão seguir. Já sabia aquelas frases. Não sabia todas... mas sabia as que abrem uma caixa dentro de mim.
Já sabia que ando a ser, desde que me alinhei comigo mesma, uma força motriz para os outros. Uma fonte de mudança e estabilização. Uma fonte de força para tomada de decisões... à mão de quem quiser apanhar a embalagem e à mão de quem quiser aceitar a minha energia.
Como se todo o universo tivesse conspirado durante anos para confluirmos para aquelas circunstancias, para aquele instante. Quando estes momentos são preparados cuidadosamente, quando lá chegamos sentimos e reconhecemos a força da junção e alinhamento de energias.
Quando estamos no sitio certa à hora certa...
A minha vida muda (.)
A vida dos outros (.)
Muda a minha vida (.)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ouvir sem calar

Percebi que menti
Hoje ao entardecer;
Não menti por querer
Mas apenas por ouvir
E não dizer mais nada.
Percebi que menti
Quando, sem falar,
Apenas ouvi
Sem falar nem omitir.
Ouvi e ouvi
E fiz acreditar
A quem não se calou
Que tinha repetido
Exactamente o que
Ouvi, sem falar.
Percebi que só
Por ouvir e estar
Fiz acreditar
A quem falou sem
Se calar, que pensava
O que ouvi e não repeti.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Inspiração

Ato o cabelo com um nó, num gesto rápido e lanço os dedos ao teclado. Este dedilhar rápido é um processo que questiono muitas vezes. Faço algumas pausas, só a olhar para as letras e a procurar inpiração. Inspiração...
Inspira, expira
Expira, inspira
E até que é um processo de ventilação... De onde é que vem a inspiração, o que é isso de inspiração? A leitura e o interesse pelas palavras, o reconhecimento pela beleza de uma ordem nas palavras, de uma determinada ordem de espaços e letras que traduzem uma ideia, um sentimento ou uma emoção sempre me encantou. Como me encantam as borboletas e as papoilas ou o cair de areia de uma mão. De onde vem a clareza quando ponho ordem neste turbilhão?
Como é que as outras pessoas fazem? Ou não precisam?
A necessidade da ordem para não ser subjugada pelos sentimentos. Saltito, seduzo, observo, mudo, absorvo, volto a seduzir tranquila e inconsequentemente. E sinto. Sinto tanto e tão profundamente. Questiono, pergunto, penso e ao mesmo tempo aceito. Um dia de cada vez. Uma paixão de cada vez. É um facto que de cada vez dura cada vez menos... Mas vivo apaixonada. Apaixonada por pessoas e momentos. Danço, flutuo e amo. Por fora nunca percebo o que os outros veem até ao momento em que o mostram. Mas por dentro o mundo é cada vez mais branco. Ou pelo menos hoje foi.
Estava a falar de inspiração? De por ordem ao que sinto e vejo. De por ordem ao que penso. Mas é mais que isso. Porque quando conto, quando descrevo por sons saem-me factos, acontecimentos e nunca consigo transparecer a profundidade, as camadas por debaixo das camadas. Não consigo descacar com exactidão e atingir o cerne da beleza daquele momento, do que me fez sentir. A inspiração vem daí. Exactamente daí! Da memória do que senti. Talvez da tentativa de reviver aquele momento, talvez da tentativa de o reviver com outra visão. De subir um pouco o monte e ganhar uma vista diferente. Inspiração...
A inspiração é um processo activo em que agimos em tensão. Colocamo-nos em tensão. E a seguir à inspiração segue-se necessáriamente a expiração. Aquele momento do respirar fundo em que soltamos o ar todo que estava retido nos pulmões e o alivio chega.
Estava a falar de que inspiração? Do reter de frases, sentires e pensares ao longo de um certo tempo em que se vão acumulando até à fase em que é necessario deixa-los ir, deixar tudo isso seguir o seu percurso natural e desvanescer-se suavemente.
De onde vem a inspiração? Curiosamente do turbilhão. Do viver tumultuoso, das pequenas e grandes estórias, das frases soltas e pensamentos loucos. Vem dos sonhos a dormir e dos sonhos acordados. Da atenção aos pormenores e do reconhecimento da beleza sublime numa qualquer coisa banal. Vem da intensidade do amor, da tristeza, da alegria. Até vem, vejam bem, do cansaço e monotonia, se também essa for vivida.
Inspira, inspira, inspira, inspira... ora tentem lá! Chega um momento em que temos que por alguma ordem à casa. Algo tem de ir, alguma coisa tem de sair para dar espaço às coisas novas. É uma necessidade natural. O processo, a porta que se abre para o expirar é irrelevante. Mas a pressão tem de ser naturalmente aliviada para que não haja uma explosão. E para haver uma explosão já houve, há muito, uma implosão. Inspira, inspira, inspira....
BUUUMMM?....

