segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

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Tenho-me sentido bastante deslocada do mundo, nestas ultimas semanas. Não da terra, mas do mundo, daquele que se partilha ou do qual se tenta fazer parte quando estamos em sociedade...
A viver rodeada pelo silencio e pela floresta, onde se ouve ao fundo o barulho constante do mar e do vento a pentear as arvores seria dificil participar nas cerimónias habituais associadas ao natal.
Já tinha decidido passar pelo natal de forma diferente e foi o que fiz... participei num jantar comunitário, onde fui voluntária, no dia 24 e acabei a noite a distribuir o que sobrou pelos sem-abrigo de Lisboa. Semi-hibernei no dia 25 e, finalmente, fiz as reuniões de familia, com a familia que restou, no dia 26. E tomei uma decisão.... o meu filho, para o ano, participa neste roteiro. É, talvez, uma forma de lhe mostrar que não é preciso viver esses dias no consumismo desenfreado e na aparencia. Ao reler frases anteriores por aqui, percebo que acabei por fazer exactamente o que resolvi o ano passado... ignorei a unidade estrutural e alarguei o conceito de familia.
Na semana anterior tive de ir a um centro comercial da cidade e lembro-me de me sentir invadida... Alguma vez se sentiram assim? Invadidos? Demasiada luz, demasiado gasto, demasiado desperdicio, demasiada gente, demasiado.... andei a escapulir-me pelos corredores menos frequentados e a sentir que tinha de sair dali e voltar ao silencio o mais depressa possível. Que aquele não era o meu mundo e já não conseguia fazer parte daquilo...
Nessa noite uma amiga de coração mostrou-me o filme que partilhei no post anterior e estivemos bastante tempo a falar sobre as nossas tentativas de regresso às origens, sobre essa vontade de mudar e sobre o contributo que podemos dar. Sobre a responsabilidade que cada um tem.
O Miguel passou este natal com o pai e no dia 25 à noite sai de casa, sozinha. Apetecia-me sentir o ar frio e o silencio da noite enquanto passeva por ruas desertas. Dei algumas voltas e acabei por me lembrar de um filme de que já tinha visto o trailler e o qual me tinha despertado imensa cusiosidade. Sou completamente fã de livros de ficção cientifica e é um dos estilos de cinema de que também mais gosto.
Decidi aproveitar a noite de folga e ir vê-lo, um pouco ansiosa pela prespectiva de ter de entrar num centro comercial outra vez. Quando cheguei deparei-me com um parque de estacionamento vazio, um centro comercial vazio e silencioso e uma sala quase vazia. Com direito a oculos e a um lugar com uma excelente visibilidade, sentei-me e, obedientemente, pus os oculos quando mandaram.
O que surgiu no grande ecrã foi algo que se me contassem só me teria feito ter mais vontade de ir ver o filme.
Costumo dizer que são os livros que nos escolhem, quando estamos prontos...
Tenho olhos na cara para perceber a ironia de um filme destes vir de onde vem, para perceber o desperdicio de meios e dinheiro para o fazer e o quanto isso é uma contradição com a mensagem que passa. Para me enervar alguns dos cliches e frases feitas tipicas de filmes americanos, para uma série de outras coisas que são absolutamente obvias e irritantes, por serem manipuladoras. Mas preferi ver a estória do filme de outro angulo. Do que me faz sentido neste momento. Do unico angulo que posso ter... o de mera espectadora. E essa visão fez-me correr as lagrimas desde que me afastei do cinema até me deitar...
Não vi o filme a avaliar a qualidade dos efeitos especiais, que são extraordinarios ou da beleza das imagens gráficas, nem a avaliar a estória em si, que é boa, dentro do genero. Essas só consegui avaliar depois.
Mas vi a reconhecer a ligação que era estabelecida com os seres vivos pelo povo indigena. A ligação real e fisica que estabeleciam e a reconhecer o que o autor quis mostrar.
É assim tão dificil estabeler essa ligação com o que nos rodeia? É assim tão dificil ao ponto de ser considerado ficção cientifica? As pessoas que vão ver o filme reconhecem que são capazes de o fazer, de o sentir? Ou fecham-se, como eu fiz no centro comercial, para não me sentir agredida e violada energeticamente?
O que o povo daquela estória representa é algo que encontrei com um grupo de pessoas muito especial e com algumas pessoas isoladamente. É uma ligação que ultrapassa barreiras fisicas ou mentais e é incontornável porque só pode ser dessa forma. E só quem sente assim consegue fazer parte, estar.
As lagrimas que me correram foi por perceber (e nesta altura do ano é sempre mais visivel e fácil de perceber) que deviamos ser mais. Que as mudanças fisicas acontecem quando atingimos um determinado estado de conexão com o que nos rodeia e que aquele é um dos caminhos possiveis da evolução humana. As lágrimas correram de emoção pela identificação, pela tarde e noite anterior de partilha, pela sensação de que deveria ser mais assim, não apenas em sessões de meditação ou noutras partilhas, mas que deveria ser assim. Que se fosse dado a todas as pessoas a possibilidade de sentirem o que os outros sentem como se fosse na sua propria pele, de adivinharem o que os outros estão a sentir e por vezes a pensar, de sentir e perceber as consequencias dos seus actos seria mais facil viver em sociedade. Que, se mais gente tivesse a coragem de fazer o que sabem, me seria mais fácil viver aqui.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Um Presente Uma Visão

Este filme não é um presente de Natal... mas é um Presente!
É a história da Vida da Terra contada, nua e crua, bela e arrepiante.
Maravilhosamente contada por imagens, pelas cores e padrões que têm moldado a superfície da crosta terrestre e dos céus.
Visto de cima, dá-nos uma perspectiva da Terra invulgar e de extraordinária beleza, acompanhada pela narração cheia de informação
Com o cunho do Luc Besson, é um filme de 1h30. Não é um filme fácil de ver, por ser longo, sem acção aparente, por fazer ligações entre a informação que nos é dada e nos colocar como únicos responsáveis pelas drásticas mudanças que estão a ocorrer.
Mais que um filme sobre responsabilidade ecológica, este é também um filme sobre responsabilidade civil.
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“É tarde de mais para ser pessimista!”
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É uma das frases do final do filme, em que nos são apresentadas estratégias e mudanças que começam a ocorrer em cada um de nós.
"Não precisamos de deixar de consumir, só precisamos de agir de forma diferente. com mais informação e consciência das consequências das nossas acções.Senão vamos ter de consumir menos."
Ninguém tem todas as soluções. Existem milhares delas. Mas o mais importante é trabalharmos juntos, cooperarmos para as juntar e assumirmos a responsabilidade na mudança de atitudes... para podermos viver Juntos.
Juntos com os outros e com a Natureza, numa interacção harmoniosa.
Que seja esta a visão para os próximos anos, onde todos nós ganhamos consciência que partilhamos a mesma história, as mesmas células com todos os seres vivos nesta CASA, onde não existem fronteiras e onde todos juntos podemos viver de forma mais harmoniosa.
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Versão inglesa:
Versão espanhola:
Versão francesa:
Conferência de imprensa:
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Namaste
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Ana Cristina Lopes e Inês Duarte

