sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Always with Me

(Tradução)

Somewhere, a voice calls, in the depths of my heart
May I always be dreaming, the dreams that move my heart

So many tears of sadness, uncountable through and through
I know on the other side of them I'll find you

Everytime we fall down to the ground we look up to the blue sky above
We wake to it's blueness, as for the first time

Though the road is long and lonely and the end far away, out of sight
I can with these two arms embrace the light

As I bid farewell my heart stops, in tenderness I feel
My silent empty body begins to listen to what is real

The wonder of living, the wonder of dying
The wind, town, and flowers, we all dance one unity

Somewhere a voice calls in the depths of my heart
keep dreaming your dreams, don't ever let them part

Why speak of all your sadness or of life's painfull woes
Instead let the same lips sing a gentle song for you

The whispering voice, we never want to forget,
in each passing memory always there to guide you

When a miror has been broken, shattered pieces scattered on the ground
Glimpses of new life, reflected all around

Window of beginning, stillness, new light of the dawn
Let my silent, empty body be filled and reborn

No need to search outside, nor sail across the sea
Cause here shining inside me, it's right here inside me

I've found a brightness, it's always with me


Kimura Yumi
in Viagem de Chihiro

Fértil

Terreno fértil! É só isso que os nossos sonhos necessitam para que se concretizem. Há que ter paciência e saber esperar, há que cuidar do sonho, mudar o contexto onde se insere, quando o terreno não é fértil. Há que saber transplantá-lo, retirar as folhas secas e leva-lo connosco, para onde quer que formos.
São os meus sonhos, são eles que me fazem mover, mudar, crescer, procurar. É por eles que me desassossego e é com eles que me ocupo. São eles que me guiam, quando tudo o resto falha.
E são coisas simples e tranquilas, os meus sonhos. Carregam em si o potencial de flores e frutos quando o momento e local e o tempo propicio chegar. Nunca tudo ao mesmo tempo mas um de cada vez. E se o terreno onde se encontra não é fértil, pois que me resta apenas pegar no sonho, coloca-lo cuidadosamente num vaso bonito e voltar a viver, enquanto mantenho a alma aberta aos sinais que me indicam que aquele terreno tem, não o aspecto, mas as características básicas para que o meu sonho posso crescer, dar flores na primavera e frutos no verão.

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos

como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como estas árvores que gritam
em bebedeiras de azul
eles não sabem que sonho
é vinho, é espuma, é fermento
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
no perpétuo movimento

Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel
base, fuste ou capitel
arco em ogiva, vitral

Pináculo de catedral
contraponto, sinfonia
máscara grega, magia
que é retorta de alquimista

mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos Infante
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança

Ouro, canela, marfim
florete de espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim

passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora

cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar

Eles não sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança

António Gedeão

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Continuar

Quero continuar
A acreditar
Não em ti
Em mim
Quero continuar
A acreditar
Não em ti
Mas em mim
E na grandeza
De amar
Que tenho
Contido
Em ti
Em mim
*
*
Enquanto o frio se instala
E me gela a alma

domingo, 26 de dezembro de 2010

Desvanecer

"Love never dies a natural death. It dies because we don't know how to replenish it's source. It dies of blindness and errors and betrayals. It dies of illness and wounds; it dies of weariness, of witherings, of tarnishings."
Anais Nin
*
*
Não é que o amor morra, mas desvanece-se, extingue-se. Nunca de forma natural. O amor nunca morre de morte natural. Morre porque nós não sabemos como procurar a sua fonte. Morre por sermos cegos, pelos erros e traições . Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, morre porque o manchamos e deixa de brilhar.

