quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Fim de mais um ciclo Solar

E termina mais um ano...
Não sou grande fã de passagens de ano e das celebrações associadas. É mais um momento de retrospecção e introspecção em que aproveito para fazer um balanço do que aconteceu no ano anterior, do que alcancei em termos pessoais e... de me propor a algo :)
Apesar do ciclo solar já ter terminado só faço essa celebração neste dia. Até para tentar dar algum significado a todo o espalhafato que observo ao meu redor.
Tenho o resto da noite e todo o dia de amanhã... este ano vou dançar à meia-noite :) Para celebrar o sentir-me viva e aqui. Sim, apesar de sonhadora e com a cabeça na lua preciso de um dedo do pé na terra. E dançar é mais um meio termo, é mais um botão de volume no meio.
Que todos aproveitem este momento para se consciencializarem de quem realmente são, que se permitam Sentir e aprendam a mudar, a Aceitar, a ser expontaneos e felizes, mais conscientes e construidos. Que todos vocês aprendam a não se perder em pormenores e a abraçar a Vida por aquilo que ela é. Que todos vocês aprendam a Acreditar que é possivel!
Paz, Amor e Sabedoria nos vossos corações *
Namaste

Teste de personalidade e afins :)

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Olha o que fui descobrir!!

Um teste de personalidade que até me descreve bem... para o melhor e para o pior :)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Unidades Estruturais e o Natal - ohohoh?

No próximo Natal vou fazer voluntariado! Deixo-me de tretas e de dar demasiada atenção e importância a atitudes que parecem não afectar mais ninguém e alargo a minha família. Este ano já a alarguei quando decidi passar parte do dia 25 com uma amiga e coração. Mas não chega... e acho que vou manter isso como tradição. Quando o Miguel tiver idade para ajudar também vem. E ainda convenço mais uns quantos pelo caminho... Este vai ser o ultimo Natal em que tenho de fingir qualquer coisa e ficar calada... fica escrita a única frase que deveria ter dito em voz bem alta: - Mais importante que saber contar até 10 em Inglês é saber quem são os avós!! E depois ainda me espanto de ter tido a maior amigdalite da minha vida... Acho que uma das coisas mais importantes que aprendi nos últimos tempos foi que a ideia de família não faz sentido se não existir verdade no que a une. Já o sabia para a ideia casal. Nunca o tinha transposto para a família.... que a necessidade de a termos ou construirmos é só a nossa necessidade de pertencermos a algo. De sentirmos que fazemos parte de algo. Acontece que isto não funciona quando se partem de pressupostos errados. E o Natal como momento de celebração dessa união familiar deixou de me fazer sentido. Elimino a estrutura da unidade estrutural e alargo o conceito. Lindo! Lindo e simples... acho que acabei de assassinar mentalmente a ideia de família....

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Anjos

Tive um sonho no meio dos meus delirios febris, esta semana. Não sei precisar o dia nem a hora.
Um sonho feito de cores fortes. De azuis brilhantes e laranjas profundos, salpicados de amarelo. De cheiros, do cheiro de uma casa de madeira antiga, limpa e pintada. Do cheiro da suavidade e leveza.
Levo ao colo sem qualquer esforço o corpo magro da minha avó. Transporto-a como se fosse uma criança pequena, amparada sobre o meu braço direito. Lembro-me de pensar que é mais leve que uma pena... com o seu espantoso cabelo negro e o seu rosto bondoso. Sorri. Olho para ela e é quase transparente. Está nua, a pele muito branca a fazer contraste com o cabelo e os olhos negros.
Subo um vão de escadas apertadas que vão ter a um sótão amplo, inundado de luz que as clarabóias do tecto deixam entrar. As paredes estão pintadas de cores fortes. Aponto-lhe as cores e as entradas de luz enquanto lhe explico o que "nós" fizemos. Estou entusiasmada e feliz, apesar de pensar que não sabia quem eramos "nós".
Percebo que estou a sonhar, começo a ficar confusa... olho para ela e ela olha-me nos olhos. Como é que uma aparencia tão fragil pode ter um olhar tão feliz, em paz, tão tranquilizador?.... Acabo por acordar, cheia de gratidão pelo presente que me deram.
Obrigada, Avó!
Por continuares a acompanhar os meus passos...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Uma visão diferente - Zeitgeist: Addendum - comentem ssf

Veio-me parar às mãos o link de um documentário que dá uma perspectiva diferente da nossa sociedade actual. O documentário tem cercade 2 horas.... mas são duas horas apenas do resto das nossas vidas. Vale a pena ver e quem sabe :) vale a pena mudar qualquer coisa.... Vai de encontro a muitos dos meus desconfortos com a sociedade e com a forma como vivemos. Não que faça segredo disso, mas por vezes sinto-me desconfortavel em dizer que não tenho conta bancaria, nem tenho qualquer empréstimo a bancos. Tem-me sido complicado explicar o porque. Aliás, até hoje nunca tinha parado realmente e admitido em consciencia o porque. Só não me agradava a ideia de estar mais dependente de um sistema em que não acredito. Que dá mais que provas que não funciona.
Sei que sou uma preveligiada... mas também sei que aprendi a não ser consumista. Quando preciso de alguma coisa compro-a logo que possa, mas compro com pés e cabeça, sem me deixar influenciar por modas, novidades ou porque é giro. A estética visual é algo a que dou alguma importancia, mas dou da mesma forma que dou importancia ao som e à diferença entre musica, ritmo e ruido. É uma questão pessoal que tento que seja influenciada o minimo possivel por modas... O segredo, que não é segredo nenhum, é SIMPLIFICAR!! E mais uma vez.... não pactuar. Nos entretantos vou sempre tentar minar o maximo que posso o sistema... seja passando informação, dando uma perspectiva diferente ou simplesmente dando um exemplo. Não serve de nada lamentarmo-nos... a tentar mudar alguma coisa e na impossibilidade do mundo mudar só porque nos lamentamos, mais vale começar por mudar e contestar os nossos pequenos universos. E não ter medo de mudar!
Irresponsabilidade não é não pactuar com o sistema! É ignorar as consequencias de continuar a pactuar com ele!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O resto é conversa...

É engraçado como a tolerancia, a compreensão e um sem numero de outras aprendizagens não me permitem pactuar com pseudo-esquemas familiares.... Acabou. Com tristeza, mas acabou... e tudo por causa de aparencias...
Estão a ver as velhinhas da Av. de Roma? Aquelas senhoras de cerca de 80 anos, pintadas e impecavelmente vestidas e arranjadas que ainda vão tomar o seu café ao antigo café Roma, hoje um estranhissimo McDonalds, ou à Mexicana ?
No fim de tarde e à espera que os meus pais chegassem a casa, começou a chover. Estava numa esplana coberta mesmo ao pé do cruzamento da Av de Roma com a João XXI e uma dessas extraordinárias senhoras, preparava-se para sair do café quando reparou que chovia. Lamenta-se 2 segundos e entra disparada no café outra vez. Quando finalmente sai, trás enfiado na cabeça um saco de plastico rasgado, branco com letras vermelhas do ACSantos (um supermercado de bairro de Lisboa). O senhor do café, já também com 84 anos, uma simpatia e que põe muita gente nova num chinelo em questões de eficiencia, vem atrás dela e comenta - Mas, vai sair assim?
- Ó senhor, o que interessa é não molhar a cabeça!! E o resto é conversa!
E o resto é conversa...
Pessoa do meu coração... o que interessa é não molhar a cabeça! E só espero.... se tenho que esperar alguma coisa.... só te desejo que quando reparares que o resto é conversa... que as aparencias, o que fica bem, o que se tem e deixa de ter, a profissão, a forma como se fala ou o que as outras pessoas vão dizer ou deixar de dizer, que tudo isso é conversa.... só te desejo que já não seja tarde de mais. Que não seja outra vez tarde de mais.... eu estou aqui.... mas deixei de pactuar com peneiras, hipocrisias e mentiras. Essa responsabilidade é apenas e somente tua.
Com Amor...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Aprender a ser feliz