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Massa Crítica

Quando penso nas coincidencias, nunca consigo deixar de pensar na teoria do caos, nos seus sistemas dinamicos não-lineares e nos atractores estranhos. Atractores estranhos são pontos para onde o aparente caos tem tendencia para se dirigir... como é que tudo isto está relacionado? Aparentemente em nada. Em nada continuaria se não encontrasse esses mesmos estranhos atractores na vida do dia a dia. E se não me passasse à frente dos olhos o nome e conceito Sincronicidade (três vivas ao Jung que se fartava de observar e reflectir de espírito aberto).
Penso tantas vezes que tudo isto é só uma questão de crenças. Que cada um com as suas e que é claro que se quisermos acreditar que nos movemos num mundo aleatório, regido por meia dúzia de leis que os cientistas estão constatemente a actualizar... será assim que vemos o que nos rodeia.
E o mais curioso é que realmente acredito nisso. Acredito que nos movemos num mundo regido por leis anda não exploradas e descobertas, que começamos a arranhar a superficie de algo muito maior, não necessariamente espiritual. Só não necessariamente espiritual, no sentido normalmente associado à palavra, porque pressinto muitas outras explicações...
Céptica?? Ou talvez não... Entrar no campo das crenças é a coisa mais traiçoeira e, por vezes, inútil que conheço. Cada um na sua bola de sabão. Cada um dá os nomes que quiser ao que muito bem entender.
E quando as bolas de sabão nos seus movimentos aparentemente aleatórios começam a convergir para um ponto, para um padrão? Quando cada vez mais bolas começam a deixar de ver apenas o seu interior e aprofundam o campo de visão? Quando começamos a aperceber-nos que as colisões aleatórias nos trazem significados novos, novas prespectivas?
Como é que uma ceptica convicta explica isso?
Confesso que tive umas ajudas extras para essa tomada de conscencia. Do padrão por detrás dos acontecimentos aleatórios... Apaixonada por ficção cientifica desde os meus 14 anos, li e reli e voltei a reler quase todos os clássicos. Todos aqueles que me falavam ao ouvido sobre outras formas de olhar para o mundo. Lembro-me de questionar, quando tive conhecimento do conceito de celula, se não seriamos todos apenas células de um ser gigantesco, com o qual apenas podiamos sonhar, quase totalmente alheios à sua verdadeira vontade.
Quando, devido a uma série de ... coincidencias, me vi obrigada a parar e aprofundar o campo de visão, não notei inicialmente nada de diferente. O nosso cerebro tem tendencia a ignorar tudo o que sai fora do ambito que conhece. Agarra-se de tal forma às crenças que quando confrontado com algo que desconhece, que sai fora do ambito da sua percepção, adapta a informação que recebe às suas próprias crenças. Ou seja.... para aquela pessoa que ficou lá atrás e para o vizinho do lado não aconteceu nada, não viu nada, nada mudou...
E quantos de nós já não ouvimos da boca dos maiores cepticos que não acredita em bruxas, mas que as há, há? Quantos de nós, no nosso crescimento não fomos confrontados, vezes e vezes sem conta, com o tipo de situações que nos obrigam a mudar as nossas crenças? Ou pelo menos a questioná-las. Vezes e vezes sem conta. As mesmas situações, as mesmas escolhas, os mesmos pensamentos, as mesmas emoções, as mesmas acções. Parece um ciclo infernal e é mesmo. Até decidirmos mudar. Mudar qualquer coisa neste ciclo implica mudar tudo. De inicio nem suspeitamos, apenas queremos mudar. E é nesse momento que surgem as coinidencias realmente espantosas. E nesse momento que nos apercebemos que não podem ser so meras coincidencias. Que existe um padrão por detrás. Um estranho e extraordinário padrão.
Não é que ele não existisse antes. Ele estava lá, bem visivel! Mas os os nossos sentidos pregam-nos partidas engaçadas. Mostram-nos as sombras e as nuvens e nós brincamos ao adivinha e faz de conta. Vemos o que queremos ver, acreditando que é essa a realidade. Que é assim, que somos assim, que os outros são assim... Chamamos lei da selva, cada um por si ou, no outro extremo, paz, amor e muita luz.
Questionar o que vemos, o que ouvimos, o que sentimos, o que pensamos e naquilo que acreditamos é a força motriz de qualquer mudança. E sempre que damos algo que precepcionamos como certo e verdade... é porque talvez esteja na hora de voltar a questionar, para que a mudança ocorra e o sincronismo nos ofereça novas direcções.
A questão aqui é a massa crítica...
Massa critica é a quantidade de material ou de pessoas, neste caso, necessárias para que ocorra uma reacção sustentada. Ou seja, a quantidade de pessoas que se começam a aperceber dos padrões por detrás dos acontecimentos e que começam efectivamente a mudar os seus pensamentos, emoções, acções e, em consequencia, as suas crenças em relação aos mesmo.
Massa critica é a quantidade de pessoas por todo o mundo que começam a mudar isoladamente mas que com a sua mudança desencadeiam uma mudança de comportamentos. Uma mudança de comportamentos que gera mais mudança.
Demasiado técnico? Eu sei, que sim. Que não está floreado nem emotivo. E permito-me estes comentários e forma de escrita porque estou farta de pensar sobre isto. Estou farta de procurar explicações, de procurar na ciencia algo que me confirme que, pelo menos, pelo menos andamos a farejar estes factos. Mesmo sem teorias comprovadas ou não.
Não sei se já o tinha dito aqui, mas as conversas mais interessantes que tive com pessoas da ciencia sobre espiritualidade e outras coisas que tal foi com fisicos. Fisicos, imagine-se! Até esses se colocaram no meu percurso para me garantir que há esperança que mais cedo ou mais tarde não vai haver como chamar maluquinhos às pessoas que veem, ouvem e sentem mais do que seria suposto.
As bolas de sabão continuam as mesmas. Talvez as suas paredes se tornem menos opacas, mais transparentes e começamos a ser cada vez mais os que precepcionam (e cuja mente não altera o que percebe) para além das suas fronteiras. Somos cada vez mais os que, a pouco e pouco, se apercebem que vivemos num mundo de ilusões e que talvez... talvez haja algo mais por detrás das coincidencias.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Profecia Celestina

Sinto-me na obrigação (obrigaquantas???) de fazer uma nota introdutória aos posts seguintes. Passo a explicar: quem tem acompanhado o blog e a mim mesma, ao vivo e a cores, sabe que tenho estado numa fase menos luminosa, menos brilhante. Tenho sido confrontada com uma série de situações que me obrigaram a ajustes e mudanças, nos ultimos meses. Como seria de esperar (ou nem por isso) desleixei-me vergonhosamente. Desleixei a minha práctica, a meditação, os exercicíos energéticos, o taichi, a respiração, a atenção e por consequencia, os meus níveis de energia baixaram tremendamente. Digo isto, felizmente, com sentido de humor. Ou já digo isto com sentido de humor. E não há dança que nos valha quando tudo o resto falha...
Funciona assim, deixamos baixar tanto os níveis de energia, ficamos tão idiotas, tão cansados e irreconheciveis que nos fartamos. Simplesmente fartamo-nos. Ou pelo menos fartei-me eu! É só deixarmo-nos cair até ao ponto em que levantamos a cabeça e dizemos, Pronto, já chega!
Num inicio (ou no fim) de um ciclo de sete, é natural que estes ajustes ocorram. E é natural tudo isto que sinto... mas já chega. E o nosso inconsciente é uma coisinha fantástica. Esse e o universo que, dizem as más línguas, conspira sempre a nosso favor e faz tudo para nos fazer a vontade. Captamos frases no ar (enviadas via FM pelo Universo, claro está!) e algumas brilham mais que outras. O inconsciente, bem ciente da sua responsabilidade, faz com que essas frases se colem às nossas orelhas e não nos deixam descansar enquanto não lhe dermos ouvidos.
E foi isso que aconteceu... por portas travessas a frase "Profecia Celestina" chegou-me aos ouvidos e não me tem deixado sossegada. Já li os livros todos e, na altura fizeram o sentido que tinham de fazer. Não consegui reler os livros, mas aproveitei para ver o filme. E enquanto via o filme só pensava que estava mal feito, mal conseguido, que os actores eram péssimos, que o livro, mal por mal, era melhor (é o que dá, a mania de visualizar perfeitamente e "viver" a estória que estou a ler), e que a estória é muito fraquinha. Mas ficou-me a mensagem. Ficou a ressonancia e validação que dou à forma como o autor expõe a "espiritualidade" (não, não vou explicar agora porque é que ponho as aspas...). Ficou a lógica e verdade que sinto na forma como ele ordena as "revelações" (que mania de ver sempre o conceito mais amplo por detrás da palavra!!).
Fazem-me toda a lógica. E neste momento preciso de relembrar e voltar a recomeçar um processo. Voltar ao ínicio... com os olhos de hoje. Recomeçar um processo de auto-conhecimento com uma consciencia um pouco diferente daquela com que iniciei este trilho, fez em Outubro 7 anos.
Pois é... fez o mês passado sete anos que me comecei a descobrir. Só percebi realmente no momento em que escrevi. O que me faz ainda mais sentido.... Que assim seja, então!
Comecei a procurar informações sobre as... enfim, sobre as.... ora deixa ver como é que lhes posso chamar, sobre as intuições (parece-me bastante menos presunçoso) e sobre o que andavam a escrever sobre elas, no intuito de recolher informação e escrever uns posts todos catitas. E percebi que não ia conseguir escrever posts todos catitas coisa nenhuma. Nem ia conseguir trascrever o que diz o livro. A linguagem não é a minha e acaba por não ser vivido e real.
Assim, sem nenhuma promessa de assiduidade (que é coisa que não tenho sido a este cantinho) vou escrever o que intuir sobre cada uma delas. Vou manter os títulos e etiquetar da mesma foma cada um dos posts, no caso de os saltear com outros devaneios (que é o mais provável).
Que sirvam, a mim enquanto os escrevo e releio, e a todos os que os lerem, mais assiduos ou ocasionais, como ferramenta para se conectarem, se religarem mais um pouco com aquilo que realmente Somos. Para estarmos connosco e com os outros em acção construtiva. Que possa ser mais um passo para Ser.
Que assim seja!
Paz, Amor e Sabedoria nos nossos Corações*

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Névoa

Sinto uma sombra, uma névoa que atordoa.

Sinto-me tão desligada de tudo que nem me sinto. Tocam-me no corpo e pergunto se estou dormente... sinto?

Tocam-me na alma e pergunto se estou dormente... sinto? Tocam-me no coração e pergunto... sinto?

Sinto?

Sinto, sim, mas desligada do corpo.

Da alma? Sinto-me dormente, sei lá onde está a alma?

Arrogante? Indiferente, sim... se passa por arrogancia é apenas aos olhos de quem o é.

Sinto, sim. A alegria, a esperança e a dor... dos outros. Onde está a minha?

Sinto, sim, mas desligada do tempo, dos dias e das horas que passam.

O ontem confunde-se com o amanhã e o sonho com a realidade.

Sinto, sim, indiferente a quem caminha, a observar a paisagem que passa, enquanto pergunto, que faz ela?

Sinto, sim, quando danço descalça, indiferente ao pó que piso, aos pés que protestam e à vontade de amar.