domingo, 26 de julho de 2009

A Vida Redonda

Ando por Lisboa o ano inteiro, passeio pelas calçadas durante horas, sento-me em esplanadas com vista e nos passeios do Bairro e da Bica a beber ginjinhas, estendo-me na relva da Gulbenkian. Conheço pessoas quase todos os dias. Mas passo dias sem encontrar ninguém conhecido pelas ruelas e avenidas de Lisboa.
Numa noite e um dia nas ruas e lugares da minha "aldeia" encontrei por acaso pessoas que me relembraram onde gosto de viver, dos rituais que gosto de cumprir, das pessoas que gosto de encontrar.
Pessoas que não via há cerca de 5 anos. E passaram por acaso, ficaram por acaso e reencontrei por acaso...
Durante um dia extenuante é agradável abrir os braços a estas pessoas. Como se a distancia de um rio, de um salto para a areia ultrapassasse universos, dobrasse o tempo e me fizesse regressar ou encontrar um lugar unico no espaço e no tempo. Aquele em que a saudade desaparece, o sol inunda a alma, o corpo respira fundo e as ondas embalam o ar.
Como se o ar fosse mais limpido, as cores mais vivas e o cinzento ainda não tivesse corrompido aquele pedaço de terra.
As distancias são maiores e os caminhos nem sempre conhecidos. Mas existe algo de eterno e familiar, existem memórias e novos começos. Existem as memórias dos outros e sempre novas pessoas. Como se uma simples travessia me transportassse para um imaginário diferente, onde tudo está mais à flor da pele. Onde tudo é mais real e Lisboa, vista ao longe, parece pequena e tacanha.
Foi uma noite tranquila, apesar da dificuldade e tempo para aqui chegar. Foi um dia cansativo. Mas houve uma verdade que veio ao de cima. Uma verdade daquelas que é comprovada pelo tempo e pela vontade no regresso.
Sempre e onde somos felizes, sempre e onde somos verdadeiros e consistentes no que somos essa verdade acaba por nos encontrar. A verdade de um momento, há muitos anos atrás, de um gesto simples, de uma atitude, de um reflexo do que sou que, passados todos estes anos, me surpreendeu e me retribui na forma mais simples de um circulo, me presenteou com uma atitude e um gesto, que me garantiu que fazemos a diferença na vida uns dos outros quando agimos em verdade com o que somos. Que na simplicidade do que somos fazemos parte do barro que nos une uns aos outros e ao mundo.

domingo, 19 de julho de 2009

A lua sorriu

O mar respirou fundo, a lua passou e sorriu...
A tempestade finalmente acalmou e nesta acalmia recontrei velhos e novos corações.
Amei e fui amada por palavras, defini sonhos e objectivos, desenhei novos caminhos.
Assumi uma velha paixão e caminho com a dos outros.
Descobri algo que quero e tudo mudou.
Gosto deste começo.
E a lua sorriu.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Desabafo