Houve alguém que me escreveu, um dia, que alguma culpa eu deveria ter para a vida me sorrir...
A minha resposta foi obvia e imediata - Não é a vida que me sorri. Sou eu que sorrio à vida... sem culpa.
Sou feliz. Aprendi a ser feliz, sem pressa, sem ansiedade. A aceitar as minhas escolhas e a aceitar o que a vida me oferece e retira. Muita agua correu para me sentir assim e muita tinta escorreu para o aprender. Nunca pedi para ser feliz. Se pedi alguma coisa para este ano quase a terminar foi simplesmente alegria. Alegria... e todo o universo conspirou e se alinhou para mo conceder. Não momentos de felicidade, divertidos, alegres ou contentes. Não tinha sido isso que tinha pedido. Pedi alegria... e foram colocadas à minha frente pessoas e oportunidades que poderia ter deixado passar. Mas não deixei. Aproveitei cada uma delas para aprender a ser feliz. Não digo que a vida seja facil, não o é para ninguém. Mas é simples. Tão espantosamente simples que quase não dá para acreditar.
Treinei e aprendi a encantar-me com todas as pequenas coisas que me captam a atenção. Desde uma flor num canteiro, a uma pessoa especial, a um céu extraordinário, uma musica, um ritmo, um pombo que passa, uma imagem, um sorriso, um reflexo. E aprendi a acumular a sensação. Em vez de a perder e ir procurar outra sensação, aprendi a fazer perdurar cada uma delas e a soma-las. A partir de certo ponto torna-se exponencial. Deixam de se somar para se multiplicar.
Treinei e aprendi a aceitar que as pessoas não ficam nas nossas vidas mas sim no nosso coração. Que aparecem, surgem e ficam ou não, assim como eu fico ou não nas vidas delas... sem culpas ou sofrimentos. E só acontece assim se eu me deixar viver o que tenho a viver com elas. Se deixar de ter medo de magoar ou sair magoada. De nunca deixar passar a oportunidade de dizer e fazer o que realmente sinto. E de ficar calada quando devo ficar calada. De deixar que as pessoas se sintam livres para ir ou ficar... sem chantagem emocional nem vitimas. Sem projecções.
Aprendi a sentir-me livre. Mesmo com obrigações, rotinas, trabalho, horários. Aprendi que a liberdade é um conceito absolutamente relativo e que o unico sitio onde tenho que me sentir livre é no meu coração. Que para me sentir livre no meu coração só tenho que me deixar sentir livremente. Tenho que estar centrada em mim e no que é importante para mim. Não no meu umbigo... mas no que sou para além dos titulos, profissões, bens, ocupações e outros ões. Aprendi que isso é o que estou. E que posso mudar isso como mudo de estilo de roupa ou penteado. Sem culpa, mais uma vez. Sem apegos.
Aprendi que tudo muda, tudo passa, todas as dores, todas as pessoas, todas as paisagens. Que nada, neste mundo é eterno. Que nada é realmente importante. Que a unica diferença que faço é no meu proprio mundo pessoal. Que as unicas pessoas que vão recordar o que sou são aquelas a quem abrir o coração. Todas as outras irão apenas recordar o que fiz. E que já me recordam por viver e fazer o que sinto de coração.
Aprendi que o maior sofrimento é o que causamos a nós próprios. Quando nos enganamos, nos mentimos, quando criamos uma ilusão e a vivemos como se fosse realidade. Aprendi que prefiro viver um sonho, a viver a ilusão de uma realidade. Aprendi e treinei o criar e desfazer ilusões. Até perceber que o sofrimento e o mal que nos fazem ou fazemos são fruto de uma ilusão que nós próprios criamos ou em que nos deixamos acreditar.
Aprendi que a única responsabilidade é a de viver e por em pratica aquilo que sou. Que a única responsabilidade que tenho é deitar-me e sentir que fiz o que senti que tinha que fazer, disse o que senti que tinha de dizer. Treinei e aprendi a prestar contas apenas a mim própria. Sem me deixar influenciar pelos que me rodeiam, sem me deixar levar por pressões do que fica bem ou do que os outros querem ou esperam de mim... sem culpas. Treinei e aprendi a responsabilizar-me.
Treinei e aprendi a ser tolerante. Tolerante comigo e com os outros. Que não faz mal cometer um erro, não faz mal uma distracção, um caminho menos certo... sou humana e ainda estou a aprender. Mas que isso não pode servir como justificação ou desculpa. Serve apenas para me lembrar de que posso e sou capaz de fazer melhor. Aprendi assim a ser tolerante com os outros e a aceitar que toda a gente tem os seus caminhos a percorrer, toda a gente tem os seus tempos de aprender e que toda a gente aprende coisas diferentes. Que somos todos humanos e que andamos todos a aprender. E que é por isso que aprendemos uns com os outros.
Aprendi a deitar-me e adormecer com a sensação de fiz o melhor que sei e posso neste momento. E que se não acordar, amanhã... não me arrependo de nada. Que quando me lembro de viver cada momento como se fosse o primeiro e o ultimo, consigo sempre dizer o quanto gosto de uma pessoa, perdoar e aceitar-me a mim e aos outros, pedir ajuda quando preciso, dar a mão a quem precisa, abraçar com a alma e coração, não ficar zangada com ninguém, pedir desculpa quando erro, deixar-me encantar com o desconhecido, absorver cada gota de sabedoria e sorrir de cada vez que dobro uma esquina... sem saber o que lá vem. Consigo viver entre a inocencia e a responsabilidade.
Ser feliz não exige muito... exige tudo de nós mesmos. Exige que nos permitamos ser nós mesmos sem estar à espera que sejam os outros a mostrar-nos. Exige que cada fibra do nosso ser diga SIM a nós próprios e ao que nos rodeia.
E sim... por vezes sinto que vivo numa realidade paralela. Não me ocupo com as mesmas questões, passa-me ao lado a que preço está a gasolina, quem está no governo, quem ganhou o ultimo jogo, o que deu nas noticias, quem anda a disputar o que. Passam-me ao lado jogos de poder, publicidades, vip e afins. Passa-me ao lado grande parte das coisas que ocupam a maioria das pessoas. Sou incapaz de manter uma conversa de circunstancia e de falar no tempo.
Mas aprendi a não deixar passar ao lado o que a pessoa que está ao meu lado no metro está a sentir, a expressão dos seus olhos e o quanto precisa de ser compreendida. Aprendi a voltar para trás no meio da multidão e a ir por uma moeda e dar um dedo de conversa com alguém que está a pedir na rua. Aprendi a olhar para as pessoas e não para os cargos que ocupam. Aprendi a falar a unica linguagem que é universal e comum a todas as realidades paralelas... a linguagem do coração. Aquela que se fala através dos olhos, da atenção, de um toque, da compaixão, da empatia.
E aprendi que é nesse sonho, nessa realidade, nesse país onde se fala essa lingua que Sou Feliz.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Welcome to my world

"Prova Não Superada!"
Haja sentido de humor!...
Ó muito obrigadinha! Depois de um dia a alucinar pelas ruas de Lisboa ao som do "Caracol da Graça" e a fechar o chapéu de chuva quando toda a gente o abria, ainda estão à espera que supere "provas"??
Ora deixa cá ver... na terceira aula de hoje uma aluna comentou: "Está com um humor negro!"
Resposta: "Bem vinda ao meu sentido de humor!"
Também não posso estar à espera de ouvir outra coisa... prova não superada... e ainda se riem!
Não hei-de eu passar por maluquinha. A rir sozinha no metro em hora de ponta...
Pelo menos anda a ser divertido aturar-me a mim mesma!
E já agora... um muito obrigada pela aula de taichi de hoje! Foi a minha vez de pensar: "Olha, este está a alucinar!!"
Bem Vindos ao meu Mundo...