Sinto? Enquanto teclo vagarosamente cada sílaba, hesitante sobre o que sinto, pergunto, mas que escreve ela?

E quando me olham nos olhos e eu fujo com o olhar, sinto. Sinto que os olhos não mentem e não me quero mostrar.

Quando vejo um reflexo de uma qualquer mulher que passa, vestida como eu, pergunto, quem é aquela que ali vai?

Sinto, sim, a venda de névoa que coloco para sentir outra coisa, em vez da dor que sinto.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Peão

Já tenho escrito e falado sobre lugares de poder, de centros de energia pura onde os acontecimentos e sensações são potenciados... Este é um desses, um local onde o tempo corre mais devagar, onde o ritmo que se respira é diferente e onde as valsas que se vão dançando são mandadas.
Hoje fui peão de um qualquer jogo que desconheço e como bom soldado limitei-me a conferir os estragos e a informar quem o joga. Senti-me ferramenta, com o dedo que adivinha a fazer as perguntas certas e a ouvir as respostas que me conduziram para um momento em que percebi claramente que me ultrapassava e o qual não tive hipotese de interromper.
Quando a sequencia de acontecimentos nos coloca nesses instantes, e não têm sido poucos nos ultimos tempos, sinto-me a cumprir um papel que agradecia que não fosse o meu.
Quando lá estamos e, para cumulo, ainda alucinamos e colocamos a cereja no topo do bolo, o melhor é deixar fluir. Deixar fluir e quando acaba avaliar estragos e espalhar informação.
O mais curioso é que cada vez que coloco peças no puzle e tenho uma visão mais alargada, maior é o jogo onde sou colocada. O tabuleiro de xadrez aumenta e percebemos que os limites do enigma se alargaram, mais uma vez.
Tive a clara sensação que isto me ultrapassou, que se o momento tivesse sido previsto e evitado, algum ajuste não teria ocorrido. Senti claramente esse alinhamento e direccionamento de energias.
O dessassossego de ser eu a cumprir um papel que não me competia (ou competia?), num jogo de poder e politica de aparencia não me abandona. Se lá estava, não era para estar mais ninguém... parte das consequencias consigo prever... mas ainda há qualquer coisa que me está a escapar...
Garanto que pensava que estava de ferias por uns dias... daqueles em que não penso em nada de especial, em que aprecio a natureza e o silencio e enfio os pés na areia!...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Num qualquer futuro

Escondo os olhos atrás dos óculos escuros enquanto relembro os detalhes de um qualquer futuro.
As mãos que nunca se largaram, a confiança que nunca foi traida, as oportunidades que não foram perdidas.
São ambos jovens e esperançosos. Ela de cabelo negro e liso, olha timidamente por debaixo da franja e observa os gestos dele. Ele hesita. Pondera o quanto tem para oferecer... é uma oportunidade que não se vai repetir tão rapidamente. A hesitação prolonga-se enquanto a dureza atravessa o olhar, a frustração de saber que aquele momento merece melhor, que aquele amor merece mais e de não ter mais para oferecer.
A mulher pondera enquanto o observa. Ela tem um pouco mais que ele para oferecer... não muito mais, mas o suficiente para tornar aquele o momento deles, para dar o que aquele amor merece. Estende a mão para a dele e aperta-a. Levantam os olhos e admiram-se mutuamente. Sim, pensa ele, quase tão alto que o ouço do meu ponto de observação, sim, aquele amor merece melhor que o que tinham inicialmente. Aperta a mão dela firmemente e oferece-lhe o que tem. As mãos seguram-se num abraço e descobrem que quando juntam o pouco que cada um tem, sem reservas, transformam-no em muito... e que a soma das suas partes tornou aquele momento perfeito. Quando ambos se apercebem que aquele amor merece mais.
Acordo a recordar as faces, as mãos, a sensação de oportunidade rara... De estar a ser-me dada a oportunidade de ver um filme antigo projectado no futuro. De um sonho projectado num qualquer futuro...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

No Fundo do Mar

Paramos junto ao vidro e não resisto. O chão tem alcatifa azul e macia... Olho para baixo enquanto me pergunto se também ela terá água. Sento-me encostada ao vidro e à parede e peço ao meu filho para me acompanhar. Passo as mãos na alcatifa enquanto cruzo as pernas e arranjo espaço para ele se sentar entre elas. Nem um pouco de humidade... os olhos desviam-se do escuro para o azul e prata, para os reflexos e ondulações, para os movimentos dos peixes que passam suavemente junto ao vidro, completamente alheios aos vultos que se encostam e dedilham aquela superficie estranha. É só mais uma supefice, só mais uma fronteira para um mundo que só conseguem adivinhar. Volto a passar os dedos no chão em busca de algo que me prenda aquele reino, que me faça sentir, mais que ver. Passo a mão para o vidro enquanto o olhar continua hipnotizado pelo ondear da luz.
As pessoas passam junto a nós e hesitam um segundo. Talvez se queiram tambem sentar no chão encostadas ao vidro, penso, enquanto me encosto mais ao vidro e à parede, na tentativa de criar mais espaço para quem passa. Ou talvez estranhem a posição confortável junto a um mundo tão estranho e diferente, tão aparentemente esmagador. Sinto o vidro com os dedos, encosto a palma da mão e fecho os olhos... sinto a vibração, a diferença que pode passar por frieza... não é... é so muito diferente. Que energia tão pouco habitual... Abro os olhos e olho atenta para onde o meu filho dirige o olhar. Para cima, para o fundo, para os tubarões que passam tranquilamente. Tem o ar de espanto e admiração que eu própria devo ter. Como é que se vai para o outro lado do espelho? Passo outra vez a mão no tapete azul. É quase frustante, é mesmo ali ao lado, à distancia de uma mão. Uma mão pequenina a companha a minha e voltamos a tocar no vidro... um peixe pequeno aproxima-se e fica junto às nossas mãos. Tão querido, diz o meu filho, enquanto de ergue e dá um beijo no vidro, na direcção da boca do peixe prateado. o gesto dele faz-me realizar o contraste com as pessoas que passam e nos olham de forma hesitante. O mundo à volta girou mais depressa ou este tempo aqui parou? Aos olhos que se movem com a fluidez ondulante da luz o tempo parou e o vidro desapareceu. O escuro atrás de nós transformou-se em azul e o resto do mundo desapareceu... Azul e prata... que contraste maravilhoso, ponteado pela areia e pelas rochas. Esqueci-me das pessoas e elas esquceram-se de nós. Respirámos calmamente a água azul e a luz, respiramos o sentimento e a emoção... Passeamos no fundo do mar, sentimos as rochas e beijamos os peixes, alheios à distancia e à diferença. Que bonito, deixo escapar por entre os lábios. Regressamos os dois do outro lado do espelho, do fundo do mar, olhamos um para o outro e ele levanta-se rapidamente, enquanto esclama, vamos mãe! As crianças são mais rápidas a mudar, penso, quando é minha vez de hesitar. Não me apetece saír do meu mundo, do fundo do mar. Regressar à superficie é um esforço. Levanto-me encostada ao vidro e demoro mais uma vez a mão a sentir aquele universo. Tão diferente, tão pouco habitual. Tão silencioso e profundo...
Houve um conceito que comecei a passar ao meu filho, nesta viagem ao fundo do mar. Mostrei-lhe a superficie e depois o que está por baixo dela. Mostrei-lhe o que perdemos quando olhamos só para um dos lados da fronteira e como podemos, se soubermos como, ir ao fundo do mar... A parte dele que se identifica com os dois lados do espelho, que reconhece a beleza na diferença, essa, só posso não limitar.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Peixinhos Vermelhos