sábado, 25 de dezembro de 2010

De Corpo e Alma

A lover knows only humility, he has no choice.
He steals into your alley at night, he has no choice.
He longs to kiss every lock of your hair, don't fret,
he has no choice.
In his frenzied love for you, he longs to break the chains of his imprisonment,
he has no choice.
A lover asked his beloved:
Do you love yourself more than you love me?
Beloved replied: I have died to myself and I live for you.
I've disappeared from myself and my attributes,
I am present only for you.
I've forgotten all my learnings,
but from knowing you I've become a scholar.
I've lost all my strength, but from your power I am able.
I love myself...I love you.
I love you...I love myself.
I am your lover, come to my side,
I will open the gate to your love.
Come settle with me, let us be neighbours to the stars.
You have been hiding so long, endlessly drifting in the sea of my love.
Even so, you have always been connected to me.
Concealed, revealed, in the unknown, in the un-manifest.
I am life itself.
You have been a prisoner of a little pond,
I am the ocean and its turbulent flood.
Come merge with me,
leave this world of ignorance.
Be with me, I will open the gate to your love.
I desire you more than food or drink
My body my senses my mind hunger for your taste
I can sense your presence in my heart
although you belong to all the world
I wait with silent passïon for one gesture one glance
from you.
Deepak Chopra
*
*
Quando não existem tempos, nem momentos, porque quem ama não tem escolha.
*
*
So, please, release me...
*

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Nascimento

Natal significa Nascimento.
Sem estar ligada a nenhuma religião consigo perceber que dizer a alguém "Feliz Nascimento" pode transformar toda a forma de estar nesta época natalícia... ou seja nesta época em que nos é dada a hipótese de voltar a nascer. Ou de nascer para uma consciência diferente, para uma consciência ampliada de si e dos outros. Sentimos um pouco o significado que a expressão pode ter sobre nós quando temos actos de bondade e generosidade (no fundo de empatia) com estranhos e outros menos estranhos, quando resolvemos mimar-nos um pouco e oferecer a nós próprios a prenda de nos permitimos estar mais em sintonia com o que somos, quando nos relacionamos connosco e com os outros. A perspectiva de que isso não ocorra, geralmente, conduz-nos a estados de desconforto, melancolia e tristeza nesta altura do ano. Quando pressentimos que estamos a viver este momento de uma forma ligeiramente desviada.
Curioso como esta hipótese acontece entre o Solstício Inverno, em que a noite mais longa acontece e a promessa de sol surge no horizonte, e a passagem do ano quando sentimos claramente que termina um ciclo e começa outro. Entre essas duas datas ocorre a hipótese de Nascimento do melhor em cada um de nós. Quando esse nascimento ocorre, desta forma, em consciência, ele pode manter-se e ser celebrado a vida inteira, todos os dias, a todas as horas, em cada momento.
Nessa perspectiva, os meus votos partilhados para este Nascimento são simples.
Que sejamos sempre capazes de aprender a transformar as nossas mágoas e tristezas em motivos para sorrir. Que as nossas dores nunca nos impeçam de sentir e perceber a dor dos outros e que tenhamos também a capacidade de os fazer sorrir. Que tenhamos sempre a abertura de espírito e a visão de aceitar que somos humanos e cometemos erros, que às vezes magoamos os outros mas que estamos sempre a tempo de pedir desculpas pela dor que causamos, de aprender com eles e assim dar espaço para cometer e aprender com erros novos. De passado algum tempo percebermos que afinal não existem erros, nem nossos nem dos outros, e que de outra forma não teríamos a possibilidade de aprender.
Que tudo acontece exactamente como têm de acontecer e que pré-ocuparmo-nos com isso não muda nada. Que muitas das coisas com que nos preocupamos nunca acontecem e que os Ses nunca deixaram histórias para contar. Que, depois de acontecer uma mudança, revoltarmos-nos com ela só serve para atrasar o processo de aprendizagem. Que sejamos capazes de reconhecer a beleza contida nesse processo e
Que sejamos sempre capazes de perceber que o que mais nos incomoda nos outros é simplesmente o que mais tentamos esconder de nós mesmos. Que sejamos capazes de o reconhecer em nós e de aprender a expor e a trazer para a luz do dia essas questões, de forma a nunca se transformarem em fantasmas que nos ensombram.
Que o maior e mais forte acto de coragem é dizer, Sou frágil.
Que sejamos humildes sem nos deixarmos humilhar e perceber que é a pessoa mais humilde que tem menos motivos para ser humilhada.
Que nunca confundamos leveza e alegria com superficialidade e futilidade. A alegria e a leveza é um estado que nasce após um estado de intensa dor, em que nos dispomos a ir ao poço mais fundo da nossa alma limpar o lodo acumulado. Quando o fazemos com esse objectivo, invariavelmente regressamos à tona com o maior dos tesouros. O Amor e aceitação ao que somos, ao que estamos, ao que vemos reflectido no espelho dos olhos dos outros. E que só no poder dessa pérola podemos ver e sentir os outros da mesma forma. E que quando descobrimos essa pérola não reflectimos, não reagimos quando os outros nos julgam. Adquirimos a capacidade de compreender os motivos dessa acção e de agir para um bem comum.
Que aprendamos a aceitar sem nos resignarmos a circunstancias em que nos tornamos vitimas por escolha própria.
Que mais ninguém a não ser nós mesmos temos a possibilidade e o poder de mudar as regras do jogo da nossa vida, de romper com limitações e situações, de reinventar a nossa realidade, que por vezes basta mudar a perspectiva e dizer um redondo, Não quero isto para mim, Não quero ser assim, de corpo, alma e coração para que as verdadeiras mudanças e nascimentos aconteçam.
Que a felicidade é feita de coisas muito simples, de pequenos gestos, toques e olhares, da aceitação e valorização do que somos e do que temos. Que a verdadeira felicidade surge quando estamos ligados ao que somos, quando o que fazemos, sentimos, pensamos e dizemos está em harmonia.
Que, façam o que fizerem, vão onde forem, amem quem amarem, o façam inteiros e presentes, de corpo e alma e mente, cientes que todos somos divinamente perfeitos nas nossas imperfeições.
Que é natural ter dúvidas e não saber o que fazer. Que é natural ter medo. Isso acontece quando deixamos de nos ouvir, quando deixamos de ouvir o que o nosso coração sabe. Quando isso acontece aprendam a ficar quietos, a saber esperar, não a espera do bater do dedo para que passe depressa, mas a espera activa, em que a paciência, a aceitação, o silêncio, a empatia e a alegria são cultivadas, para que, quando a espera termine, possam germinar e crescer no vaso que escolherem com o vosso coração.
Como dizia a outra autora, quando não souberem o que fazer, esperem e escutem até a vossa mente silenciar e possam ouvir claramente a voz do vosso coração.
E que nunca esqueçam que um nascimento é um parto. E que por muito doloroso que por vezes seja, o ser que nasce nesse momento tem a Vida pela frente e é puro potencial.
Com todo o meu amor...
Um Feliz Nascimento *