Sobre o Caminho

Nada
nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão a palavra
Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença
Não colecciones dejectos o teu destino és tu
Despe-te não há outro caminho
Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"

domingo, 30 de novembro de 2008

Encontros

Acredito que existe!
Mas na espera descobri que de quando em quando encontro alguém que é sempre unico e especial e a quem gosto de dar carinho, sem esperar receber, pois os carinhos que dou já são meus.
Com quem aprendo a caminhar lado a lado, descobrindo que o posso fazer com toda a gente.
A quem dou colo quando um consolo não chega sentindo-me também embalada nele.
A quem calo com um beijo, ensinando que o coração diz mais que qualquer palavra e que o reflexo que ve nos meus olhos é apenas o seu proprio.
Que lhe de sempre a confiança para não ter medo do seu proprio brilho.
Com quem sou sincera e plena pois de outra forma não me permito Viver.
Com quem aprendo a estar expontanea e com alegria assim como ao lado de toda a gente, vivendo como uma criança que sente e vive a intensidade e aceita naturalmente a impermanencia quase sem se lembrar que existe amanhã.
Que essa alegria é contagiante e pode ser celebrada até mesmo com lagrimas.
Que com tempo e Amor em acção conseguimos, se tentarmos, mostrar que a desilusão e a tristeza podem também ser purgadas com lagrimas e que quando finalmente secam fica o espaço para o Coração
De quem sou sempre amiga, mesmo quando o fogo da paixão esmoreçe e se apaga. E que nessas cinzas consigo descobrir brasas que partilho mostrando nesses momentos dificeis que tudo tem solução, que vale a pena sonhar e partilhar.
E que assim possamos estar ambos mais preparados para Amar em Verdade quem nos nossos caminhos se cruzar.
 
A dor está la... pela saudade de uma lembraça de unidade que não é daqui :)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Catch!

Mais um dia alucinante a começar às seis da manhã e prestes a terminar... feitas as contas nem sei como é que me ando a aguentar a dormir tão pouco.
Começo o dia com a minha inquilina a reclamar (outra vez) da barulheira do meu despertador (e com o qual não acordo - bendita Lumi por vires reclamar e acabares por me acordar à hora certa). Continuo com a rotina diária normal, apanho o autocarro, o metro, colégio e upss que se faz tarde para o trabalho. Seis horas e meia de formação, entre mudar de escolas, metro e os cerca de 5km que ando porque quero, fazem das quartas feiras o dia mais movimentado da semana. A tudo isto ainda junto uma aula de Taichi a meio do dia. É o meu momento para respirar fundo. Dispenso o almoço e lá vou eu retemperar forças a meio da semana.
Recomecei à cerca de 1 mes a fazer e tenho entrado muda e saido calada. O professor é excelente, a aula tem mais de meia hora de chikung e existe uma sintonia engraçada entre o que se faz na aula e o que necessito neste momento. Sem uma palavra, nunca tinha dito o meu nome, nem falado nada de especial com ninguém... até hoje... :) Catch!!
Alguém teve uma surpresa... eheheh
Lá se foi o anonimato. É o que dá fazer os trabalhos de casa...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Caixa de Pandora

Abri uma caixa de Pandora na minha vida... e dela saltam a toda a velocidade uma quantidade de acontecimentos que não consigo classificar como bons ou maus. Pregam-me rasteiras e nem sequer vacilo... limito-me a olhar e a ver o que está a acontecer com a certeza que tem uma importancia relativa e que não me afecta. Que está tudo bem. E quase inacreditavelmente agradeço.
Logo de seguida permitem-me um momento de mimo... seja um abraço inesperado, uma palavra de reconhecimento, um presente. E volto a olhar e a não vacilar. Está tudo bem. E volto a agradecer.
Só me lembro de ter estado assim há alguns anos. Com esta certeza absoluta que tudo vai correr bem e que, apesar de não estar a ver o quadro todo, saber que o que vem, vem por bem.
É quase um deja vú. E não é. É quase estar anestesiada. Mas não é.
É sentir-me viva, atenta, cá. É saber que, apesar de ter de tomar acções em relação a alguns dos acontecimentos, estes só me surgem porque estou no sitio certo à hora certa. E que vou para onde tenho de ir. Momento a momento. Presente a presente.
E pelo meio ouço, vejo e sou presenteada com novos despertares, pessoas, musicas, cores e lugares. Os males e fantasmas passam por mim, mas apenas seguro a esperança.
É ter a prova de que as verdadeiras mudanças começam dentro de mim. Para, devagar e calmamente, se espalharem pelos outros sem qualquer esforço da minha parte. Só porque me limito a estar um pouco mais daquilo que sou. Só por estar e aceitar...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A Dançar Sozinha

No sabado passado estive com o meu filho num festival de musica tradicional, em Corroios. Entre concertos e workshops, a dança não faltou... De repasseados alucinantes e circulos contagiantes a pauliteiros de miranda, houve de tudo um pouco.
Estive num workshop de uma dança tradicional sueca, com raizes lapónias, em que a dança é a pares. O homem vai ligeiramente atrás e de lado da mulher e ambos têm as mãos pousadas nas mãos do outro, uma mão virada para cima e outra para baixo. A dança é belissima com o homem a conduzir a mulher de um lado para o outro, podendo rodar, passar a mulher à sua frente, rodarem sobre si proprios... As mão nunca se separam... É de uma beleza e sensualidade extraordinária. Para terem noção do espectaculo, foi dançada ao som de Hedningarna. O povo da Lapónia tem origem genética na Peninsula Ibérica e norte de Africa. E a dança e a musica, apesar da distancia, não escondem as suas origens... absolutamente pagãs.
Estavamos a dançar, com os pares a formarem um círculo, o Miguel a correr dentro e fora dele e um homem a fotografar a aula. Às páginas tantas o Miguel faz asneira e eu deixo o par e o círculo para ir remediar a situação. Quando volto já o meu par tinha sido ocupado :)
Não tenho par e é uma aula... mas conheço bem a dança e a musica, apetece-me mesmo dançar e o instrutor já me conhece o suficiente para me permitir estes pequenos devaneios... entro no círculo de pares sozinha com as mãos colocadas sobre as mãos de um par imaginário, fecho os olhos e começo a dançar e a rodopiar ao som da musica... leve, solta, a sorrir... um daqueles momentos únicos...
Finalmente paro, saio da dança e fico de fora a ve-los dançar. É um deleite ver os homens a redescobrirem o prazer de guiar a parceira de dança e as mulheres a deixarem-se conduzir.
O homem que estava a fotografar vem ter comigo num misto de ansiedade, expectativa e alegria e pergunta-me - É casada?
Começo-me a rir por dentro, sorrio e digo não, enquanto me pergunto: mas o que é que se passa aqui?
- Então é solteira? pergunta com os olhos a brilhar.
- Sou.
- Desculpe, mas esta semana resolvi fazer um trabalho sobre mães solteiras e quando a vi a dançar sozinha percebi! - disse ele - Percebi que é continuar a dançar sozinha!
Olhei para ele, parei de pensar e relembrei o que senti enquanto dançava e sentia o Miguel a brincar por perto... o meu coração cresceu e aqueceu... era mesmo isso.
É mesmo isso, respondi a sorrir, é mesmo continuar a dançar sozinha...
O que não disse, o que não sei se viu foi a tristeza quente por detrás do sorriso, a solitude e às vezes a solidão, o cansaço, a coragem que é preciso e a força que nem sei de onde vem para continuar a dançar... em vez de andar...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Dharma