Nem sei muito bem porque mas apetece-me contar esta estória. Não foi pela importância da pessoa em si, que teve a importância que teve, mas há algo nela que me faz sorrir e perceber um pouco mais sobre a forma como nos relacionamos.
Podia ter-se passado com qualquer outra pessoa, visto ser uma estória igual a tantas outras que se passam por aí...
Quando o reencontrei, com um nome igual a tantos outros e lhe fiz a maior festa, fui bastante responsável pelo interesse dele. Tenho a mania do flirt, pronto, confesso que essa forma de festas no ego me agrada. E o facto de ser um homem bonito e sedutor tornava o flirt muito mais interessante.
Flirt sem consequencias é coisa que não existe. Não existe mesmo. De cada vez que flirtamos só podemos estar à espera de algum tipo de reacção e, consequentemente, de consequências. Como é que poderia estar à espera de ser só mesmo isso. Flirt é flirt e, na cabeça de qualquer homem, só significa uma coisa, interesse. Interesse pelo que não nos interessa muito. Está toda a gente farta de saber que o que interessa a homens e mulheres são coisas diferentes. Eles podem fingir que não e nós podemos continuar a pensar que não... que procuramos todos o homem ou a mulher perfeita na sua imperfeição. Os principes e princesas encantados. Até pode ser esse o objectivo final dos homens, mas têm uma foma bem diferente de lá chegar.
Para tornar as coisas ainda mais complicadas para o meu lado, tenho um flirt um pouco intimidante... olhos nos olhos, sorriso constante e conversa com terceiros e quintos sentidos. Não posso tecer pior armadilha a mim mesma. Salvo raras excepções, em que sei perfeitamente para onde estou a ir e o que procuro naquela pessoa, acabo sempre com um "Upsss, já te estás a meter em confusões, outra vez..."
Esta forma de flirt inconsequente é o mais flexivel que se possa imaginar e tão mutável quanto eu propria. Depende de inumeras coisas, desde o meu estado de espirito, à hora do dia e da pessoa que tenho à minha frente. Não gosto de lugares comuns e tenho tendencia para desarmar joguinhos quando passamos a jogos de palavras. Ou seja... É preciso ser homenzinho para me aturar.... Sim, homenzinho! Tenho esta tendencia idiota para perceber as fragilidades e necessidades, as motivações e interacções. Dou por mim a ter dialogos mentais onde me explico por A mais B o que se está a passar entre mim e a pessoa que estou a provocar.
O que torna estas situações absolutamente fabulosas é o momento em que passo a ser provocada... aí nunca sei como reagir, nunca sei o que dizer e surge a minha faceta dos 15 anos, eterna adolescente, em que fico aflita e só sei responder com um sorriso, porque perdi o controle da situação....
Foi o que se passou com este menino crescido, cheio de maturidade e que me desarmou em menos de nada. Conhecedor estes jogos intemporais e com os anos de treino que me faltam.... Sedutor nato.
Já tinhamos passado algumas tardes de conversa e flirt e numa noite de festa aproveitou, ou apeteceu-lhe, tentar a sorte. Ficam algures na memória ter sido meio arrastada para fotografias abraçados e dançarmos olhos nos olhos... até aqui estou em terreno firme. Deixei de o estar quando me vem oferecer uma bebida e se encosta à vedação do bar de praia. Quando começa a falar todas as minhas luzes vermelhas se acendem e a pergunta tipica surge "Como é que saio desta?"
Como é que saio desta ou quero sair desta? Mais luzes vermelhas se acendem quando percebo que o acho interessante e inteligente, apesar das tiradas infelizes no momento e quando realizo isso, percebo que estou bem lixada. Surge o factor risco e toda a conversa dele, directa e sem rodeios em que me diz directamente que me acha isto e aquilo, que está interessado e que quer ter uma aventura de verão e etc e etc e etc e por aí a fora. Metade das coisas nem ouvi... mas senti. Farto de estar em Portugal, prestes a emigrar, com a mente completamente fora daqui e a viajar já por climas mais quentes e distantes. So cá estava o corpo e agumas das conversas que já tinhamos tido haviam sido sobre o que o levava a querer sair de cá, deste jardim à beira mar plantado. Só cá estava o corpo dele e eu sabia. Já cá não estava a mente e muito menos o coração... e eu sabia. Mas também sabia que o achava interessante e inteligente...
Ele continua a falar e a seduzir e eu, às páginas tantas, interrompo-lhe o discurso e digo-lhe... "Espera, há uma coisa que preciso de dizer.... sei que vou estragar toda a magia e beleza do momento que estás a construir mas não consigo dizer isto de outra forma."
Isto passou-se na pior fase deste Verão, na fase em que menos disponibilidade tinha para mim própria e que estava completamente focada noutras questões, bem mais urgentes e importantes que qualquer pessoa que me surgisse.
"Vou ser o mais franca que posso e o mais honesta" Ao que lhe explico mais ou menos a situação pela qual estou a passar. "Como podes imaginar, não tenho, não quero e não me apetece desassossegos. Não quero jogos, nem brincadeiras, não quero diz que disse ou fez que fez. Não quero, nao tenho cabeça nem vou entrar em brincadeiras. Para cumulo tu és uma pessoa por quem corro o risco de me apaixonar e não me aptece sofrer. Tenho mesmo mais que fazer e coisas mais importantes onde preciso de me focar. Tenho mesmo mais em que me ocupar."
Respiro fundo e continuo "Agora imagina que te digo que sim, que me apetece uma aventura de verão, que me apetece uma noite, que me apetece estar contigo e estaria a mentir se dissesse que não. Só te peço uma coisa. Não me vais ouvir, nem vais sentir que te peço mais nada. Só te peço honestidade. Sê honesto, sê verdadeiro, diz-me o que sentes e o que queres e não entres em jogos que não vou jogar neste momento. A dizer sim, quero, essa é a minha unica condição".
Poucos homens sabem reagir a um pedido destes... ele soube. Quando foi a vez dele de ficar desarmado com a minha tirada, soube respirar fundo e mudar de estratégia. E foi a vez dele de perceber que poderia muito bem estar lixado. Li os olhos dele nesse preciso momento e percebi isso. Percebi que poucas vezes as mulheres dizem o que realmente lhes vai na alma nesses momentos, que poucas vezes mostram o cansaço deste tipo de situações e o quantas vezes já ouviram a tirada tipica do "Tens os olhos muito bonitos" dito de trezentas formas diferentes. Já estive aí, já ouvi isso, já fiz isso. Originalidade e honestidade são duas coisas que não abundam e raramente andam de mãos dadas nas tecnicas de.... ia dizer sedução... e isso é para uma proxima estória, mas o mais correcto é chamar as coisas pelos nomes. A grande maioria dos homens e mulheres não sabe seduzir. Sabem engatar, mas não sabem seduzir. A sedução é feita de subtileza e gentileza, é feita de inteligencia e sensualidade, é feita de gestos, olhares e palavras com quintos sentidos. Tudo o resto é engate e dai para o ordinário é um passinho apenas.
Poucos sabem reagir a um pedido de sedução honesta. A um pedido de "Ok, eu quero e tu queres, vamos lá tornar isto bonito." Como na musica do Variações, sim aquela que se diz do engate...
Ele soube seduzir, soube ser inventivo e inteligente, soube adaptar-se e mudar de discurso. Jogou o meu jogo a partir dali e eu, no fim, agradeci-lhe. Como numa dança a pares, repleta de sensualidade e magia em que, no fim, paramos para respirar fundo, nos recompomos da partilha e agradecemos ao par o termos-nos esquecido de tudo o resto.
Como na vida e para não criar ilusões dizemos "É só isto o que tenho para te dar", com todo o carinho. E está tudo bem. As seduções repetem-se, assim como as partilhas, desde que se entenda a magia que essa arte contém. Ao fim ao cabo, só lhe estava a pedir para ser ele mesmo, para ser inteiro enquanto ali estivesse.
O momento passou e deixamos de estar inteiros. Ele e eu porque tinhamos a cabeça e o coração noutros lugares. Ali, nos restantes fins de tarde, já só ficaram os olhares distantes...
O que não a maioria não entende é que para repetir esta partilha a sedução tem de voltar a acontecer, tem de voltar a nascer e crescer. Tem de existir, não um jogo, mas a procura honesta do outro.
Homens deste mundo... as Mulheres flirtam e os Homens seduzem.
Isto não tem nada de saber. Se a mulher faz a parte dela e o homem não faz a dele, não há como estes momentos se repetirem. Nesse verão continuei a flirtar com ele, mais uma vez aquele tipo de flirt inconsequente, supostamente sem consequencias. A perceber que não estava disponivel para ser honesto e estar inteiro, sem fazer a parte dele de forma consistente. As poucas vezes que se tentou voltar a aproximar, levou com um sorriso sem acusações e com um qualquer comentário evasivo. Não voltou a seduzir-me, apesar de continuar a haver conversas ao por do sol.
Fica-me também na memória o estranho telefonema que me fez na vespera de se ir embora... tinhamos falado na eventualidade de ficar com os peixinhos vermelhos que tinha num pequeno aquario em casa dele. Na vespera ligou-me a dizer que se ia embora no dia seguinte e perguntou-me se podia passar por casa dele. Queria dar-me os peixinhos. Respondo-lhe, após uma hesitação e um riso mal disfarçado, que não ia ter disponibilidade para passar por lá. Mas que ia estar em minha casa e que podia sempre ir lá deixar-me os peixes. Sabia perfeitamente que não o faria, que não ia conseguir sair da sua zona de conforto. Disse que depois me ligava para combinarmos enquanto lhe respondia que sim, sabendo perfeitamente que não.
Quando desligou pensei com um sorriso "Peixinhos vermelhos são só peixinhos vermelhos... estão num aquário redondo que limpa cuidadosamente dia sim, dia não e a quem trata com mil cuidados..." Estes simbolos são curiosos e até acho engraçado perceber que me sentia merecedora de cuidar dos unicos seres vivos, não humanos, por quem tinha afeição e a quem dispensava atenção...
Mas houve algo que falhou redondamente... e fazendo minhas as palavras do Exupery, Somos responsáveis pelo que cativamos.
Apesar de saber que o cativei de alguma forma, não me contento com projeções. E não me lembro de ter cativado nenhum peixinho vermelho nesta estória toda...