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Reflexões

É mesmo amor, isso que sentes
Ou simples necessidade
De te olhares reflectido
Num espelho partido?

Pois que estranho
Essa estranheza sem fim
De me sentir partida
E, ainda assim,
Te amar e querer dar
Com cada pedaço de mim.

Se te sentes não aceite
Quando espreitas
Este espelho, considera
Que, se mais não te dou
Talvez seja porque,
Estranhamente, rejeitas
O que te ofereço e o que sou.

Considera também, amor,
Que quando te desvias,
Algo se rasga
E a imagem que espreitas
Regressa aos teus olhos
E aos teus sentidos
Com o inconfundível gosto
A sangue derramado,
Típico de corações partidos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Coisas do Estar

Gosto de calor, de aquecedores e sacos de agua quente, de mantas e cobertores, de cachecóis e abafadores, de chá de rooibos e de frutos vermelhos, de canela, do cheiro e crepitar da lareira, de pão quente com manteiga, de doce de gila e de melancia, de queijo de ovelha, de rodilhas, de palavras e coisas antigas, de café sem açúcar e de chocolate, do mar, das florestas, de cascatas, da montanha e de praias desertas, de passear de mãos dada, de dormir tarde e não ter hora de acordar e de o fazer aconchegada, da cor do céu em Setembro, do por do sol, de gatos, de estar bem acompanhada, de estar sozinha, de escrever e meditar, de mudar de casa, de me perder, de viajar, de conduzir, de dormir na praia, de amoras silvestres e de sopa de urtigas, de ouvir musica e dançar descalça, das palavras que preenchem os vazios, do silêncio quando não há palavras, de abraçar e ser abraçada, de escrever em esplanadas desertas, de paisagens inspiradoras e abertas, de gentes, de bom vinho e do som do violoncelo e do violino, de estações e aeroportos, de ver as pessoas passar enquanto me deito a adivinhar, de sentir a chuva e o cheiro da terra molhada, de regressar a mim quando não me sinto segura, de virar páginas e dobrar esquinas, de recomeçar, de ver o meu filho crescer, de ver as estações mudar, de rugas e cabelos brancos, de me sentir amada e desejada, de aprender coisas novas e de recordar coisas passadas, de perfeitas imperfeições, de novos olhares, de poesia e de contos de fantasia, de histórias de vida e de epifanias, de sonhar acordada, de ouvir as verdades dos outros e viver as do meu coração, de dormir tranquila, de paz e agitação, de banhos demorados e, de preferência, acompanhados, de romantismo quando estou apaixonada e de jogos de sedução, de hera e de gerberas, de apanhar fruta das árvores, de oliveiras, de fazer sestas na relva, de dança e taichi, de transpirar, de quintas escondidas, de grutas, capelas e igrejas antigas, de templos e de artes perdidas, de andar de bicicleta e de caminhar, de bróculos, de cenouras, de óculos escuros, de brincos, pulseiras e colares, de chávenas de chá, de livros, de pincéis, de sótãos, de escadas em caracol e de rodopiar, de fazer desenhos na areia, de puzzles, de coisas simples e de avelãs, de olhos, de mãos, de lábios e de pessoas loucas, simples e genuínas.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Frágil

