segunda-feira, 30 de março de 2009

Universalidade do Caos

"Nada é universal, neste plano"
Ao que contesta: "O amor é universal"
- Não neste plano"
- Toda a gente precisa de Amor!
- Não sei. Talvez de atenção.... mas nem isso é universal. Existe variedade e diferença mais que suficiente para permitir todas as variações... continuo a achar que nada é universal, neste plano, aqui...
- Não existe o nada.
- ... (evito a resposta e pergunto) E o que é o Amor para dizeres que é universal?
- ... (evita a resposta e pergunta) Então e a matemática, vais dizer que não é universal?
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Uns dias depois:
- Ok, o caos é universal.
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Estava um destes dias a ouvir dois rapazes com cerca de 20 anos a discutir num café dos suburbios de Lisboa, entre sussuros e meias palavras, o "Justine" do Marques de Sade, entre "Ya"s e outras expressões engraçadas e completamente fora de contexto da conversa. Estava completamente deliciada com o quadro. Finalmente levantam-se e vão às suas vidas, com as calças abaixo das nadegas e os boxers com a etiqueta de marca à vista.
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A matemática até pode ser uma boa linguagem, mas gosto mais desta. A que não é definida por uns e zeros, que deixa espaço para que tudo aconteça, para todas as surpresas e diferenças. A que nos deixa e nos permite todas as variações e temas, todas as cores e nuances. A que deixa espaço para o infinito. Como uma enorme tela vazia, onde criamos, apagamos, voltamos a criar, riscamos, voltamos a apagar até ao infinito. Onde tudo é possivel e nada é repetido.
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Alguém me dizia, à algum tempo, que não funcionamos em ciclos, mas em espiral. Parece o mesmo ciclo, mas vamos subindo oitavas... ou descendo. E esta semana fiz uma curva ascendente na espiral, senti claramente a aceleração e aproveitei a embalagem. Quando se abranda a subida parece que paramos e às vezes chegamos a descer um bocadinho para preparar a subida seguinte.
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Às vezes, quando subimos pouco na espiral, quando a curva seguinte nos leva a um ponto semelhante, parece que nos estão a dar uma segunda oportunidade. É uma das expressões a que acho mais piada: "Segunda oportunidade". Não existem segundas oportunidades. Existem oportunidades diferentes. As condições iniciais são sempre diferentes, somos pessoas diferentes a cada segundo que passa, existem sempre variáveis diferentes.
Existem momentos semelhantes, os tais regulares, em que fenomenos semelhantes ocorrem e se repetem até o padrão voltar a mudar, mas são momentos de pausa, um respirar fundo antes de algo novo surgir. . . . A pele esticada e aquecida do meu coração sabe disso e eu, quando escuto os tambores, também.

sexta-feira, 27 de março de 2009

A Regularidade no Caos

"O caos é um comportamento imprevisível que está algures na fronteira entre a ordem e a desordem - porque exibe alguma regularidade.
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Nota: É o facto das contracções cardíacas serem caóticas que assegura uma irrigação eficiente do coração; e é a regularidade do funcionamento dos pacemakers que provoca, a longo prazo, deficiências de irrigação interna. "

quarta-feira, 25 de março de 2009

À Flor da Pele

Um dedo segue a cor da tez,

Desliza lentamente,

Seguindo suavemente os sinais

Que vão abrindo a visão.

Os dedos seguem, perdem-se

E encontram-se no contraste.

Demoram-se um pouco

Enquanto os sentidos despertam

E o cheiro se entranha

Na mistura da pele, essa

Que outro poeta cantou

Sem saber que era nossa.

Seguem os dedos,

Guiados pelas pequenas

Vibrações que só a beleza

Detecta, enquanto tocamos

Fonte com fonte,

Colo com colo,

Outra parte do nosso ser.