domingo, 20 de setembro de 2009

No primeiro momento de acalmia

Um regresso a uma casa imaginada, ao som de musica e com o sabor do chá verde e menta, misturado com doce. Com o doce sentimento de Bem Vinda...
Um regresso à calma depois do grito interno crescente, que se esvaiu numa única lagrima e num gesto de apaziguamento...
Regresso às rotinas depois de um Verão distante de tudo o que me pudesse fazer parar e sentir mais que o cansaço.
Quando aqui regressei com tempo, há poucos momentos atrás, quando abri este momento, senti um sorriso de reencontro com a mulher que dança, que rodopia e se centra calmamente nas suas origens, no seu coração, enquanto vê o mundo girar.
Já não era sem tempo... já era tempo!
Girei entre loucuras e cansaço todo este verão, sem dar sequer pelo calor, a não ser pela necessidade de roupa mais fresca, de espaços mais frescos enquanto o grito ia subindo pela garganta, ia subindo num crescendo violento, convulsivo, proprio de mudanças subitas e impostas. Girei, perdida de mim, meia perdida pelas experiencias e pessoas mundanas, sempre com a noção desconcertante de que estava no sitio certo no momento exacto em que tinha que estar.
É curioso o quanto esta noção nunca me abandonou, apesar de me perguntar constantemente "De certeza?"
De certeza que sim? Agora a sério... tudo isto é mesmo necessário?
Ainda não sei se terá sido necessário, ainda não percebi muitas das coisas que me deixei viver(?)... ó por deus, nem agora, enquanto escrevo, essa sensação me abandona. Mas enquanto não largar a certeza do coração que me diz que sim, que era mesmo e é mesmo para ser assim, vou-me deixando ir.
Encontrei pessoas, por essas esplanadas e viagens afora que me foram relembrando o que por cá ando a fazer, o que não posso esquecer, qual a linha condutora, esse fio invisivel aos olhos, mas que com os olhos de dentro é o mais brilhante por entre a escuridão.
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Este foi o terceiro dia de descanso em dois meses... isto diz alguma coisa? O que diz? O que me diz é a certeza que no meio da tempestade continuo a conseguir não me perder. E isso faz-me ter mais certeza do que sou. Conseguir ter mais ou menos noção de quem sou, de onde vim e para onde tenho de ir. Tenho e quero ir... Que, no primeiro momento de acalmia, finco os pés no chão, olho em volta e percebo que a tempestade me colocou num local diferente de onde estava, mas não mais distante do ponto de chegada. Com uma visão diferente, a fazer precursos diferentes, mas que me retiraram do marasmo em que me sentia, que me obrigaram a dar o tal e tão adiado salto em frente e mergulhar num vazio, que não era vazio, mas um turbilhão de vento. Sem me deixar sequer respirar, experiencia mal digerida e integrada, atrás de experiencia, pessoa mal conhecida atrás de pessoa...
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Coisa estranha a Vida... coisas a que nos propomos, a que dizemos que sim e depois quando cá estamos, quando cá chegamos, questionamos...
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Já não me sinto menina grande... sinto-me mulher!
Mulher em toda a amplitude da palavra, num mundo que se tem habituado a ter pessoas que se contentam em ser menos de metade do que realmente são, Mulher inteira num mundo de pessoas que estão habituadas a verem os outros pela metade do que são...
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E no primeiro momento de acalmia percebo o que aconteceu neste percurso, percebo o que passou pela mente da pessoa que recusei com a mente e por quem o coração continua, no mais fundo de si mesmo, a ansiar; percebo o que passa por detrás dos olhos de cada pessoa que se tenta aproximar; percebo, claramente percebo, que aconteceu uma metamorfose, um nascimento, uma transformação profunda e ampla, em que, ao viver mais um pouco, mais um ciclo solar, mais uma estação, mais uma tempestade, uma mudança, me limpei, purifiquei como se uma preparação para um casamemento se tratasse, para viver este ciclo de 5 com menos ingenuidade.
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No primeiro momento de acalmia, quando finalmente me sento aqui, à frente de mim mesma, sorrio em boas vindas à Mulher e me despeço, sem tristeza da menina.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

You will find a place were you belong

"Dont give up
cos you have friends
Dont give up
Youre not beaten yet
Dont give up
I know you can make it good"
Esta oração é para ti A.
Para que saibas e sintas e vivas a felicidade de estar Vivo...
Ninguém disse que era fácil, mas estamos todos de mãos estendida apenas à espera que a aceites.
Aceita!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

.:: Sons de Encantar ::.

.::: Algures entre o céu e a terra fazem-se sons de encantar :::..

Qualquer coisa despertou nas catacumbas da cidade com um apelo daqueles...

Um apelo de duas almas, quatro mãos e dois sons entrelaçados e enleados.

O som dos metais que se transforma em benção de agua, nas paredes das fundações de Jerusalém.

Não é a cidade de deus, é a cidade dos homens.

E o que aquele som desperta nas catacumbas, no mais fundo do coração de uma cidade e dos homens é algo de muito belo.

Não sei se sabiam o que estavam a fazer ou o porque... mas quando sairam arrepiados daquele momento devem ter tido uma pequena noção da dimensão da oração que construiram e lançaram nas raizes daquele lugar...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Diz

Diz-me a verdade
Mas toda a verdade.
A dos olhos que não mentem
e do coração que não grita.
.
Só peço isso,
que mais queres tu de mim
Senão a verdade,
A minha verdade.
.
Diz-me a verdade,
A tua verdade
Essa que não encontra a minha.
.
Quando acima de todas estas
Nos olha a outra,
A verdade.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Perder o Tempo

Pediram-me para deixar de escrever para mim e começar a escrever para os outros...
Percebo este pedido, sinto que mais tarde ou mais cedo o que escrevo será cada vez menos sobre mim e será cada vez mais sobre nós... e pouco tempo depois ouço e lembro que só por estar já nos mudamos uns aos outros. Só pelo que somos.
Sou também isto, esta escrita egoica e centrada sobre o seu próprio umbigo, pelos desejos e anseios partilhados, pelo reconhecimento das fragilidades humanas e pela aceitação que a unica pessoa a quem tenho realmente de agradar é a mim mesma.
Largo tudo e vou a correr ter com quem me rodeia e precisa com a mesma facilidade com estas linhas surgem, não destingo as cores dos outros, sem ser a dos olhos com a mesma naturalidade e distracção com que aqui regresso, revolto-me com as injustiças com a mesma suavidade com que me deito tranquilamente depois de escrever.
Chamam-me doce e penso não assim tão doce. Aqui dentro algo crepita constatemente, como um lume que estala e se contorce. Que me pode consumir se não deitar cá para fora a labareda dos medos partilhados por toda a gente.
Podia escrever tudo isto de forma lirica e na terceira pessoa. Podia arranjar uma metafora bonita e floreada para quem a quisesse ler. Percebo que mais gente se identificaria. Podia passar conhecimento e falar da minha experiencia de auto-conhecimento e espiritualidade. Podia passar o meu processo e as descobertas de forma mais ou menos generalista. Sinceramente? Não me apetece. Porque o faço e fiz essa troca de braços abertos, olhos nos olhos, braços nos braços.
Quando digo que não me agrada o conceito de mestres é por saber o quanto não o sou e o quão facil é cair na tentação de parecer. Podia fingir estar a dar uma lição, estar a dar uma aula mas isso só faria aumentar o crepitar.
O medo de ficar sozinha e, no entanto, saber que ninguém realmente o está é a maior partilha que posso fazer. Não esconder que sou humana e incarnada, que vivo aqui a aprender, a adaptar-me a mudar, a aceitar, a acreditar que SIM, apesar do medo fazer parte de mim é uma das formas que tenho de partilha. Não posso e não vou fingir textos canalizados, palavras encantadas e cheias de pedagogia espiritual. Não vou, não posso e não quero. Não consigo falar nem escrever sobre essa mim a pessoas a quem não conheço e não senti. Não consigo, nem posso escrever directamente sobre espiritualidade que não seja vivida a aceitar que somos todos humanos incarnados e repletos de medo e fantasmas. Sou o que sou. Aqui e agora sou dual, como carne, faço asneiras, bato com a cabeça nas paredes e com o nariz no chão. Durmo pouco e acordo de mau humor se não sentir o que faço. Não tenho, nem vou fingir que sei muito ou pouco sobre tudo e sobre nada. Fico zangada comigo antes de chorar e aliviada depois, mas choro que nem uma maria madalena arrependida. Sou levada por paixões e recolhida em solidões. Sou o que sou!
Aqui e Agora Sou Humana Incarnada de Um Sol
Sou humana incarnada de um sol, com um ego enorme, que levanta o nariz e se faz de forte com a mesma rapidez e facilidade com que se ri de uma conta exagerada numa esplanada ou se afasta quando dói.
Não posso, nem vou fingir que não sou tudo isso aqui e agora. Vou mostrar, rasgar-me, tirar e largar todas as peles de cobra, deitar abaixo o medo de me abrir e partilhar o que estou.
Sou Feliz
Sou Bem
Mesmo quando não o estou é o que sou. Fingir que sou algo menos ou mais ou que não estou, às vezes, da melhor forma, é criar ilusões em mim e nos outros.
Estou num momento em que preciso de viver a espiritualidade de forma práctica e eficaz. Sem rodeios e pedagogias, sem lirismos nem conversa fiada. Como é que posso aplicar isto de forma practica? Como é que posso utilizar o que sei para me centrar e estar centrada com os outros?
Sei que muita gente lê estas frases e louvo a paciencia de quem chega ao fim. Não tenho a pretensão de ensinar ninguém e mesmo na minha vida pessoal, com as minhas pessoas tenho a mesma atitude. SIMPLIFIQUEM! Não me vale de nada esconder que sou orgulhosa e teimosa, persistente e refilona. Que reclamo quando me fazem passar gato por lebre. Não sou gato, nem sou lebre. Sou pessoa, sou humana a aprender, a crescer, às vezes a desistir.
Recuso falar sobre essa parte de nós como recuso deitar cartas a quem sinto que não posso. Não escondo o que sou e cada vez menos gosto de estar escondida, de estar no meu ninho. Cada vez mais sinto que o meu ninho é o mundo e que de mãos dadas com os outros somos maiores que o mundo.
Quando escrevo o que sinto, escrevo com o coração todo, escrevo o que tenho de escrever, para o melhor e para o pior. E, curiosamente, é a mensagem que mais me apetece passar a quem se acha diferente da multidão. Não somos diferentes de ninguém, não existe ninguém diferente, ninguém especial. Somos todos iguais em diferentes tempos. São os tempos que nos fazem parecer diferentes, que criam essa ilusão. Hoje, aqui e agora estou aqui. Amanhã estás tu neste aqui e eu nesse ai. Se perdermos o tempo ficamos iguais. A unica forma de perder o tempo é aceitar os tempos dos outros e aceitar que estamos no nosso próprio tempo. Tão simples quanto isto... sem perder tempo.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