Quando a vida nos troca as voltas e nos deixa ao sabor dos sonhos naufragados e recuperados, a baloiçarem, mal amparados em frágeis embarcações de papel.
Quando a lógica observa irónica e o sentimento coloca o coração nas mãos e ambos dizem, Ai, que se vai afundar. E contra toda a lógica o fino papel insiste em se manter à tona, suspenso nas águas por uma magia qualquer, ensopado, é certo, de medos, de fantasmas, mas mantém-se corajosamente a baloiçar por cima das ondas.
É que ele guarda dentro de si muita da fé que contenho, a fé no melhor de mim e de cada um de nós, no acreditar sem sentido, nos milagres e conquistas.
Quando um movimento brusco o faz baloiçar um pouco mais, quando ameaça ser afundado por um balanço ou sugado por um remoinho uma ou, às vezes, mais mãos o amparam e ele, por milagre, insiste em se manter à tona.
E enquanto insisto em continuar a acreditar, com todas as razões para o fazer e no fundo sem absolutamente nenhuma, por vezes desalentada, por vezes desesperada, por vezes zangada, uma parte de mim observa espantada o frágil barco de papel e reconhece o milagre que o sustem, enquanto uma outra parte insiste em me sussurrar ao ouvido, O quê, mas ainda acreditas?
Fragilidade e coragem, milagre e teimosia. O sonho e a fé não dependem da embarcação que os contém, é o que a minha alma responde. Mas, às vezes, só a ouço passado uns dias.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

202

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* .:::. São as vezes que aqui vim partilhar algo de mim .:::. *
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terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Princesa e a Ervilha

"Reescreva, usando no máximo 400 palavras, um conto de fadas. E se o Capuchinho Vermelho fosse o mau da fita? E se o sapato servisse mesmo a uma das irmãs?"

Era uma vez um príncipe que procurava uma princesa verdadeira. Uma daquelas de verdade, sensível e genuína. Procurou por todo o seu reino e ainda mais além. Foi aos confins da terra e acabou por regressar a casa desanimado e sem esperança, pois todas as princesas que encontrou não pareciam, aos seus olhos, verdadeiras princesas. Todas elas tinham alguma característica que o convenciam que não eram princesas genuínas.

Numa noite de tempestade em que o vento e a chuva reinavam, alguém bateu à porta do castelo. Quando abriram depararam-se com uma donzela ensopada e com ar infeliz que afirmava ser uma verdadeira princesa. A rainha, quando a viu, duvidou imediatamente. Como poderia uma princesa de verdade sujeitar-se a vir a pé até ao castelo e apresentar-se naquele estado a si e ao seu filho? Não lhe parecia possível. Mas o príncipe viu qualquer coisa. Ele não sabia bem o quê. Talvez um brilho diferente, um jeito de entoar as palavras, de andar que o encantou. A rainha, mãe conhecedora do seu filho e mulher experiente notou o estado de encantamento do príncipe e pensou: Princesa ou feiticeira, esta noite se verá quem és! Mandou servir uma refeição quente à suposta princesa e foi ao quarto onde ela iria dormir. Desfez a cama e colocou uma ervilha e de seguida vinte e um colchões empilhados. Fez a cama e esperou pela manhã seguinte para comprovar a sensibilidade da princesa.