E as mãos encontram alento

Nos designios escondidos,

Na profundidade da nossa pele.

domingo, 22 de março de 2009

5 minutos de descanso

Este é daqueles momentos em que não me importava de conseguir ver de um pouco mais alto e perceber a minha floresta. As dos outros é sempre mais facil... não andamos lá a lutar contra a vegetação nem a tentar subir a nenhum monte para ganhar perspectiva... Ando por esta... não é para admirar que me tenha apetecido mudar de pele um bocadinho e calçar sem consequencias os sapatos de outra pessoa. É cansativo, uma canseira em que sabe bem poisar a cabeça num ombro que passa e se deixa ficar os 5 minutos de descanso que precisamos. Que às vezes preciso. E que preciso agora. Mas a vida nem sempre é como queremos, mas como tem de ser.
É engraçado como introduzo este conceito ao meu filhote desde que o conheço. É um trabalho duplo... de cada vez que lho digo, digo-o também para mim. Mas esta mania de tentar perceber o me acontece deixa-me ainda mais anti-social do que sou. Ou será que me deixa mais natural?
Ontem dei por mim a dizer algo que foi tão claramente para mim que abanei. Balancei o suficiente para parar dois minutos e pensar: "Mas o que é que se passa aqui?"
O bruxinho de serviço do quarteirão em que habito e com quem tenho algumas conversas interessantes no café que frequentamos, ontem veio sentar-se numa mesa perto da minha. É uma pessoa muito interessante e com quem tenho bastante empatia. Começa a dizer-me que é incrivel a quantidade de gente que ajuda na loja e no trabalho dele e quando precisa não consegue encontrar ninguém que o ajude. Revi-me bastante nas palavras dele, o suficiente para sorrir e perceber que uma afirmação daquelas não é falta de humildade. É apenas um desabafo. Quando se tem uma determinada prespectiva das nossas janelas não é fácil encontrar quem ouça e não opine, quem não sinta a necessidade de falar dos seus proprios problemas, que ouça de coração aberto, sem julgar, sem formar uma opinião ou sem minimizar a nossa questão. O respeito pelo que os outros sentem, pelas necessidades dos outros, pelas certezas, passos e decisões, não é uma caracteristica muito comum. Não é facil e sinceramente não há muita pachorra para desabafar com alguém que interrompe, minimiza, julga e critica os nossos problemas. Que nem sequer ouve. E a grande maioria das pessoas nem se apercebe que o faz. E quando nos habituamos a estar em respeito com os outros, quando interiorizamos esta forma de estar não é facil encontrar alguém que o faça connosco. Não é facil dizer: "Sinto isto"! Dou por mim a dizer, mesmo a pessoas muito proximas e com quem partilho o coração, "Não preciso que me digas o que pensas, se tenho ou não tenho razão ou o que farias, só preciso que ouças!". É tão raro, que a ultima vez que me aconteceu receber um "Percebo" cheio de amor e paciencia depois de um desabafo, levei 3 segundos a interiorizar a beleza do momento.
O que acontece quando nos habituamos a estar desta forma é que é relativamente simples ajudar os outros. Regra geral precisam de ser escutados, precisam de um gesto de amor e carinho, precisam de sentir que são alguém, que alguém se importa na loucura colectiva da vida em sociedade. E é muito dificil deixarmo-nos ajudar. Pior é extremamente dificil dizer "Preciso de ajuda" Raramente o faço. Revi-me absolutamente nas palavras dele, percebi claramente o que me saiu pela boca depois de o escutar e percebi que era tanto para ele como para mim... "Quando passamos muito tempo a ajudar os outros, esquecemo-nos de como se pede ajuda." Não disse mais nada e ele olhou para mim meio a espanto, meio já estava à espera (sim, tinha acabado de admitir ao bruxo de serviço do quarteirão que talvez tivesse concorrencia o que, ao longo das várias conversas que já tinhamos tido, sempre tive o cuidado de ocultar). Ao que ele disse: "É verdade, às vezes esqueço-me", com um sorriso.
E até aquela resposta podia ter sido minha. Às vezes esqueço-me de como se faz... e às vezes, às vezes quando peço, o ombro não passa, não está disponivel ou não pode. Não é suposto ter ombro naquele momento e quando chega, chega fora de horas, no timming errado e despropositado. Quando já não faz sentido e soa estranho. Quase que me ouço a dizer ao big boss lá de cima "Ó muito obrigadinha..."
Percebo claramente os desencontros e encontros deste fim de semana... percebo que estive onde tinha de estar e que a minha não presença num aniversário deu espaço para que algo de muito bonito e extraordinário acontecesse a uma amiga de coração. Percebo o trabalho e a importancia de ter estado aqui, para outra amiga de coração... mas, raios, um ombro também sabia bem, não??