In the right place at the right time

Alguém diz uma frase e, de repente, olho em volta e cambaleio... mas o que se passa aqui?
Estas cores, esta frase... Olho a pessoa nos olhos para perceber se sentiu o mesmo. Não sentiu nada, continua a falar despreocupadamente. O que é que ela disse mesmo? Já sabia isto. Já sabia que se ia passar assim. Tinha a certeza que o resultado andaria por aqui. Mas não esperava o abanão, não esperava a confirmação...
O que foi que disse mesmo? O momento passa e pergunto-me qual será a importancia disto. Quais as consequencias e ajustes. Deixamo-nos levar e fluir levemente, temos imensas pistas que é por ali. Tive que fazer opções para ter estado exatamente onde estava naquele instante. Não vou entranhar-me com a musica e a dança na proxima semana. Estou a sentir-me com saudades do que gostaria de ter feito. Mas continuo a saber que estou onde tenho de estar.
Foi um dejá-vu? Já tinha ali estado, já tinha sonhado com aquele frase, com aquele momento e com alguns dos que se irão seguir. Já sabia aquelas frases. Não sabia todas... mas sabia as que abrem uma caixa dentro de mim.
Já sabia que ando a ser, desde que me alinhei comigo mesma, uma força motriz para os outros. Uma fonte de mudança e estabilização. Uma fonte de força para tomada de decisões... à mão de quem quiser apanhar a embalagem e à mão de quem quiser aceitar a minha energia.
Como se todo o universo tivesse conspirado durante anos para confluirmos para aquelas circunstancias, para aquele instante. Quando estes momentos são preparados cuidadosamente, quando lá chegamos sentimos e reconhecemos a força da junção e alinhamento de energias.
Quando estamos no sitio certa à hora certa...
A minha vida muda (.)
A vida dos outros (.)
Muda a minha vida (.)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ouvir sem calar

Percebi que menti
Hoje ao entardecer;
Não menti por querer
Mas apenas por ouvir
E não dizer mais nada.
Percebi que menti
Quando, sem falar,
Apenas ouvi
Sem falar nem omitir.
Ouvi e ouvi
E fiz acreditar
A quem não se calou
Que tinha repetido
Exactamente o que
Ouvi, sem falar.
Percebi que só
Por ouvir e estar
Fiz acreditar
A quem falou sem
Se calar, que pensava
O que ouvi e não repeti.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Inspiração

Ato o cabelo com um nó, num gesto rápido e lanço os dedos ao teclado. Este dedilhar rápido é um processo que questiono muitas vezes. Faço algumas pausas, só a olhar para as letras e a procurar inpiração. Inspiração...
Inspira, expira
Expira, inspira
E até que é um processo de ventilação... De onde é que vem a inspiração, o que é isso de inspiração? A leitura e o interesse pelas palavras, o reconhecimento pela beleza de uma ordem nas palavras, de uma determinada ordem de espaços e letras que traduzem uma ideia, um sentimento ou uma emoção sempre me encantou. Como me encantam as borboletas e as papoilas ou o cair de areia de uma mão. De onde vem a clareza quando ponho ordem neste turbilhão?
Como é que as outras pessoas fazem? Ou não precisam?
A necessidade da ordem para não ser subjugada pelos sentimentos. Saltito, seduzo, observo, mudo, absorvo, volto a seduzir tranquila e inconsequentemente. E sinto. Sinto tanto e tão profundamente. Questiono, pergunto, penso e ao mesmo tempo aceito. Um dia de cada vez. Uma paixão de cada vez. É um facto que de cada vez dura cada vez menos... Mas vivo apaixonada. Apaixonada por pessoas e momentos. Danço, flutuo e amo. Por fora nunca percebo o que os outros veem até ao momento em que o mostram. Mas por dentro o mundo é cada vez mais branco. Ou pelo menos hoje foi.
Estava a falar de inspiração? De por ordem ao que sinto e vejo. De por ordem ao que penso. Mas é mais que isso. Porque quando conto, quando descrevo por sons saem-me factos, acontecimentos e nunca consigo transparecer a profundidade, as camadas por debaixo das camadas. Não consigo descacar com exactidão e atingir o cerne da beleza daquele momento, do que me fez sentir. A inspiração vem daí. Exactamente daí! Da memória do que senti. Talvez da tentativa de reviver aquele momento, talvez da tentativa de o reviver com outra visão. De subir um pouco o monte e ganhar uma vista diferente. Inspiração...
A inspiração é um processo activo em que agimos em tensão. Colocamo-nos em tensão. E a seguir à inspiração segue-se necessáriamente a expiração. Aquele momento do respirar fundo em que soltamos o ar todo que estava retido nos pulmões e o alivio chega.
Estava a falar de que inspiração? Do reter de frases, sentires e pensares ao longo de um certo tempo em que se vão acumulando até à fase em que é necessario deixa-los ir, deixar tudo isso seguir o seu percurso natural e desvanescer-se suavemente.
De onde vem a inspiração? Curiosamente do turbilhão. Do viver tumultuoso, das pequenas e grandes estórias, das frases soltas e pensamentos loucos. Vem dos sonhos a dormir e dos sonhos acordados. Da atenção aos pormenores e do reconhecimento da beleza sublime numa qualquer coisa banal. Vem da intensidade do amor, da tristeza, da alegria. Até vem, vejam bem, do cansaço e monotonia, se também essa for vivida.
Inspira, inspira, inspira, inspira... ora tentem lá! Chega um momento em que temos que por alguma ordem à casa. Algo tem de ir, alguma coisa tem de sair para dar espaço às coisas novas. É uma necessidade natural. O processo, a porta que se abre para o expirar é irrelevante. Mas a pressão tem de ser naturalmente aliviada para que não haja uma explosão. E para haver uma explosão já houve, há muito, uma implosão. Inspira, inspira, inspira....
BUUUMMM?....

domingo, 26 de julho de 2009

A Vida Redonda

Ando por Lisboa o ano inteiro, passeio pelas calçadas durante horas, sento-me em esplanadas com vista e nos passeios do Bairro e da Bica a beber ginjinhas, estendo-me na relva da Gulbenkian. Conheço pessoas quase todos os dias. Mas passo dias sem encontrar ninguém conhecido pelas ruelas e avenidas de Lisboa.
Numa noite e um dia nas ruas e lugares da minha "aldeia" encontrei por acaso pessoas que me relembraram onde gosto de viver, dos rituais que gosto de cumprir, das pessoas que gosto de encontrar.
Pessoas que não via há cerca de 5 anos. E passaram por acaso, ficaram por acaso e reencontrei por acaso...
Durante um dia extenuante é agradável abrir os braços a estas pessoas. Como se a distancia de um rio, de um salto para a areia ultrapassasse universos, dobrasse o tempo e me fizesse regressar ou encontrar um lugar unico no espaço e no tempo. Aquele em que a saudade desaparece, o sol inunda a alma, o corpo respira fundo e as ondas embalam o ar.
Como se o ar fosse mais limpido, as cores mais vivas e o cinzento ainda não tivesse corrompido aquele pedaço de terra.
As distancias são maiores e os caminhos nem sempre conhecidos. Mas existe algo de eterno e familiar, existem memórias e novos começos. Existem as memórias dos outros e sempre novas pessoas. Como se uma simples travessia me transportassse para um imaginário diferente, onde tudo está mais à flor da pele. Onde tudo é mais real e Lisboa, vista ao longe, parece pequena e tacanha.
Foi uma noite tranquila, apesar da dificuldade e tempo para aqui chegar. Foi um dia cansativo. Mas houve uma verdade que veio ao de cima. Uma verdade daquelas que é comprovada pelo tempo e pela vontade no regresso.
Sempre e onde somos felizes, sempre e onde somos verdadeiros e consistentes no que somos essa verdade acaba por nos encontrar. A verdade de um momento, há muitos anos atrás, de um gesto simples, de uma atitude, de um reflexo do que sou que, passados todos estes anos, me surpreendeu e me retribui na forma mais simples de um circulo, me presenteou com uma atitude e um gesto, que me garantiu que fazemos a diferença na vida uns dos outros quando agimos em verdade com o que somos. Que na simplicidade do que somos fazemos parte do barro que nos une uns aos outros e ao mundo.