De manhã quando acordou esperou todo o pequeno-almoço que a princesa e o príncipe descessem dos quartos para expor a princesa e o seu teste. Esperou e esperou e, já farta de esperar, mandou acordar os dois. Quando os criados regressaram, disseram à rainha que os quartos estavam vazios. A rainha desesperada, lembrou-se que, na noite anterior, enquanto preparava a cama da princesa, havia deixado os dois a sós para comerem. O tempo suficiente para planearem uma fuga. Procurou durante anos, enviou soldados a todos os cantos do reino e ainda mais além mas nunca mais teve notícias deles. Acabou por morrer sozinha e amargurada por ter tentado provar que a suposta donzela não era uma princesa de verdade.

Quanto aos dois apaixonados, nunca mais se soube nada deles. Ainda hoje existe uma lenda na região ao redor do castelo que conta a história e que termina com “E não se sabe se viveram ou não felizes para sempre”.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Escrita Criativa

Poderá ter passado despercebido, aos mais desatentos, a minha cada vez maior vontade de explorar e brincar com a escrita. Os incentivos de quem me rodeia acabaram por conseguir que respirasse fundo e me lançasse a escrever disparates ainda mais disparatados do que aqueles que tenho por hábito escrever. Desengane-se quem estiver à espera de relatos lamechas sobre mim mesma, quando virem uma etiqueta a dizer "Escrita Criativa" no fundo do texto. Não serão textos sobre ninguém, serão pura ficção e qualquer semelhança com a realidade, virtual ou não, será, mesmo, pura coincidência... ou não, que há quem diga que essas coisas não existem.
A verdade é que quando puxo por mim e pelo disparate, o que escrevo até tem uma piada relativa, e o discurso verborreico escorre sem filtros e com uma dose estranha de ironia. Enfim, a minha!
Aos mais desatentos e aos outros, aos um pouco mais atentos, aproveito para informar que o senhor Nicolau seria uma simpatia se, este ano, me colocasse na chaminé um curso de escrita criativa. Sem compromisso, claro está. Mas que seria simpático, lá isso seria. Dar sentido e ordem ao discurso verborreico exige uma dose de técnica que não possuo. A coragem, pelos vistos, estou a arranja-la e quanto ao trabalho e persistência, enfim, quem me conhece sabe que passo mais tempo a escrever que a falar e quando falo entra quase sempre mosca, para não sair uma grande asneira.
Os textos que colocar com a dita etiqueta são a resposta a desafios colocados por um site que se publicita muito bem e que costumo acompanhar na rede social da moda. Ou seja são exercícios que serão sempre precedidos do dito desafio.
Mais uma vez não garanto qualquer tipo de assiduidade à escrita, nem às estórias e contos. Dependem de algo que não depende inteiramente de mim, mas sim das ideias e conceitos que as minhas antenas captam via fm embora, por vezes, sejam muito pouco estereofónicas.
A todos um enorme Bem Hajam, sempre com a certeza que será preciso uma dose de paciência nem sempre alcançável e possível, para ler os meus textos e alucinações até ao fim...