Continuo sem conseguir abrir a boca para dizer o que sinto. E, apesar da escrita esporádica, deixei-me levar a um extremo este fim de semana. Será preciso contextualizar? É preciso explicar tudo, sempre? Onde andam as pessoas que basta olhar para perceberem que algo de errado se passa deste lado dos olhos? Tenho ficado calada, juntado forças para mim e para quem me rodeia, aceite oportunidades e novas prespectivas... sem grande alarido. Descarrego por aqui de vez em quando... mas nem aqui me tenho permitido ser demasiado obvia. Talvez porque este blogue já não seja assim tão incógnito. A verdade é que, à conta de querer aprender a expor-me, quando não quero, tenho de engolir em seco. Recuso-me a inventar outro espaço virtual. Este tem sido o meu canto de desabafo e de abertura. Tenho sempre os cadernos e os guardanapos de papel de uma qualquer mesa de café. Mas, curiosamente, não cumprem o seu papel. Papeis que não cumprem o seu papel. Esqueço-os no fundo da mala, amarroto qualquer vestigio de um desabafo mais violento...
E o acumular, este acumular de tensão sem valvula, sem escape fez-me ter a reacção esperada e previsivel com alguém ao telefone... bonito...
Mas é sempre preciso explicar tudo? Exponho o que vou sentido, mas não exponho factos. Faço-o muito raramente e sempre enquadrados... ou não.
Esta mudança é bem mais que um ajuste. Está a ser uma violência! Só me dá vontade de rir, enquanto escrevo isto. Aquele riso que esconde as lagrimas que apetecem. Vai mudar todas as minhas rotinas, vai mudar onde vivo e com quem vivo, vai ignorar a minha privacidade e espaço. Está a mudar-me e a mudar as minhas pessoas. Vai mudar o que faço e, talvez, a forma como o faço.
Muitas destas mudanças são muito boas e bem vindas. Outras são... são o que são. São uma necessidade, uma aprendizagem, o que lhe quiser chamar. É tudo isso e muito mais. Mas é demais.
Alguém disse ou ouvi de alguém que as dificuldades e "provas" surgem à medida que estamos preparados para elas.... É um facto da vida. Pelo menos da minha.
Muito, mas mesmo muito raramente dou parte de fraca... e sorrio outra vez.... simplesmente porque não sou fraca, o que quer que isso significa e não me está mesmo a apetecer estar a discursar ou a tentar perceber esta frase que até pode ser infeliz. Fica a nota de rodapé para uma futura análise... típico! Moi meme no seu melhor....
Não tenho que estar a queixar-me nem a alimentar qualquer tipo de sofrimento inutil e contraprodutivo dentro de mim. Às vezes, muito às vezes, alguém especial apanha um ar triste ou distante. Às vezes, muito muito às vezes, alguém se aproxima e faz a pergunta mais simples: "Precisas de alguma coisa?" Não é que precise. A maioria das vezes não preciso de nada. Ou de muito pouco, mas nestes momentos é muito importante saber que estas pessoas estão lá. Muito, mas muito raramente, me ouvem a reclamar da vida, a queixar do que quer que seja. Posso reclamar de situações, de acontecimentos mas, quanto muito, ouvem apenas um "Isto nem sempre é fácil" acompanhado de um sorriso que confirma que não é facil mas não é impossivel.