domingo, 19 de julho de 2009

A lua sorriu

O mar respirou fundo, a lua passou e sorriu...
A tempestade finalmente acalmou e nesta acalmia recontrei velhos e novos corações.
Amei e fui amada por palavras, defini sonhos e objectivos, desenhei novos caminhos.
Assumi uma velha paixão e caminho com a dos outros.
Descobri algo que quero e tudo mudou.
Gosto deste começo.
E a lua sorriu.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Desabafo

Continuo sem conseguir abrir a boca para dizer o que sinto. E, apesar da escrita esporádica, deixei-me levar a um extremo este fim de semana. Será preciso contextualizar? É preciso explicar tudo, sempre? Onde andam as pessoas que basta olhar para perceberem que algo de errado se passa deste lado dos olhos? Tenho ficado calada, juntado forças para mim e para quem me rodeia, aceite oportunidades e novas prespectivas... sem grande alarido. Descarrego por aqui de vez em quando... mas nem aqui me tenho permitido ser demasiado obvia. Talvez porque este blogue já não seja assim tão incógnito. A verdade é que, à conta de querer aprender a expor-me, quando não quero, tenho de engolir em seco. Recuso-me a inventar outro espaço virtual. Este tem sido o meu canto de desabafo e de abertura. Tenho sempre os cadernos e os guardanapos de papel de uma qualquer mesa de café. Mas, curiosamente, não cumprem o seu papel. Papeis que não cumprem o seu papel. Esqueço-os no fundo da mala, amarroto qualquer vestigio de um desabafo mais violento...
E o acumular, este acumular de tensão sem valvula, sem escape fez-me ter a reacção esperada e previsivel com alguém ao telefone... bonito...
Mas é sempre preciso explicar tudo? Exponho o que vou sentido, mas não exponho factos. Faço-o muito raramente e sempre enquadrados... ou não.
Esta mudança é bem mais que um ajuste. Está a ser uma violência! Só me dá vontade de rir, enquanto escrevo isto. Aquele riso que esconde as lagrimas que apetecem. Vai mudar todas as minhas rotinas, vai mudar onde vivo e com quem vivo, vai ignorar a minha privacidade e espaço. Está a mudar-me e a mudar as minhas pessoas. Vai mudar o que faço e, talvez, a forma como o faço.
Muitas destas mudanças são muito boas e bem vindas. Outras são... são o que são. São uma necessidade, uma aprendizagem, o que lhe quiser chamar. É tudo isso e muito mais. Mas é demais.
Alguém disse ou ouvi de alguém que as dificuldades e "provas" surgem à medida que estamos preparados para elas.... É um facto da vida. Pelo menos da minha.
Muito, mas mesmo muito raramente dou parte de fraca... e sorrio outra vez.... simplesmente porque não sou fraca, o que quer que isso significa e não me está mesmo a apetecer estar a discursar ou a tentar perceber esta frase que até pode ser infeliz. Fica a nota de rodapé para uma futura análise... típico! Moi meme no seu melhor....
Não tenho que estar a queixar-me nem a alimentar qualquer tipo de sofrimento inutil e contraprodutivo dentro de mim. Às vezes, muito às vezes, alguém especial apanha um ar triste ou distante. Às vezes, muito muito às vezes, alguém se aproxima e faz a pergunta mais simples: "Precisas de alguma coisa?" Não é que precise. A maioria das vezes não preciso de nada. Ou de muito pouco, mas nestes momentos é muito importante saber que estas pessoas estão lá. Muito, mas muito raramente, me ouvem a reclamar da vida, a queixar do que quer que seja. Posso reclamar de situações, de acontecimentos mas, quanto muito, ouvem apenas um "Isto nem sempre é fácil" acompanhado de um sorriso que confirma que não é facil mas não é impossivel.
Esta atitude geral, não particularmente neste momento, faz uma coisa muito simples a quem me rodeia ou tenta aproximar. Cria uma imagem de mim de auto-suficiente, independente, de personalidade forte, etc e tal e tal e tal. E sou tudo isso... a maioria das vezes. Mas quando é demais é demais. Quando é demais continuo a ser tudo isso mas vem ao de cima a faceta tipicamente feminina, a fragilidade. Por ventura escondo de alguém que também o sou?? Talvez esconda... ou então demonstro de uma forma que não é tão percebida. Afasto-me, isolo-me e procuro as pessoas que, eventualmente, que eventualmente nem sei... porque nestes momentos nem sei muito bem o que preciso. Preciso de ouvir muitas vezes que vai correr tudo bem. Mais que ouvir, preciso que me mostrem que vai correr tudo bem. Repito-o tantas vezes para mim mesma que as pessoas ficam convencidas que já sei que vai. Preciso de mimo e de um ombro. Preciso de estar rodeada de pessoas que me deixem à vontade para purgar e não fiquem assustadas se perder o controle e deixar correr uma lágrima. Ou até uma torneira aberta delas. Preciso de estar com pessoas onde sinta que posso ser eu mesma, em toda a profundidade e complexidade do meu ser. Isso ou ficar sozinha. Mas sozinha as lágrimas não têm chegado. O luto pelo que vou deixar não está a acontecer. Em vez disso existe esta sensação crescente de tensão e espera acumulada.
Perguntam-me "Estás bem?" e respondo "Estou!"
Hoje estive com uma pessoa a quem consegui responder com um sorriso "Não, não estou bem. Não estou bem e não sei exactamente porque nem o que fazer para me sentir melhor. Não estou bem... mas estou aqui." O que começou com uma cara séria e fechada terminou com um sorriso de alívio.
Não tenho que estar bem. Não tenho sempre que estar bem, apesar de estar sempre tudo bem. Não posso exigir de mim mesma ser capaz de passar por isto (pelo que passou e pelo que se adivinha) calma, centrada e bem. Não tenho que fazer um luto a sorrir. Nem consigo! Estaria a mentir a mim mesma e a não fazer a despedida desta etapa. Iniciaria uma outra com um pé no barco atrás.
Pronto! Tudo isto despejado fico mais leve. Não fico bem. Mas fico mais leve. Não tenho que ser perfeita. Não o sou. Sou tantas vezes uma miuda de quinze anos e outras tantas vezes uma menina de três. Nas outras lá tenho os 34. O que quer isso seja.
Tudo isto, toda a tensão e mudanças acabam por ter um efeito colateral curioso. Normalmente já tenho, devido aos desafios normais de ser mãe "sozinha" e às caracteristicas pessoais, as minhas prioridades tão definidas, que tenho a atitude de não dar importancia à grande maioria das coisas. Ouço, respeito, empatizo. Mas não as partilho. Não são as minhas. Acabo por viver num mundo que é dificil de fazer perceber a algumas pessoas.
Os acontecimentos recentes e a tensão acumulada acentuaram essa diferença. Tenho a certeza que com o tempo e com muita calma essa diferença acaba por se esbater. Mas neste momento está bastante vincada:
Quem estiver e quem vier, que venha por bem. Porque tenho mesmo mais com que me ocupar!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Timing perfeito

Tantos ajustes, tanta tensão, tanta espera...
Alguma coisa engraçada tinha que resultar daqui.
Faço uma vénia e agradeço aos senhores lá de cima por terem brindado estes momentos com este presente..
E não consigo deixar de sorrir ao jogo de palavras e aos segundos sentidos.
Porque, no fim, o que importa é quem nos rodeia,
E não o que nos rodeia.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Estado de sítio

É o que me sinto.. em estado de sítio! Relaxa, deixa-te te ir, habitua-te, vai tudo correr bem...
É o que me digo e ouço dizer. Mas já respirava fundo, já me davam um pouco de descanso, já me davam luzes a sério de que vai mesmo correr tudo bem. Afasto os fantasmas do pensamento com um abanar da cabeça. Respiro fundo para estar calma e atenta. para estar cá. Caminho horas a fio, pé ante pé, por Lisboa fora enquanto tento esquecer toda esta confusão.
De onde venho não me interessa, para onde vou... vai-me interessando. Onde estou é o que me ocupa e esse lugar onde estou está a deixar-me num limbo. Está a deixar-me estéril de ideias e saidas de emergencia. Tenho mesmo que fazer isto. Tenho mesmo de fazer mais este corte, mais esta mudança, mais este recomeço. Fui eu que o pedi... ironicamente, fui eu que pedi! Não foi exactamente o que pedi, mas fui eu que pedi. Um recomeço...
Mas um recomeço para o que? Limpo exaustivamente o local para onde vou, preparo-o cuidadosamente. Mas sinto-me quase sem bagagem. Faço, nessa limpeza, os cortes com o passado. Faço os meus e sou o motor dos outros.
Preciso de descansar. Preciso de alguns segundos sem ter presente o que me ocupa. Preciso, gostava que me deixassem parar. Que surgisse aquele sitio no eter onde podesse dizer: É aqui que quero ficar!
Esta é só mais uma curva apertada e, como em qualquer curva apertada, se não me seguro saio disparada, levada pela força da velocidade da propria curva. E enquanto me seguro, vejo que a curva continua, que ainda existe uma zona, ali à frente, que aperta ainda mais. Seguro-me (vão-me dando onde me segurar) e preparo-me. Ajusto o corpo à acelaração.... mas é impossivel relaxar...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Seria do chá?