Boneca

Caminhava sozinha, descalça por entre a multidão, sem dar atenção onde punha os pés e a desviar-se da multidão sem notar que o fazia. Caminhava sozinha, enquanto olhava o céu e esperava a chuva que disfarçaria as lágrimas que continha. Caminhava sem rumo e sozinha.
As memórias, um vislumbre, alguém que passava e que a fazia olhar em frente para ver quem aí vinha, era o suficiente para um arrepio a percorrer e para se encolher com a náusea que sentia. O aperto no peito havia de passar, isso sabia. Já o tinha sentido antes e sabia que, mais cedo ou mais tarde, havia de se desvanecer até ficar apenas as memórias de algo que tinha passado. Mas o murro no estômago, a náusea, a sensação visceral de medo era uma novidade recém redescoberta.
Quando se tapa e protege uma ferida antiga e profunda com ligaduras, não se repara que a ferida não está sarada, que continua aberta a corromper a carne. O cheiro e a visão são anulados e ganha-se o habito de tratar das ligaduras, de as retirar quando se dá conta que estão sujas e a apodrecer. Tapa-se a ferida e ficamos a pensar que o problema é trocar as ligaduras. A ferida nunca deixa de doer, nunca. Mas ganha-se o habito da dor e toma-se como um dado adquirido que faz parte de nós. O limite de dor é alargado e parece, só parece, que deixou de magoar. Isto pode durar dias, meses, anos. E dura. Vão-se mudando as ligaduras, trocam-se as sujas por limpas e pensamos que está tudo bem. Mas não está. O alivio é apenas temporário.
Os acontecimentos recentes tinham-na feito tomar consciência que era preciso retirar todas as ligaduras, tinham-na feito dizer com coragem, Já chega, vou tratar disto, vou resolver isto! E começou a retirar todas, uma a uma, algumas com mais violência, outras mais suavemente.
Não estava preparada para ver o que escondiam, não estava preparada para o cheiro fétido que emanava, para o sangue e podridão da carne. Lembrava-se como tinha sido feita, lembrava-se de quem lha tinha feito e e a quem já tinha perdoado. Mas anos a fio a esconde-la tinham-na feito aprofundar-se e envenenar o seu corpo.
A náusea voltou a invadi-la enquanto sentia a dor e o jorrar de sangue. Podia caminhar o que quisesse, por onde quisesse, com quem quisesse. A ferida era tão profunda que não iria curar-se sozinha e recusava-se a esconde-la outra vez. Para que servia esconde-la, agora que a tinha visto, tocado e cheirado?
Passaram-se dias e o murro no estômago continuava a acontecer, enquanto dava voltas à cabeça para tentar perceber como limpar e sarar uma ferida tão profunda. Não sabia e continua sem saber. Talvez o tempo, o amor, a atenção, o cuidado e um par extra de mãos o fizesse.
Ia caminhando sozinha, devagar, mexia-se devagar e cuidadosamente para não aprofundar a ferida, para não a abrir demais. E enquanto caminhava trazia a imagem de uma velha boneca de infância. A boneca estava sentada junto às outras bonecas e parecia-se com todas as outras com o seu sorriso pintado e cabelos sempre alinhados. Um olhar mais atento percebia que um dos seus braços estava colocado junto a ela, desencaixado. Uma boneca partida, sem um pedaço de si, com a junção entre o braço e o corpo laxo e solto. Conseguia encaixar o braço mas sempre que queria que ela levantasse os braços como as outras bonecas, o braço soltava-se e a boneca ficava outra vez partida, incompleta.
Era como se sentia... como uma boneca partida. Que por mais que tente colocar o braço no sitio, ela sabe que aquela boneca nunca será como as outras. Terá sempre de existir mais cuidado e atenção quando a faz levantar os braços. Será preciso amor e cuidado, será preciso dispensar-lhe tempo e considerá-la importante e realmente bonita e especial para brincar com ela. Se assim não for, quem vai querer brincar com uma boneca partida?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pequena Morte

Peço a paz
A do espírito,
Dos inocentes
A dos ignorantes.
A dos que não sabem
Nem querem saber.

Peço a paz
Dos anestesiados,
Dos que não sentem
Na pele e na carne.
A paz dos que não vêem
Nada mais para além
Do óbvio, do vulgar.

Peço a paz
A paz do silêncio,
A das tréguas,
A do sabor do vinho
E a do vazio
Depois das lágrimas.

Peço a paz
Da pequena morte,
Sem sonhos nem navios,
Sem perturbações
Nem intempéries.

Peço a paz
E o acordar indefinido,
O suave espreguiçar
E alongar da alma,
Lânguido e tranquilo.
O que só depois da paz
Pode surgir e ser vivido.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Acreditar

Como é que ainda duvidas?
E duvido e vacilo e volto a vacilar.
Estas incertezas são minhas,
Na certeza que passam quando
Deito a mão ao chão para me levantar.