Esta atitude geral, não particularmente neste momento, faz uma coisa muito simples a quem me rodeia ou tenta aproximar. Cria uma imagem de mim de auto-suficiente, independente, de personalidade forte, etc e tal e tal e tal. E sou tudo isso... a maioria das vezes. Mas quando é demais é demais. Quando é demais continuo a ser tudo isso mas vem ao de cima a faceta tipicamente feminina, a fragilidade. Por ventura escondo de alguém que também o sou?? Talvez esconda... ou então demonstro de uma forma que não é tão percebida. Afasto-me, isolo-me e procuro as pessoas que, eventualmente, que eventualmente nem sei... porque nestes momentos nem sei muito bem o que preciso. Preciso de ouvir muitas vezes que vai correr tudo bem. Mais que ouvir, preciso que me mostrem que vai correr tudo bem. Repito-o tantas vezes para mim mesma que as pessoas ficam convencidas que já sei que vai. Preciso de mimo e de um ombro. Preciso de estar rodeada de pessoas que me deixem à vontade para purgar e não fiquem assustadas se perder o controle e deixar correr uma lágrima. Ou até uma torneira aberta delas. Preciso de estar com pessoas onde sinta que posso ser eu mesma, em toda a profundidade e complexidade do meu ser. Isso ou ficar sozinha. Mas sozinha as lágrimas não têm chegado. O luto pelo que vou deixar não está a acontecer. Em vez disso existe esta sensação crescente de tensão e espera acumulada.
Perguntam-me "Estás bem?" e respondo "Estou!"
Hoje estive com uma pessoa a quem consegui responder com um sorriso "Não, não estou bem. Não estou bem e não sei exactamente porque nem o que fazer para me sentir melhor. Não estou bem... mas estou aqui." O que começou com uma cara séria e fechada terminou com um sorriso de alívio.
Não tenho que estar bem. Não tenho sempre que estar bem, apesar de estar sempre tudo bem. Não posso exigir de mim mesma ser capaz de passar por isto (pelo que passou e pelo que se adivinha) calma, centrada e bem. Não tenho que fazer um luto a sorrir. Nem consigo! Estaria a mentir a mim mesma e a não fazer a despedida desta etapa. Iniciaria uma outra com um pé no barco atrás.
Pronto! Tudo isto despejado fico mais leve. Não fico bem. Mas fico mais leve. Não tenho que ser perfeita. Não o sou. Sou tantas vezes uma miuda de quinze anos e outras tantas vezes uma menina de três. Nas outras lá tenho os 34. O que quer isso seja.
Tudo isto, toda a tensão e mudanças acabam por ter um efeito colateral curioso. Normalmente já tenho, devido aos desafios normais de ser mãe "sozinha" e às caracteristicas pessoais, as minhas prioridades tão definidas, que tenho a atitude de não dar importancia à grande maioria das coisas. Ouço, respeito, empatizo. Mas não as partilho. Não são as minhas. Acabo por viver num mundo que é dificil de fazer perceber a algumas pessoas.
Os acontecimentos recentes e a tensão acumulada acentuaram essa diferença. Tenho a certeza que com o tempo e com muita calma essa diferença acaba por se esbater. Mas neste momento está bastante vincada:
Quem estiver e quem vier, que venha por bem. Porque tenho mesmo mais com que me ocupar!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Timing perfeito