Hoje, deito-me com saudades do tempo
Em que a consciencia não me pedia para agir.
Quando existia apenas revolta
E a sensação de nada poder fazer ao meu redor.
Hoje sei que posso fazer mais que isso.
Que tenho de fazer mais que isso.
E, apesar da saudade, deito-me
Com um sorriso tenue nos lábios
E brilho no olhar. Deito-me saudosa,
Faço uma prece: que mergulhe
Nessas profundezas do sono
Que me trazem novas memórias,
Antigos saberes e regresse,
Pela manhã, com o coração
Cheio de coragem para Ser.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A Mentira Está em Ti

"Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"
"Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?"
"Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram."
"Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema X" Heterónimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Cura de Seres quem És

Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.
Ricardo Reis,
in "Odes" Heterónimo de Fernando Pessoa

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tarot

Esta foi a resposta a um email de uma irmã de coração em relação ao Tarot.
Quando o acabei de escrever percebi que ia ter de colocar nalgum sitio visivel. Pelo conteudo e por mim...
Para quem o consiga ler até ao fim dou, desde já, os parabéns pela paciencia! ;)
"Não sei se te apercebeste que eu raramente deito cartas. Houve um momento da minha vida que o fazia mais, neste momento só o faço em caso de necessidade e nunca para mim.
As consultas que dou são uma chatice... quando as faço a amigos as coisas correm menos mal e mesmo assim nem imaginas a quantidade de vezes que recuso e que lhes pergunto se eles já não sabem a resposta, logo para que que querem que lhes dei-te cartas. As outras pessoas que me trazem, veem na condição de estarem mais que avisadas que não faço previsões, que não respondo a qualquer tipo de pergunta que não tenha um contexto terapeutico e que nem vale a pena virem, se vierem só por curiosidade. Ou precisam mesmo de ajuda ou então nem vale a pena. E isto vale para toda a gente. A pessoa tem de estar disponivel para ouvir e tem de ter uma semente a germinar de vontade de mudar. Se não, nem veem.
Explico sempre, mas sempre que as minhas consultas não são faceis. E que o que acedo e o que digo só serve para a pessoa deixar de focar o exterior e começar a focar e a perceber qual a sua responsabilidade na situação exterior. Digo sempre que até lhes posso dar respostas, mas estas só servem para se conhecerem melhor e para tomarem consciencia das implicações dos seus próprios actos. E que no fundo cada pessoa já sabe o que lhe vou dizer, pode é ainda não ter tomado consciencia disso ou então estar a precisar de ouvir de fora. Ou seja... que a resolução e resposta às suas perguntas dependem do trabalho que as pessoas fazem e não de mim.
Depois, antes de cada consulta, faço questão de desmistificar o que é isso do tarot, para mim. E como não tenho a certeza se já o fiz contigo vou faze-lo por escrito: O tarot é um instrumento da minha intuição. Como é o pendulo e a meditação. Utilizo-os de forma diferente, mas são apenas ferramentas. São instrumentos, da intuição. E nada mais. E intuição toda a gente a tem. Toda a gente é capaz de utilizar um baralho ou um pendulo. Pode é não estar para isso ou não sentir esse apelo.
Explico sempre o que é a intuição, para mim. Que é um caminho que temos de manter limpo e cuidado, e que nos permite aceder a uma biblioteca extraordinária, a essa parte de nós que sabe que somos todos um e que estamos todos ligados e interligados energética e espiritualmente uns aos outros. Que quando acedo aos registos delas, no fundo estou a aceder aos meus tb. E que qq pessoa, se limpar o seu caminho interior, tb lá consegue chegar facilmente. Essa biblioteca é relativamente complexa e não se pode ter acesso a todos os livros e prateleiras. Se trabalharmos e nos esforçarmos como pessoas para elevar e melhorar a nossa energia conseguimos aceder a prateleiras e estantes progressivamente mais altas, mas que também requerem uma maior responsabilidade e cuidado de manuseamento.
Acontece que nem sempre percebemos o que está escrito nos livros, ou então estão tão confusos que é dificil perceber o fio à meada. O que o tarot faz é servir de tradutor. Cada uma das cartas funciona como uma letra do alfabeto. E, como na escrita, se pusermos as as letras em determinadas ordem elas escrevem coisas diferentes, palavras diferentes. E até mesmo as palavras mudam de significado em frases e contextos diferentes. O tarot é apenas o tradutor que aprendi a usar. Para isso tive (e ainda tenho) de estudar o significado de cada carta, dos simbolos dentro da carta e de me habituar a reconhecer a sua frequencia energética.
O reconhecimento da frequencia energética é quase sempre feito de forma inconsciente.
Pessoalmente, necessito de um ambiente seguro, onde me sinta protegida e sem barreiras, para fazer lançamentos. E preciso de algum tipo de ritual inicial para me ajudar a entrar num estado alterado de consciencia onde me transpessoalise (nem sei se é assim que se escreve). Ou seja, em que consiga chegar mais perto desse sitio, desse momento em que eu e a pessoa que tenho à minha frente sejamos a mesma, mas com uma perspectiva diferente de mim ou da dela. Onde esteja fora de mim e dela a observar o que se passa. A aceder ao paragrafo do livro da sua vida, relativamente à sua questão actual. Enquanto me permito que isso aconteça as minhas mãos estão a reconhecer o baralho, a sua frequencia energética e a colocar as cartas pela ordem em que a minha parte "de cá" as consiga interpretar.
Faz parte do meu ritual agradecer aos meus guias espirituais a sua presença e ajuda para me ajudarem a manter-me neutra e focada, de forma a que o lançamento contribua para o crecimento espiritual da pessoa em questão e para o meu. E agradeço a presença dos guias da pessoa, de forma a que ela esteja receptiva e a ajudem no seu crescimento espiritual.
E por fim, antes, durante e depois dou sugestões de ferramentas que a pessoa pode utilizar para lidar com este ou aquele bloqueio, dependendo do bloqueio e da pessoa. Vai de yoga a Tai Chi, de livros de exercicios de auto-estima a livros sobre espiritualidade, de meditação a idas à praia e banhos de mar, de exercicios respiratórios a abraçar arvores.... todas as minhas e todas as que me passam, mesmo que não as utilize. Sim, e do que os meus guias sugerem. E eles são os primeiros a dizerem-me para ensinar as pessoas a pescar.Já fui pescar pelas pessoas e não gostei nada da sensação de dependencia nem da imagem com que as pessoas ficavam de mim. E tinha muito mais consultas na altura. Neste momento ensino a pescar... e tenho muito menos consultas e felizmente a maior parte das pessoas percebe que as minhas respostas são simples, mas não são faceis. E como quem não gosta não come, quem vinha à espera de palhaçada não volta. Quem vem em busca de si mesmo normalmente não volta pelo tarot, mas vai mais cheia. E quando volta foi porque perdeu a perspectiva durante algum tempo e precisa de ajuda para se voltar a focar. São poucos... mas enchem-me a alma :)
Eu gosto de brincar com a estórias das bruxinhas :) mas sei muito bem qual é o meu caminho, querida irmã. Às vezes distraio-me... ou então tento ver na escuridão de outro, só pela curiosidade. Mas enquanto estico o nariz para cheirar o que por lá anda estou atenta. E quando não estou levo nas orelhas (e é nestes momentos em que tenho de agradecer ter guias exigentes mas pacientes e agradecer a mim mesma por lhes ir dando ouvidos, mesmo que nem sempre perceba o que me digam).
Não sei se te tranquilizei. Para mim foi muito importante ter conseguido por palavras escritas qual a minha intenção ao lançar cartas de tarot. E de ter simplificado todo o processo. Espero que te tenha desmistificado o "Tarot" :) Já me disseram muita vez que eu não devia explicar o significado das cartas, que não devia desmistificar, blablabla.
Eu não sou hermética, não tenho segredos. Se me perguntam respondo. Quando não posso responder digo que não posso. Quando não sei, digo que não sei...
O tarot, o reiki, o pendulo, o yoga, o taichi, a meditação, os incensos e as velas e todas as outras ferramentas que existem para nos ajudar no crescimento pessoal e espiritual têm de ser desmistificadas. Em todas elas o que conta é, como tu disseste, a intenção com que se utilizam. Os segredos à volta destas e de outras ferramentas só têm conseguido dar "mau nome" à necessidade dos seres humanos de evoluirem espiritualmente...
Beijos muitos
Cristina"