Pois que no fim é a única que tenho,
A certeza que, passado o tempo
Que tiver que passar, as voltas
Que tiver que dar, as pessoas
Que tiver que encontrar e deixar,
Quando baixo a cabeça em resignação
E deito a mão ao chão para me apoiar
É ao melhor de mim que confio e dou a mão.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Drowning Dreams

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
— depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Cecília Meireles, in 'Viagem'

domingo, 14 de novembro de 2010

Amor, Pois que É Palavra Essencial

Amor — pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro de vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como activa abstracção que se faz carne,
a ideia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o clímax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no húmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, quais estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Amor Natural'

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Amar e Ser Amada

Quando as palavras
Se transformam num nada,
Escrevo violentamente
Para esquecer a dor,
Para recordar a saudade,
Para me centrar.
E se também isto te faz recuar,
Pois fica sabendo que também o sou.
Violentamente escrevo, purgo
E exponho de mim a vertigem,
O suspiro, o grito e a vontade
De amar e ser amada.

Vertigem

O vento entra pelos poros da pele, escapa-se por entre a roupa e toca a pele, entranha-se e penetra a alma, lembra-me que estou viva.
Ao longe, lá longe o mar canta entre murmúrios e rugidos. Fala de si, de acalmias e tempestades, de ondas gigantes e dos peixes no mar. Fala das brincadeiras com os navios e das escondidas com os faróis.
Debaixo dos meus pés adivinha-se uma falésia, banhada pelo mar e segura pelo vento.
Abro os braços e deixo-me ir na brisa. Inspiro profundamente, de coração apertado.
Há alguém atrás de mim? Alguém à minha espera? Tenho que esperar por alguém?
Não me lembro exactamente como fui ali ter, entre o torpor de sentires e pensares. O carro guiou-me e depois os pés. Deixei-me guiar até ali sem consciencializar onde estava. Quando finalmente desperto sinto um quase vazio debaixo dos pés, a sensação urgente da recordação de voar. Lembras-te? Abrias os braços, davas um passo e deixavas que o vento te sustivesse o tempo suficiente para voares. E passavas noites nesse embalo, enquanto o frio se entranhava entre a roupa, a chuva te banhava e a lua e as estrelas te iluminavam. Lembras-te?
Com a recordação vem a vertigem, brusca, intensa. Lembro-me. Só não me lembro como se faz. Os passos cambaleiam e relembro que estou viva, enquanto o corpo oscila no quase vazio. As memórias vão ficando mais intensas, mais vividas. Cambaleio e recuo. Ainda não, penso. Não quero dar este salto sem ter a certeza que ninguém me espera.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Loucos e Sérios

Aos mais presentes e aos mais ausentes, aos que ficaram e aos que partiram, aos de agora, aos de antes e aos que hão-de surgir, aos que só partilham um sorriso, um gesto ou uma dança e aos que partilham a vida inteira... Existe um lugar de honra para cada um de vós no meu coração.

Grata por se terem cruzado comigo, por serem espelhos tão diferentes, por questionarem e me mostrarem tantas formas diferentes de estar no mundo. Grata por aprender convosco. Grata por sentir o coração aquecer quando vos penso.

Grata por vós *


"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco.

Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade brincadeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que o sonho não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, tontos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão estéril."


Oscar Wilde

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Para além

Para além de uma palavra, de um sentido, de uma mensagem
Para além de uma imagem, fotografia ou aguarela
Muito para além, existe.
O que existe para além,
Não se escreve nem desenha,
Não se mostra, só por mostrar,
Muito para além do que se vê, ouve ou cheira.
Muito mais além está um sentido,
Um sentido, um conceito
Que, se o descrever, se perde o meu
E ganha o teu, assim como estas palavras
Ganham um sentido muito para além
Do meu, quando lidas ou entoadas.
E mesmo estas verdades não alcançam,
O que está além, não desenham
Nem descrevem todo um mundo que se adivinha.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Humildades

‎"Se me pedires, ou mesmo que não o faças, por-me-ei de joelhos, colocarei as minhas mãos sobre teus pés e baixarei a minha cabeça perante ti, entregar-me-ei a este acto com toda a humildade que possuo e pedirei que recebas este acto com a mesma entrega e a mesma humildade, para que dele nasça a partilha entre o meu dar e o teu receber, para que desta partilha se gere o amor incondicional, a humildade do dar e do receber num só acto."