Três pessoas à volta de um bule de chá. Não podiam ser mais diferentes. Três idades, três etnias, três formas de estar, três opções. Todos à volta de um bule de chá. Canecas na mão onde vai rodando o açucareiro e o próprio do bule. Um bule vulgar, é de acrescentar, assim como o próprio do açucareiro. As colheres vão remexendo vagarosamente, diluindo no chá o sabor do doce.
Que três estranhas criaturas as que se reuniram esta noite.
Se me perguntarem do que conversámos vou ter de pensar... ora deixa ver...
Três pessoas tão diferentes unidas pelas mesma imagem. A mudança, essa que nunca se sabe bem por onde vai. Um homem e duas mulheres de idades tão diferentes. Sou capaz de jurar que , às páginas tantas, não sabia quem era o ancião, quem era o sábio, quem tinha vindo procurar orientação. Era capaz de jurar que, a meio do chá, o ancião foi orientado, o sábio ficou calado e aquele que veio em busca de orientação acabou por amadurecer e aconselhar.
As conversas escorreram intermináveis, sobre tudo e sobre nada. Sobre o tempo não foi, que não me lembro. Mas sobre tudo o resto. Sobre o que é isso de amar. Sobre o que é isso de viver e até sobre o que é isso de escolher. Isso mesmo! Sobre o resto não me lembro, nem me lembro do que era o chá...
É verdade, lembrei-me agora, faltava um gato! Este gato que faltava tinha, não uma bota mas sim, uma pantufa. Era o gato da pantufa! Mas esse não bebia chá.
O que seria que faltava mais? Deixa-me pensar... Não faltava a alma, que essa estava toda lá. Não faltava a lua, que também a vi por lá.
Acho mesmo que não faltava nada... só mesmo o gato.
Eram três pessoas, um homem e duas mulheres tão diferentes entre si que não concordavam em nada. Mas as conversas correram sobre tudo e sobre nada, sentados numa mesa à volta de um bule de chá!
Um dizia que preferia ter visto e nunca ter provado. O segundo dizia que depois de ter visto era pior não poder provar. E o outro rematou que no fim, no fim de tudo, depois do chá preferia saber que tinha tentado.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

I won´t lie no more

Algures no meio da loucura desta cidade, pintada em traços largos, pinceladas de vazio e cor, algures aqui no meio existem lugares de passagem para outros reinos.
Estou num deles. Num local de passagem, num portal, numa entrada que se faz quando paramos e contemplamos, nestes locais.
Inspiram poetas e artistas, inspiram o amor e a arte, não fosse já o amor uma forma de arte.
A miscelanea de gentes envolve-me, rodeia-me, engole-me. A musica paira no ar, assim como os ritmos proprios destes locais. Quando os carros passam mais longe o burburinho embala-me...
Deixamos a mente voar. Identificamos pessoas, formas de estar.
Existe um circulo à minha volta, não foi de proposito, mas todas as cadeiras à volta da minha mesa ficaram vazias.
Trazemos o que somos para estes lugares, que até ou principalmente na cidade, existem. Desenga-se quem assim não o achar. As polaridades não são pervertidas, mas sim potenciadas.
Tudo é levado aos extremos. Tudo é testado.
Onde é que está a simplicidade?
As pessoas continuam a passar. Sozinhas, isoladas de mãos dadas.
Sinto uma pontada. Tenho saudades...
O mais obvio é o mais fácil de encontrar. Não quero mais, não quero.
Lie with me to lie down with me.
É o mais obvio e o mais fácil.
É a vantagem de caminhar até estes locais. Se percorrer o caminho até cá, se cumprir o ritual, chego focada e intuitiva.
Não estou nem mais nem menos selectiva. Estou apenas com processos de selecção mais longos.
I won´t lie no more.
O espaço à minha volta foi preenchido, as vozes aumentaram o volume, tudo ficou mais proximo e alto.
Regresso em paz.
Olhou à volta e vejo que regressei lado a lado com Pessoa.
Cumpriu-se um ritual.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Magia antiga

Apetece-me perguntar o que está a acontecer. E por outro lado não me apetece nada fazer perguntas.
Não vejo nada, não ouço nada, não digo nada, não faço nada. Encosto-me para trás, distancio-me um pouco e fico a ver. De braços cruzados e com ar irónico. O que andas tu a fazer? O que estás a tramar agora?
O que pedi no inicio do ano tem acontecido. Sem um desvio. O processo para lá chegar tem sido sinuoso. Não peço mais nada. Ou peço?
Estou cá e estou lá. Por vezes penso que estou desfocada. E no momento a seguir percebo que não. Estou apenas recostada. A ver a banda passar. Pediste, não foi?
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Pedi, não foi? Nem me atrevo a partilhar. Se só em pensamentos tem a força que tem, se o escrevo ou digo muito alto... nem quero imaginar.
Existem livros à venda sobre isso. Milhares de livros com capas bonitas e floreadas, discursos elaborados, titulos sugestivos. Até filmes se fazem.
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Magia antiga, rituais complicados, egrégoras e coisas que tais.
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Em cada passagem de ano, na contagem decrescente fecho os olhos, evoco os anjos, respiro fundo, reuno em mim energia, condenso-a numa bola de sabão e ao bater dos sinos, na ultima badalada, a bola regressa ao ar e com ela a energia de uma simples palavra.
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Uma simples palavra na intermitencia da vida...

As ideias fugiram

Uma vez a meio da noite as ideias fugiram. Fugiram para qualquer lado ou foram devoradas pela noite, pelo luar de um sorriso timido, escondido.
Uma vez a meio da noite. Ou teria sido uma tarde, talvez fosse numa tarde.
Uma vez a meio da tarde as ideias surgiram e foram engolidas pelo escuro da noite.
Uma vez à beira mar as ideias surgiram e o sol caiu no mar. Caiu lá o fundo onde as mãos não chegam.
Uma vez as mãos cresceram, os braços esticaram e alguém tocou no sol.
Uma vez as estrelas brilharam numa parede e os planetas aproximaram-se.
Uma vez o sol jogou aos dados e riu do resultado.
Uma vez, só por uma vez os dados ganharam vida e mostraram uma palavra.
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Uma vez perdi-me no mundo e de outra vez do mundo.
Uma vez lembrei-me que os numeros e os dados, as estrelas e os planetas que brilham, o sol e o luar, os sorrisos e as ideias bem misturados num caldeirão, mexidos com uma varinha de condão e polvilhados com pó do coração, dão asas à imaginação.
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Uma vez perdi-me de amores, outra foi a vez de outro alguém.
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Uma vez ouvi dizer que não é facil dizer não.

sábado, 27 de junho de 2009

Linhagem

A corda estica, estica e ainda não quebrou...
Sinto pequenos filamentos a quebrar, mas a estrutura mantém-se intacta...
Esta foi uma semana repleta de emoções, de acontecimentos, de reviravoltas, de surpresas e sintonias.
Há um olhar que não esqueço. Um olhar dos olhos verdes mais profundos que conheço, após um abraço, após um longo dia. Após decisões. Um olhar de reconhecimento, de espanto, de aceitação, um olhar que não esperava. Um olhar do mais puro amor, de um agradecimento profundo, um que conheço há 4 anos. Mas este foi-me dirigido... à criança que fui, à mulher que me tornei.
Como se fosse possivel tomar qualquer outra decisão. Como se eu não compreendesse a dor de uma tremenda perda, de um desajuste, de um acumular de dor e frustração. Como se tivesse outra para além dela... como se fosse possivel, após aquele dia ter qualquer outra atitude.
Podendo ter todos os defeitos, podendo ter nela muitos dos traços que me enervam em mim. Tem muito mais que isso. Tem a humildade, a simplicidade, a generosidade, a capacidade de congregar pessoas à sua volta, o sentido de humor mais retorcido, o riso mais extraordinário que conheço. Tem o abraço mais doce e as mãos mais macias.
Refila quando tem fome, protesta quando não tem tranquilidade e, muitas vezes, tem os comentários mais despropositados. Reclama com quem sabe que lhe perdoa tudo, quantas vezes sem motivo.
Aprendi a sorrir a tudo isto e a apreciar todos os outros gestos.
Aprendi com ela a seguir os meus sonhos, a ceder a impulsos loucos, a viver um dia de cada vez.
Aprendi através dela o valor dos pequenos gestos e o valor de grandes gestos. Aprendi a reconhecer a grande mulher por detrás da figura pequena.
Conheço-a desde sempre e não pára de me surprender.
Descobri que dança melhor que anda, que escolheu o seu estilo de vida e não está disposta a abdicar dele, que é feliz exactamente onde está e não se imagina de outra forma.
Descobri que abdica de si mesma pelos que ama...
É a minha referencia humana, a minha referencia em valores...
Esta semana fui eu que tomei as decisões, que confortei, que assegurei conforto, tranquilidade e segurança. Apesar de todas as estranhas decisões, apesar dos afastamentos, de não ter lá estado num momento em que precisei, não poderia ter feito outra coisa.
Porque apesar de tudo, foi o que ela me ensinou...