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Eu sou Tu e Tu és Eu

Eu sou Tu... Tu és Eu
Este mantra foi-me dado à tanto tempo que já nem me lembrava dele.
Relembra-me como não estamos separados e que essa separação é uma ilusão. Que estamos e somos interligados, como uma matriz de energia, em que cada acção tem uma consequencia e que se dilata, como uma onda estranha em todas as direcções. Lenta, poderosa, profunda, dando-nos a hipotese de escolha entre a ilusão de escolha e o que já não é possível escolher. Porque já é. Onde a única alteração é apenas energética, colocando-nos numa oitava diferente. Como se fosse possivel descrever o que visualizo...
Eu sou Tu e Tu és Eu
Este mantra é tão poderoso quando integrado que até balanço. Serve-me para sintonizar a compaixão, para o perdão, para não me perder em reacções inconsequentes e duvidas persistentes. Para a aceitação, para a perda da ilusão. Para me lembrar quem sou. Serve-me.
E é rodeada de densas trevas que surge o mais brilhante dos pontos luminosos.
Eu sou Tu e Tu és Eu
E assim começa...

sábado, 1 de novembro de 2008

O Calor do Inverno

O Inverno chegou...
E com ele o cheiro do frio, os casacos quentes, as luvas de lã e os cachecóis.
A vontade de estar em casa e as idas ao cinema.
O fogão a lenha da minha mãe e o pão caseiro.
O cheiro das lareiras e as mantas no sofá.
O chá quente e o prazer de entrar em sitios quentes.
A geada de manhã e o gelo nos vidros do carro.
O bater da chuva nas janelas.
As panquecas e castanhas quentinhas.
As luzes de Natal e os passeios na baixa.
Os encontros nos salões de chá.
O calor das lareiras e o cheiro da lenha.
Os croissants com chocolate quente no Chiado.
Os serões em casa de amigos com o gosto do brandymel.
As conversas infindáveis e os baldes de café.
O saco de agua quente e os pigamas de flanela.
Os serões em minha casa a lançar cartas.
Os duches a escaldar só pelo prazer de aquecer.
O cheiro das castanhas assadas pelas ruas de Lisboa.
A vontade e disponibilidade para ler.
O peso dos cobertores na cama.
Os momentos de introspecção e de escrita.
Meditar encostada ao aquecedor e enrolada numa manta.
Os passeios a praias desertas.
Velas pela casa e o cheiro do incenso.
O leite quente antes de me deitar.
Acordar com o meu filho na cama porque tinha frio.
Ouvir as trovoadas.
Soprar o ar só para ver a condensação da respiração.
Escrever nas janelas embaciadas.
As idas ao Guincho para ver o mar.
As viagens à terra e o cheiro do queijo e dos enchidos.
Os jantares em familia.
O cheiro a torradas e o sabor da manteiga derretida.
O cheiro do frio e da chuva
As luzes nas casas e a vida dentro delas.
O nevoeiro e as paisagens fantasmagóricas.
As arvores despidas e as folhas no chão.
O céu escuro e as manhãs frias de sol.
O cheiro do frio e tudo o que trás com ele.
O Inverno chegou mesmo...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Respeito

E as peças do puzle vão-se encaixando...
Percebi, com certa tristeza, pela percepção e confrontação com situações que me mostraram outras formas de estar que não a minha, que o respeito por mim própria é, acima de tudo, o meu maior tesouro. Gostando de pessoas como gosto, deixando-me encantar como me encanto pelas pessoas que vou conhecendo, isto foi um rude golpe... Foi necessário várias formas de agressão dissimulada (umas mais, outras menos) para o perceber.
Os sonhos comandam mesmo a minha vida e quando decidi viver com os outros, tinha e ainda tenho tendencia para os ver pelos meus olhos. De projectar-me no que vejo. Esqueci-me que fazem o mesmo comigo... e sentir na pele essas projecções obrigou-me e vai obrigar-me durante algum tempo, a reavaliar a forma como quero estar neste mundo. Como preciso de estar com os outros sem me desrespeitar. Porque responder na mesma moeda é um desrespeito por mim própria. Seja em relação ao despeito, à inveja, aos joguinhos, à indiferença. Ceder ao exterior dessa forma é abaixo do pior que posso fazer. Essas respostas não fazem parte daquilo que sou. Tendo consciencia que posso sempre tentar e conseguir fazer melhor, que podemos sempre, se tentarmos, conseguir fazer o melhor de nós, não me faz sentido não continuar a viver com os outros pelo meu melhor. É claro que sou dual e que tenho acções egoistas e sou agressiva e um sem numero de caracteristicas que utilizo desapropriadamente muitas vezes. Mas recuso-me a reagir às acções dos outros. Sei fazer melhor que isso.
A questão que me coloco é: como é que se consegue ser indiferente, sem ignorar? Como é que se ignora sem se ser indiferente?
A cada dia que passa acredito e respeito mais aquilo que sou. Mas como é que ignoro ou sou indiferente às atitudes dos outros, sem deixar de acreditar e respeitar aquilo que são?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A olhar o mar