sábado, 21 de março de 2009

Sem título

E agora eu mudava-me de mim e ia viver outra vida? Só para ver como era... saia da minha pele e escolhia outra, não uma nova, mas uma que não se importasse de trocar por um bocadinho. E depois podiamos dizer: "Ah, gosto muito mais de fazer as coisas assim ou assado" ou então " Olha, então é assim que esta pesssoa vive" ou ainda "Afinal existem pessoas que sentem mesmo isto e vivem mesmo assim"
O que é que acontece quando não se sonha? E quando os sonhos são diferentes dos que tenho?
Hoje fui dançar... já não dançava à tanto tempo que nem me lembrava das saudades que tinha...
E depois vim para casa sem sono, carregada de energia. Mas é uma energia estranha, meio dispersa como se não servisse para nada a não ser ficar acordada e me apetecer escrever.
Adoro escrever cartas, adoro os tempos de espera e o cuidado ao escrever. O não saber como vai ser interpretado à distancia. O correio electrónico tornou as respostas muito rapidas... não dá tempo para as pessoas se esquecerem do que escreveram e ficarem surpresas com as respostas. Não dá tempo para fazermos o exercicio mental de: "Mas isto vem a preposito do que?"
E este é mais um post estranho
Um post estranho numa terra estranha escrito por uma estranha
E agora eu mudava-me de mim e tinha sono? Mudava-me de mim um bocadinho, adormecia e não sonhava?
Trago uma musica comigo, a cantar-me aos ouvidos o refrão. Canta baixinho quando me distraio e enquanto dancei. Mas quando paro, volta de mansinho e canta:
"E eu não sei parar de te olhar,
Não sei parar de te olhar..."
Trago uma musica nos ouvidos e um livro no pensamento...

terça-feira, 17 de março de 2009

What is the Matrix?

"Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
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Glauco – Estou vendo.
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Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.
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Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
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Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte? Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?
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Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?
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Glauco - Sem dúvida.
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Sócrates - Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?
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Glauco - É bem possível.
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Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
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Glauco - Sim, por Zeus!
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Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados?
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Glauco - Assim terá de ser.
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Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?
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Glauco - Muito mais verdadeiras.
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Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?
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Glauco - Com toda a certeza.
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Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?
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Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início.
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Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz.
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Glauco - Sem dúvida.
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Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal qual é.
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Glauco - Necessariamente.
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Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.
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Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão.
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Sócrates - Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?
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Glauco - Sim, com certeza, Sócrates.
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Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?
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Glauco - Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.
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Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: Não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?
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Glauco - Por certo que sim.
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Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?
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Glauco - Sem nenhuma dúvida.
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Sócrates - Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública."
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Platão, A República, v. II, p. 105 a 109

segunda-feira, 16 de março de 2009

Que as há, há...