Versão original aqui

Na humildade do dar,
Recebido com humildade.
Mesmo que simbólico,
Isto é o que dou...
Lado a lado na humildade,
É o que peço.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ana, a Valente Graciosa

Dela recordo tanto.
O seu brio e força, a ferocidade com que defendia a família, a curiosidade e brilho, a inocência e a teimosia nos seus valores.
Ana Valente era o seu nome e dela herdei o primeiro nome.
Ana, a Graciosa, a cheia de graça. A mulher que recordo deve ter sido graciosa nos gestos perdidos da infância e adolescência. A que recordo tinha o corpo e a face bem marcada pelo trabalho árduo do campo, as rugas profundas debaixo das abas do chapéu ou do lenço, revelando os olhos azuis brilhantes, atentos, observadores. As mãos calejadas da enxada enquanto tentava recordar os tempos em que pediu ao pai para ser costureira e este a enviou para os campos, porque era assim que se fazia antigamente. Recordo com saudade os serões em que me lia as cópias que fazia e me mostrava os trabalhos de casa, da escola básica para adultos e em que era a aluna mais velha. Recordo, a propósito disso, da naturalidade com que dizia que não queria pedir a ninguém para lhe ler as cartas do correio, depois do meu avô falecer e, apesar dos 73 anos, ia aprender a ler. Recordo como, com a mesma atitude independente e determinada aproveitou para vender o tractor e comprar um burro. A carroça ainda existia de outros tempos e só foi necessário reparara-la. Não gostava de ser enganada, tinha uma enorme dificuldade em confiar em estranho e em todos os assuntos de família, esta mulher de coragem tinha uma palavra valida a dizer.
Ana, a Valente há-de ter sido graciosa com o seu corpo bem moldado pelo trabalho. Recordo o olhar de reconhecimento que me fez no hospital pouco antes da sua passagem, com a bata do hospital a esconder muito pouco do seu corpo seco e duro, enquanto me pedia para lhe tirar as amarras que lhe prendiam os braços. Tinha mais que fazer, queria ir para os campos, para casa, queria sair dali, daquele ambiente frio e despersonalizado. Recordo o ar de espanto quando percebeu que não conseguia andar. Recordo os jantares de família, em Lisboa, em que percorria todas as divisões da casa e se ia mostrando cada vez mais impaciente por estar fechada e confinada a quatro paredes. E a alegria que sentia quando a levavam de volta a casa, ao seu espaço aberto ao campo e ao mundo vivo e verde. Lembro-me dela quando procuro a janela mais próxima e quase me penduro para fora, à procura de verde e espaço aberto, quando estou em casas de cidade.
Ana, a Graciosa, recordava o quanto o tinha sido, quando era considerada esquisita na aldeia por ser das poucas loiras de olhos azuis e como se tinha casado com o Xico, também ele descendente dos invasores franceses, com os olhos azuis e cabelo loiro, no topo do seu metro e quase noventa. Recordo-me dela sempre que sou confrontada com a dureza dos meus tios e pai, com a incapacidade de demonstrar carinho e como eles contrastam com o meu tio mais novo, o que veio fora do tempo e onde ela, Ana, a Graciosa o pode finalmente ser. Graciosa e carinhosa.
Recordo-me das tardes partilhadas a arranjar azeitonas, enquanto me contava estórias do antigamente e, a meu pedido, largava as azeitonas e ia, deliciada, buscar o adufe para me cantar e tocar as musicas do antigamente. Recordo ao longe estes momentos e tantos outros e mantenho a recordação do seu olhar penetrante e curioso suspenso a minha frente.
Ana Valente de seu nome, de coração, de mãos, de corpo.
Recordo uma das imagens mais bonitas da minha memória, em que fui mostrar uma das terras ao pai do meu filho, entre penedos, vales, ribeiros e capelas e a vejo ao longe, vestida de preto, como manda a tradição e os costumes mas principalmente para não ser falada pela aldeia, curvada pelos anos da enxada e da rega a balde, a conduzir o burro e a carroça a transbordar de lenha para o fogão e lareira. Preparava-se para o Inverno, dizia-me ela, enquanto me recordo de olhar para o momento, contemplar a imagem parada no tempo e encher-me de calor, de apreço, de admiração, de orgulho, enquanto dizia de voz embargada pela emoção e beleza daquele quadro: Olha, é a minha Avó!
A fotografia é a dela.. no tempo em que o tempo lhe permitia não se lembrar que era valente e em que podia ser simples e graciosamente... Ana.