Que tempos são estes? Li algures...
Em que se compram familias virtuais? Ouvi algures...
Que tempos são estes, em que alguém me olha com desdém e afirma que na minha idade era muito mais bonita? Que tristeza é esta, a de não saber como envelhecer?
Todos nós... só queremos ser ouvidos, escutados, partilhados. Queremos tornar reais o que vivemos, pelo simples acto de o partilhar com alguém.
Deus andou a brincar às construções e depois não nos deu o livro de instruções... De nós, dos outros.
Partilhamos egoisticamente, relacionamo-nos para nos lembrarmos que estamos vivos, que algo aconteceu no estranho intervalo de tempo entre o nascimento e a morte. Tentamos que alguém nos imortalize e nos faça sentir que não é, não foi em vão, os nossos sofrimentos, conquistas, tristezas, alegrias. Que não sofremos sem razão.
Aqui, neste local previlegiado, observo os milhões de grãos de areia e penso: e se cada um deles ganhasse vida própria e começasse a querer? Mas que tempo é este?
Para que servem todas as minhas pequenas decisões? Tempos houve em que, assolada por estas questões, quase desisti de mim mesma. Sentia-me esmagada e insignificante. De que serve uma uma gota, um grão de areia?
O areial, pelo qual passeio os meus pés descalços não existiria sem cada um deles. Mas... para que o desdém? A resistencia à insignificancia?
É curioso como aprendi a aceitar os meus pequenos quereres, mas continuo a interrogar-me. As questões continuam basicamente as mesmas. Com o passar dos anos, só aprendi a não me deixar esmagar e afundar por elas.
Que desperdicio, quando os grãos de areia se recusam a ser o que são e tentam ganhar poder no areial. Que estranho deve ser olhar para nós, de fora. E se, de repente, uma unha do meu dedo do pé quisesse ganhar poder sobre o dedo? O ridiculo da situação está lá e chamar-se-ia micose. E seria tratada. E porque é que?... E se isso acontece connosco, quem é que trata, como é que sucede? E para que? Este é o mês das interrogações?
Ouço-me e não dou ouvidos à resposta.
Será que me falta perceber, como o meu filho percebeu tão bem, que a piada está mesmo em questionar?
Um destes dias peço para ser diagnosticada! Crise existencial, com episódios de repetição.
Parece que, de vez em quando ligo a televisão e fico a olhar...há episódios novos, passam continuam a passar muitas repetições. Disfarçadas. Actores novos, cenário remodelado. O desinteresse acumula-se e, finalmente mudo de canal. Ou levanto-me e vou fazer outra coisa.
E ali fiquei a olhar o mar, como a olhar para mim própria, a ver as gaivotas na praia. A maravilhar-me com os tons dourados na areia da maré baixa.
As questões mudaram. Seria mentira se dissesse que não mudaram. E a ansiedade passou.
Cada grão de areia é uma surpresa.... mas não cabem na minha mão. Reservo-me alguns e guardo-os no bolso, para futura observação. Levanto os olhos para o horizonte e um homem colocou-se a contra luz, nos tons dourados de fim de tarde e, de olhos fechados, faz uma oração.
E o mar continua a rugir. A vida continua a passar.
É bom sentir a areia com os pés. É bom sentir os pés na areia.
Um amigo aproxima-se e falo-lhe do que penso e escrevo... Diz-me, a olhar para o mar: "Que grande esquerda que está a entrar!" Sorrio, agradecida por ter algumas pessoas que me fazem colocar o botão do volume a meio. Olho para o mar e sou incapaz de ver a dita esquerda... sorrio outra vez. Continuo a ouvir o rugir do mar e com o olhar a fugir para o horizonte, para o fim do mar.
Fala-me de si e das suas questões... olho para ele e suspiro. Desvio os olhos para o horizonte e questiono...
Que estranho tempo é este que recusa o obvio por detrás do aparente? Em que a força e a luta de poder é valorizada e um abraço não o é?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Ó Mãe, porquê??

Hoje a caminho de casa, estava eu e o Miguel no carro enfiados no meio do transito, começou a chover. Ligo os limpa-parabrisas.
E começa o Miguel:
- Mãe, o que é isso - apontando para o vai e vem
- É o limpa-parabrisa, amor.
- Porquê, mãe? - percebi imediatamente que ia ter mais uma daquelas sessões de perguntas em que qualquer resposta serve, mas às quais me dou o trabalho de responder sempre com a mesma seriedade educativa, psudopedagógica e às vezes já quase a arrancar os cabelos.
- Então, Miguel, porque começou a chover e se não os ligo neste botão, não consigo ver nada.
- Porquê, mãe?
- Porque se não vejo, não consigo conduzir e depois não chegamos a casa.
Faz-se uma pausa de silêncio.... e eu a pensar, mas o que vem ai agora?
- Ó mãe, porque é que chove?
Pronto, a seguir vai-me perguntar de onde é que os bebés veêm, pensei com um sorriso!
- Miguel, lembras-te do mar e dos rios? Então, o mar e os rios são de agua e quando está muito calor a agua prefere ir para as nuvens. Quando já há muita agua nas nuvens, começa a chover, que é quando a água quer voltar para o mar e para os rios.
A resposta dele :D
- Porquê? Porquê? Porquê? Porquê?... Porquê? Porquê? Porquê? Porquê?... Mas Porquê????
A cantarolar a musica da rubrica do Nuno Markl, da Antena3
Percebi nesse momento que o meu filhote, de três anos e meio, tinha plena consciencia que a piada é mesmo perguntar e que eu até lhe podia dizer que o prato da comida se tinha atirado da janela pelos seus proprios pés e tinha sido apanhado pela cegonha, que na viagem de volta da Nigéria, resolveu dar uma voltinha pelo Tejo e que no fim e por culpa da teoria do caos, o bater de asas dos pés do prato tinham feito a chuva....

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Para ti...

É raro, muito raro
Receber tamanha benção.
Surpresa trespassou o meu olhar
E uma alegria de gratidão percorreu o meu ser.
Não pelas palavras, que em si,
É muito raro dizerem algo,
Mas por quem as disse.
Surpresa e espanto que ainda hoje sinto.
Tanto lutei para perceber o que sou,
Um caminho infinito que ainda hoje perdura.
É tão facil para mim e tão raro encontrar-lo.
Por o pensares, por o teres dito
Um sorriso te dou.
Não é muito e, para muitos
Não é mesmo nada. Mas é sentido,
Com aquele amor de quem
Se vê reflectido nos olhos dos outros.
Pois, vejo nos teus, o mesmo
Sentir e estar que sinto nos meus.
Um sorriso e um beijo,
Se o permitires, é o que tenho
E o que te dou.
9 de Dezembro de 2003

sábado, 18 de outubro de 2008

Morre Lentamente

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.
Martha Medeiros

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Quereres

Apetecia-me querer
Ser normal
Querer ter um lar,
Uma familia
Normal.
Apetecia-me defender
Essa ideia com unhas e dentes.
Gostava de conseguir
Satisfazer-me
Com isso, sentir-me
Completa e sossegada.
Queria querer essa paz
Para mim...
Em vez disso, tenho
Esta fome de não querer.
De estar onde estou e fazer
O que faço.
Mas gostava de querer
Ser diferente.
Diferente de mim
Sossegada, com tudo
Certo, correcto,
Arrumado e encaixotado.
Não consigo querer
Mas queria.
Queria querer ser
Assim, como os outros
Como a outra mim.
Queria querer
Mas não quero.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ser

Sou
Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.
Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"

domingo, 5 de outubro de 2008

Sexta à noite2 - (In)Segurança Pública???