Tantos ajustes, tanta tensão, tanta espera...
Alguma coisa engraçada tinha que resultar daqui.
Faço uma vénia e agradeço aos senhores lá de cima por terem brindado estes momentos com este presente..
E não consigo deixar de sorrir ao jogo de palavras e aos segundos sentidos.
Porque, no fim, o que importa é quem nos rodeia,
E não o que nos rodeia.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Estado de sítio

É o que me sinto.. em estado de sítio! Relaxa, deixa-te te ir, habitua-te, vai tudo correr bem...
É o que me digo e ouço dizer. Mas já respirava fundo, já me davam um pouco de descanso, já me davam luzes a sério de que vai mesmo correr tudo bem. Afasto os fantasmas do pensamento com um abanar da cabeça. Respiro fundo para estar calma e atenta. para estar cá. Caminho horas a fio, pé ante pé, por Lisboa fora enquanto tento esquecer toda esta confusão.
De onde venho não me interessa, para onde vou... vai-me interessando. Onde estou é o que me ocupa e esse lugar onde estou está a deixar-me num limbo. Está a deixar-me estéril de ideias e saidas de emergencia. Tenho mesmo que fazer isto. Tenho mesmo de fazer mais este corte, mais esta mudança, mais este recomeço. Fui eu que o pedi... ironicamente, fui eu que pedi! Não foi exactamente o que pedi, mas fui eu que pedi. Um recomeço...
Mas um recomeço para o que? Limpo exaustivamente o local para onde vou, preparo-o cuidadosamente. Mas sinto-me quase sem bagagem. Faço, nessa limpeza, os cortes com o passado. Faço os meus e sou o motor dos outros.
Preciso de descansar. Preciso de alguns segundos sem ter presente o que me ocupa. Preciso, gostava que me deixassem parar. Que surgisse aquele sitio no eter onde podesse dizer: É aqui que quero ficar!
Esta é só mais uma curva apertada e, como em qualquer curva apertada, se não me seguro saio disparada, levada pela força da velocidade da propria curva. E enquanto me seguro, vejo que a curva continua, que ainda existe uma zona, ali à frente, que aperta ainda mais. Seguro-me (vão-me dando onde me segurar) e preparo-me. Ajusto o corpo à acelaração.... mas é impossivel relaxar...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Seria do chá?

Três pessoas à volta de um bule de chá. Não podiam ser mais diferentes. Três idades, três etnias, três formas de estar, três opções. Todos à volta de um bule de chá. Canecas na mão onde vai rodando o açucareiro e o próprio do bule. Um bule vulgar, é de acrescentar, assim como o próprio do açucareiro. As colheres vão remexendo vagarosamente, diluindo no chá o sabor do doce.
Que três estranhas criaturas as que se reuniram esta noite.
Se me perguntarem do que conversámos vou ter de pensar... ora deixa ver...
Três pessoas tão diferentes unidas pelas mesma imagem. A mudança, essa que nunca se sabe bem por onde vai. Um homem e duas mulheres de idades tão diferentes. Sou capaz de jurar que , às páginas tantas, não sabia quem era o ancião, quem era o sábio, quem tinha vindo procurar orientação. Era capaz de jurar que, a meio do chá, o ancião foi orientado, o sábio ficou calado e aquele que veio em busca de orientação acabou por amadurecer e aconselhar.
As conversas escorreram intermináveis, sobre tudo e sobre nada. Sobre o tempo não foi, que não me lembro. Mas sobre tudo o resto. Sobre o que é isso de amar. Sobre o que é isso de viver e até sobre o que é isso de escolher. Isso mesmo! Sobre o resto não me lembro, nem me lembro do que era o chá...
É verdade, lembrei-me agora, faltava um gato! Este gato que faltava tinha, não uma bota mas sim, uma pantufa. Era o gato da pantufa! Mas esse não bebia chá.
O que seria que faltava mais? Deixa-me pensar... Não faltava a alma, que essa estava toda lá. Não faltava a lua, que também a vi por lá.
Acho mesmo que não faltava nada... só mesmo o gato.
Eram três pessoas, um homem e duas mulheres tão diferentes entre si que não concordavam em nada. Mas as conversas correram sobre tudo e sobre nada, sentados numa mesa à volta de um bule de chá!
Um dizia que preferia ter visto e nunca ter provado. O segundo dizia que depois de ter visto era pior não poder provar. E o outro rematou que no fim, no fim de tudo, depois do chá preferia saber que tinha tentado.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