Sigo viagem e lembro-me que existem uma bombas antes de chegar ao centro sul e que um café seria mais que em vindo. A viagem até casa ainda leva alguns minutos e o café deixa-me dormir perfeitamente. Só me deixa um pouco mais desperta.
Chego à bomba, paro o carro e, como faço sempre a estas horas da noite, vejo bem quem é que está nas bombas e na fila. Faço isto automaticamente. Já percebi que o faço com a atitude de "tu viste-me, eu vi-te, por isso vamos lá a portarmos-nos bem, porque se acontecer alguma coisa, estou atenta e capaz de te identificar". Desde que me lembro de andar sozinha em Lisboa que o faço e talvez seja um reflexo das artes marciais. Mas a verdade é que já evitei bastantes dissabores à custa desta postura.
Estava um homem fora de um carro branco, ao pé de uma das bombas, outro a subir a rua e o empregado da loja a falar ao telemóvel. Esta é uma daquelas conjunturas que nos fazem hesitar. Reparo que o homem que está fora do carro está a olhar para o fundo da rua, com um ar agressivo e dominante (muito mau sinal!) e que o empregado está a olhar para ele enquanto fala (ainda pior!). Buzino, faço sinal ao empregado para saber se é seguro sair do carro e este responde-me com um ok. Ok é ok, penso... saio do carro, de olho no homenzinho com atitude de rufia e vou a dirigir-me para a janela da loja, quando o homem que está cá fora se dirige a nós. Mau! - penso, o que é que se passa aqui?
- Está a ligar para o 112?, pergunta ele ao empregado ao que este responde que sim enquanto me afasto ligeiramente. Pergunto directamente ao homem o que é que se passava. Nada de especial, foi só um rapaz espancado ali em baixo! - como se fosse a coisa mais natural do mundo - acho que se meteu com a mulher de outro e levou porrada!
Eu devo ser de outro planeta, com certeza. Para além de ter ficado absolutamente chocada com a testosterona inerente ao facto de ser absolutamente natural andar à pancada, ainda fiquei mais com os restantes acontecimentos:
- Mas onde é que ele está?, pergunto. Ali em baixo!, diz ele.
Ali em baixo é, na avenida principal de Almada, ou na estrada (outra vez???) ou em cima dos carris do metro à superfície.
- Mas onde?, pergunto, na estrada?
- Acho que não... deixe ver, acho que não... não, não está na estrada, está na parte do meio.
- Mas ele não se levanta?
- Não, está ali estendido, ao que aponta o dedo e finalmente consigo perceber um vulto deitado no chão, sem se mexer.
Pronto, piloto automático ligado e largo a correr na direcção do rapaz... piloto automático a toda a velocidade. Nem me consigo parar quando estou assim. É preciso, vou... sem pensar se é seguro, se o que é, se o que não é...
Chego ao pé do rapaz, sigo o protocolo, que se me perguntarem a frio nem sei exactamente qual é ou preciso de pensar antes de responder. Sinais vitais, consciente ou não, ferimentos visíveis, desapertar roupa, posição lateral de segurança e depois conversa e mimo. O 112 estaria a chegar. O rapaz estava consciente, confuso, com alterações de visão, com dois edemas enormes na região frontal e parietal, mas ainda consegui saber o nome e se tinha bebido, metido alguma droga, antecedentes, etc, etc, etc
Entretanto reparo que estaciona mais um carro branco virado para nós. E eu ali sozinha com o rapaz! Pronto! É desta que vou mesmo ser assaltada! - ao ver três homens e uma mulher saírem do carro com ar suspeito e agressivo. Vou falando com o rapaz, enquanto tento perceber o que os outros estavam a fazer. É que tinham mesmo mau aspecto!! Quando de repente um deles saca de uma sirene azul e a põe em cima do capot.............
Nem sei que diga, que pense, que sinta. Para mim é assustador perceber que esses quatro e o outro que estava inicialmente na bomba são policias. Policias à paisana, supostamente para nos proteger... ou impor a ordem??? A sério que este é para mim um mistério da natureza humana!
Aproximam-se, olham para nós e começam a conversar entre si, mas em voz alta. A minha resposta a isso foi um boa noite alto e bom som e a passar-me completamente. Ai o meu mau feitio a vir ao de cima e eu a começar a ferver....
A conversa entre eles:
-Então o que é que se passou?
- Então, pá, acho que este gajo estava a meter-se com a mulher doutro e o outro dei-lhe porrada! Ia a passar de carro e vi!
- Quem era o outro? Era um gajo de verde escuro que ia a subir a rua?
Ora, corrijam-me se estiver enganada: eu sou um bocado míope, mas de noite e com luzes amarelas o verde escuro passa por preto!
- Verde?? Como é que se sabe que era verde ou azul? De noite não dá para destingir!! - foi a minha resposta com um tom cada vez mais irritado. Aqueles meninos nem sequer se mexeram para ir atrás do outro, não me perguntaram se precisava de alguma coisa ou como é que estava o rapaz.
- Epa! Já te disse para não dizeres essas coisas, pá! - foi a resposta de um colega ao mesmo tempo que lhe dava um safanão no braço.
Até posso estar a ser facciosa, a contar isto da minha perspectiva irritada, mas ainda sei quando é que ouço vozes ou pessoas a falarem umas com as outras. E aquela conversa estava a enervar-me de uma forma...
Continuaram sem se mexer, apenas se afastaram mais um pouco. A mulher e a sua ainda bendita sensibilidade feminina foi a única que se deu ao trabalho de vir realmente ao pé de mim perguntar como é que ele estava, depois da minha explosão.
A conversa entre os outros continuava e resolvi desligar até me chegar aos ouvidos a seguinte frase:
- Também, estava a meter-se com a mulher do outro!!
Ó minha noissa senhoira!!!! Estes são policias???? Que não dizem boa noite, não se preocupam em saber como é que as pessoas estão, se é preciso ajuda, não fazem o trabalho deles pois ninguém foi procurar o agressor e ainda assumem um "acho que" como um facto!!!!!!! E num tom de: estava mesmo a ver!!!!!
A esta altura já estava a falar com o rapaz e lhe ia tapando os ouvidos quando eu não estava falar. O rapaz era perfeitamente normal, 28 anos, bonito, cabelo comprido e limpo, botas da tropa. Podia ser qualquer pessoa que conheço, podia ser um amigo meu, podia ser meu irmão, podia ser eu, podia ser o meu filho daqui a alguns anos. Podia ser qualquer pessoa. Mesmo que não fosse bonito, que tivesse o cabelo ou a roupa suja, que cheirasse mal, que estivesse bêbado ou pedrado - é uma pessoa!! E ninguém merece ser espancado! Ninguém merece ficar com um traumatismo craniano por causa de nada, muito menos por amor ou paixão ou tesão ou o que quer que seja!!! Ninguém merece! Nem mesmo aqueles mentecaptos que andam a brincar ao serviço à comunidade e segurança publica!
Chega a ambulância e um deles vira-se para mim, mesmo antes dos bombeiros chegarem e diz-me: "Pronto, agora já se pode ir embora e deixa-los fazer o trabalho deles".......................... ignorei e voltei a respirar fundo - ignorantes do raio que o parta! Nunca por nunca se abandona um caso de 1ºs socorros sem informar os bombeiros do que se passou até aí. Chegam finalmente os bombeiro, passo a informação e pergunto ao rapaz se consegue levantar-se. Ele levanta-se com ajuda e segue para a ambulância apoiado.
Nem queria olhar para a cara dos policias, de tão zangada estava. Mas não consegui. Agora imaginem-me a apontar o dedo ao nariz deles: "Deviam ter vergonha!! Tamanha insensibilidade, como é que é possível? Que vergonha!" Viro costas e sigo caminho, completamente passada - foi uma sorte ser bem educada e o meu pai não tolerar palavrões, senão a minha linguagem não teria sido propriamente esta e eu ainda ia parar à esquadra por desrespeito à autoridade...
A única coisa que me deixou a pensar que talvez não tivesse sido em vão, foi um deles vir atrás de mim e perguntar-me: "Mas porque é que diz isso?"
- Se não se apercebe da sua insensibilidade, como é que quer que lhe explique?? - talvez não tenha sido a minha frase mais brilhante, mas foi a única que me saiu da boca. E o resto, tudo o que lhes poderia ter dito, não serviria para nada.
Enfiei-me no carro, tranquei as portas e pensei - Não vou ser capaz de dormir nada...

Sexta à noite1 - Almada velha

Mais uma sexta feira, tão absolutamente normal como qualquer outra...
Não fosse ter sido um dia atípico, repleto de acontecimentos surreais isto seria verdade: uma sexta como qualquer outra. Quando cheguei a casa, já madrugada de sábado não conseguia dormir. Precisei de uma hora para conseguir assimilar tudo o que se passou durante o dia.
De todos os episódios desse dia que vieram preencher um pouco mais a novela de cordel que é a minha vida destaco um, que é mais um dois ou três em um. Foi então assim:
Fui dançar a Almada a um bar à beira rio que costuma organizar concertos/bailes de musica tradicional. E como qualquer baile acaba por se prolongar até às 3h da manhã. Acontece que fui sozinha e vim sozinha de carro. E sair de um bar no Ginjal, subir as escadas até à cidade velha, encontrar o carro e sair de Almada pode ser intimidante. E é intimidante. A cidade está deserta e as poucas pessoas que circulam a essa hora, regra geral, ou estão bêbados ou à procura de problemas. Um pouco como o Bairro Alto a essas horas, mas mais silencioso e "pesado". Talvez seja apenas mais desconhecido, para mim.
Vou a subir as escadas quando encontro dois cães confortavelmente deitados, que me começam a rosnar... não costumo ter medo de cães, mas ali não havia como me desviar ou não os incomodar. Estavam no caminho e precisava de passar. E eles nem se mexiam nem paravam de rosnar. 3h da manhã - estou feita! Não vou dar a volta a pé, que não sou assim tão louca, mas não quero levar uma trinca de cães mal dispostos. Além de que para mal disposta estou cá eu... Acabo por me sentar a alguns degraus de distancia e começo a explicar-lhes que preciso mesmo de passar. Peço-lhes desculpa por os ter acordado, mas preciso mesmo de passar e não quero voltar para trás. E não é que os sacanas acabaram mesmo por se desviar. Agradeci-lhes e passo com a mala do lado deles - não fosse o diabo tece-las! Ufa! Chego lá acima (aquela subida é linda, mas óptima para emboscadas e não me importo de andar sozinha à noite, mas tenho sempre os olhos e ouvidos bem atentos). Como estava a contar, chego lá acima com a sensação de nada a declarar e primeira etapa cumprida. Vou até ao carro, cuidadosamente, entro no carro, tranco imediatamente as portas. Ok segura e pronta para voltar para casa e dormir pelo menos 5 horas.
Almada velha é repleta de ruelas de sentido único e bem estreitas. É linda, mas complicada para a minha banheira de quatro rodas. Assim, tenho de dar a volta ao quarteirão (que de quadrado não tem nada) para entrar numa rua principal. Lá vou eu com mil cuidados com os espelhos e traseira quando, ao virar de uma esquina, percebo que para entrar no próximo beco ia ter de passar por cima de um monte de sacos que estão no chão. Faço marcha à trás e paro para tentar perceber o tamanho dos sacos e eventual conteúdo. Para meu espanto não eram sacos... nem queria acreditar! Estava um rapaz vestido de preto deitado em posição fetal na rua. Ok não estava no meio da rua, mas naquelas ruas é impossível não estar no meio da rua! Destranco as portas e saio do carro: o rapazinho estava quase em coma alcoólico, com um bafo explosivo e quase inconsciente. Abanei-o, chamei-o e nada a não ser resmungos. Às páginas tantas lá acaba por aparecer um senhor a uma janela a dizer-me que ele estava ali à duas horas e que tinha estado um rapaz com ele mas que se tinha ido embora. Bonito! Não consigo passar com o carro e ele não me parecia capaz de se desviar. E não ia ser capaz de fazer marcha atrás e deixa-lo ali embrulhado e prontinho a ser passado a ferro por outro condutor menos cuidadoso. E também não me estava a apetecer arrasta-lo dali para... para onde?? Para outro beco ou para o hospital? Peço ao senhor para chamar uma ambulância que eu esperava. Passado alguns minutos acaba por aparecer o tal "amigo" que me diz que estava farto de ali estar e tinha ido dar uma volta...... sem comentários........ consegue ergue-lo para eu poder passar com o carro. Enfio-me no carro outra vez, tranco imediatamente as portas, respiro fundo e penso outra vez - vou para casa e ainda vou conseguir dormir umas 4 horas...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Desencontros e outros timmings

TRIIIIMMMMM
TRIIMMMMMM
-Estou, sim?
-Boa noite! Daqui fala aquela miúda meia alucinada e que até costuma ser uma aluna razoável da Sua Faculdade!
- Não Estou a ver quem é.... :D
- Aquela meia despenteada, que Lhe pediu numa das últimas aulas para ser avaliada?
- AHHH! Sim, já Sei! Então o que se passa?
- Arriscando-me a ser expulsa... :/ OLHE LÁ, PORQUE É QUE NÃO ME AVISOU QUE SAÍA MATÉRIA ANTIGA!!!! SEU #*#$&&*#!!!!!!
- Miúda, foste tu que Me disseste que estavas preparada! EHEHEH
- :-s
... O sacana lá de cima tem um sentido de humor lixado ...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ilusão

Pesar-me todos os dias
Quase entrar em pânico se as calças me estão mais apertadas
Respirar fundo antes e depois para não entrar em pânico
Ter de esconder a ansiedade quando isso acontece à frente de outras pessoas
Não gostar de espelhos de corpo inteiro
Passar dois meses em que me esqueço de tudo isto e pareço estar bem
Um belo dia, seja porque razão for, voltar a cumprir todos estes rituais
Insistir que, apesar da idade e do filho, não posso vestir mais que o 36
Nunca deixar passar muito tempo sem fazer exercício físico, por razões puramente psicológicas
Ser gulosa e odiar sentir-me cheia
Ter tido variações de peso absolutamente astronómicas nos últimos 10 anos
Controlar-me para não usar a comida como substituto de quaisquer carências afectivas
Voltar a passar dois meses em que me sinto bem na minha pele
Passar-me completamente outra vez só porque me vi de esguelha ao espelho e não gostei do que vi
Controlar à exaustão tudo o que como
Só gostar de me ver se estiver quase no 34
Fazer um esforço tremendo para sair desta pescadinha de rabo na boca e voltar a trabalhar o gostar do meu reflexo, do meu corpo e assumir que tenho curvas
Controlar moderadamente o que como sem ansiedade durante mais dois meses
Continuar a pesar-me todos os dias
Ficar ansiosa se não o faço mesmo que já aceite que não preciso de ser tão perfecionista
Ter absoluta noção e consciência que sinto tudo isto, saber a maior parte das razões que estão por detrás, trabalha-las e mesmo assim continuar a entrar em pânico quando sinto as calças mais apertadas
Conseguir usar biquíni na praia porque ignoro que tenho corpo e recuso olhar para qualquer reflexo em que possa ver-me
Ficar surpreendida quando vejo fotografias minhas e perceber que afinal não tenho peso a mais e que nas fases piores até tenho a menos
Mas mesmo assim não gostar do que vejo reflectido no espelho
Reconhecer imediatamente pessoas que sentem o mesmo que eu em relação ao corpo
Fazer um esforço tremendo e desnecessário para esconder isto de todas as outras pessoas, mesmo que sejam amigos de coração
Agarrar-me com unhas e dentes à recordação do que senti e à escolha que fiz quando me disseram que corria risco de vida com tão pouco peso
Saber os riscos que corro quando me deixo afundar um pouco
Lembrar-me outra vez e fazer um esforço para me levantar
Impor-me um limite mínimo e máximo de peso
Aprender a viver com isto já que os anos vão passando e não desaparece
Saber que isto é tudo uma ilusão e mesmo assim continuar a deixar-me iludir