I won´t lie no more

Algures no meio da loucura desta cidade, pintada em traços largos, pinceladas de vazio e cor, algures aqui no meio existem lugares de passagem para outros reinos.
Estou num deles. Num local de passagem, num portal, numa entrada que se faz quando paramos e contemplamos, nestes locais.
Inspiram poetas e artistas, inspiram o amor e a arte, não fosse já o amor uma forma de arte.
A miscelanea de gentes envolve-me, rodeia-me, engole-me. A musica paira no ar, assim como os ritmos proprios destes locais. Quando os carros passam mais longe o burburinho embala-me...
Deixamos a mente voar. Identificamos pessoas, formas de estar.
Existe um circulo à minha volta, não foi de proposito, mas todas as cadeiras à volta da minha mesa ficaram vazias.
Trazemos o que somos para estes lugares, que até ou principalmente na cidade, existem. Desenga-se quem assim não o achar. As polaridades não são pervertidas, mas sim potenciadas.
Tudo é levado aos extremos. Tudo é testado.
Onde é que está a simplicidade?
As pessoas continuam a passar. Sozinhas, isoladas de mãos dadas.
Sinto uma pontada. Tenho saudades...
O mais obvio é o mais fácil de encontrar. Não quero mais, não quero.
Lie with me to lie down with me.
É o mais obvio e o mais fácil.
É a vantagem de caminhar até estes locais. Se percorrer o caminho até cá, se cumprir o ritual, chego focada e intuitiva.
Não estou nem mais nem menos selectiva. Estou apenas com processos de selecção mais longos.
I won´t lie no more.
O espaço à minha volta foi preenchido, as vozes aumentaram o volume, tudo ficou mais proximo e alto.
Regresso em paz.
Olhou à volta e vejo que regressei lado a lado com Pessoa.
Cumpriu-se um ritual.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Magia antiga

Apetece-me perguntar o que está a acontecer. E por outro lado não me apetece nada fazer perguntas.
Não vejo nada, não ouço nada, não digo nada, não faço nada. Encosto-me para trás, distancio-me um pouco e fico a ver. De braços cruzados e com ar irónico. O que andas tu a fazer? O que estás a tramar agora?
O que pedi no inicio do ano tem acontecido. Sem um desvio. O processo para lá chegar tem sido sinuoso. Não peço mais nada. Ou peço?
Estou cá e estou lá. Por vezes penso que estou desfocada. E no momento a seguir percebo que não. Estou apenas recostada. A ver a banda passar. Pediste, não foi?
.
Pedi, não foi? Nem me atrevo a partilhar. Se só em pensamentos tem a força que tem, se o escrevo ou digo muito alto... nem quero imaginar.
Existem livros à venda sobre isso. Milhares de livros com capas bonitas e floreadas, discursos elaborados, titulos sugestivos. Até filmes se fazem.
.
Magia antiga, rituais complicados, egrégoras e coisas que tais.
.
Em cada passagem de ano, na contagem decrescente fecho os olhos, evoco os anjos, respiro fundo, reuno em mim energia, condenso-a numa bola de sabão e ao bater dos sinos, na ultima badalada, a bola regressa ao ar e com ela a energia de uma simples palavra.
.
Uma simples palavra na intermitencia da vida...

As ideias fugiram

Uma vez a meio da noite as ideias fugiram. Fugiram para qualquer lado ou foram devoradas pela noite, pelo luar de um sorriso timido, escondido.
Uma vez a meio da noite. Ou teria sido uma tarde, talvez fosse numa tarde.
Uma vez a meio da tarde as ideias surgiram e foram engolidas pelo escuro da noite.
Uma vez à beira mar as ideias surgiram e o sol caiu no mar. Caiu lá o fundo onde as mãos não chegam.
Uma vez as mãos cresceram, os braços esticaram e alguém tocou no sol.
Uma vez as estrelas brilharam numa parede e os planetas aproximaram-se.
Uma vez o sol jogou aos dados e riu do resultado.
Uma vez, só por uma vez os dados ganharam vida e mostraram uma palavra.
.
Uma vez perdi-me no mundo e de outra vez do mundo.
Uma vez lembrei-me que os numeros e os dados, as estrelas e os planetas que brilham, o sol e o luar, os sorrisos e as ideias bem misturados num caldeirão, mexidos com uma varinha de condão e polvilhados com pó do coração, dão asas à imaginação.
.
Uma vez perdi-me de amores, outra foi a vez de outro alguém.
.
Uma vez ouvi dizer que não é facil dizer não.