Por portas e travessas fui a um curso, no fim de semana passado, onde fiz uma aula de yoga. Já tinha feito uma ou duas há alguns anos com pessoas amigas, mas não me lembro de terem tido resultados tão imediatos, sentidos e obvios como esta. No fim do curso tive uma curta conversa com o "swami" (orientador, professor, yogi, monge... os titulos são lindos e mais que às mães, o que me faz ter algumas reticencias em utiliza-los). Ao longo do curso percebi que era um bom local de aprendizagem, que a practica de yoga feita daquela forma me fazia sentido e que o senhor em questão seria um bom professor, e essa conversa aconteceu para decidir se iria mesmo comprometer-me com a practica. Funciono muito por impulsos e já percebi que muitas vezes são apenas isso, impulsos, pulsões. Para começar tinha de me comprometer.
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Fui para casa e o primeiro resultado fez-se imediatamente sentir... uma semana sem net. Pois... uma semana sem net não é o fim do mundo, nem parece ser resultado de nada... os serviços da, passse a má publicidade, NetCabo são o que são e não seria nada de espantar. Não fossem as três reclamações na loja e o sistema informático deles ter falhado duas vezes. Algum vizinho engenhocas resolveu fazer uma ligação ilegal e deu cabo da minha. Até aqui, nada de especial, certo?
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Na segunda feira acordo cheia de energia e hipermotivada, vou dar aulas, o dia corre às mil maravilhas. Vou fazer a primeira reclamação à loja da tvcabo e lembro-me das intermináveis filas que costuma ter. Respiro fundo e decido (sim, leram bem, decido!) que não vou esperar é coisa nenhuma. Quando vou tirar a senha, reparo que já lá estão mais duas. Tiro as três e fico com senhas de três numeros seguidos. Olho para o placar e está no primeiro numero que tenho na mão.... ainda fico um pouco aparvalhada a pensar: "Olha, mas que raio?" Ping! Passa para o segundo numero que tenho na mão e lá vou eu, sem esperar sequer 30 segundos. Sou atendida e vou de carro a horas impossiveis dar aulas no centro de Lisboa. No caminho resolvo voltar a tentar focar-me e visualizar um lugar mesmo à porta da escola... o que normalmente é missão impossivel. Chego à porta e não há lugar nenhum à porta. Ainda fiquei em segunda fila dez segundos a pensar que afinal não tinha funcionado... preparo-me para ir para o parque, quando o porteiro da escola sai disparado e me vem avisar que o carro em frente à escola ia sair.... ok.... isto funciona mesmo. A frequencia de pensamento é esta e fica registada. Fixe! Afinal o treino de focagem mental da aula de yoga dá resultado e não é pouco.
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Nessa noite fui à primeira aula oficial, senti a energia a disparar e passei o resto da semana a mante-la e a fazer exercicios de tomada de consciencia e focagem e a espantar-me com os resultados dos exercicios. Só para chegar ao fim de semana e me esquecer completamente do assunto.
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Esqueci-me, desliguei o botão de tudo e deixei-me levar, como costumo fazer nos fins de semana em que não sou mãe a tempo inteiro. Os dias correram bem, fluiram sem precalços... até acordar hoje de manhã e perceber que tinha forçado uma pessoa especial a uma situação que não era necessária... a situação em si não tem nada de especial, mas percebi que só aconteceu porque me foquei para isso, mesmo enquanto levava na cabeça e os meus "amigos invisiveis" (aka a melhor razão para um destes dias me internarem) me iam dando dicas cada vez mais mal humoradas para parar com o disparate... ao que dei, literalmente, ouvidos moucos.
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Acordo de manhã, a perceber o que se tinha passado, fui apanhar sol, espairecer e finalmente pedir desculpas à pessoa em questão. Fiquei bastante aborrecida comigo mesma e percebo claramente a velha estória do mais poder implica mesmo uma maior responsabilidade. A focar-me que seja em coisas que beneficiem toda a gente e não apenas no porque me apetece...
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O resto do dia passou-se delicioso, com direito a sesta debaixo de pinheiros e respirar a inebriante e familiar mistura de serra e mar. Regresso a Lisboa a horas impossiveis e quando estou na fila da Vasco da Gama, calma, descontraida, a cantar no carro e bem disposta, reparo que a minha fila está a confluir com a fila do lado para apenas uma portagem. Toda a gente está a permitir que passe um carro de cada vez. Quando chega a minha vez a rapariga do carro que supostamente passava depois de mim, empina o nariz, olha em frente e enfia-se à minha frente. Como não há razões, nem vencidos e vencedores no transito, começo a rir-me e deixo-a passar sem me encostar. Mas a verdade é que fiquei lixada. Fiquei mesmo! E ainda tentei disfarçar de mim propria. Uma situação em que, normalmente, apenas me perguntaria mentalmente se era importante e chegaria em fracções de segundo à conclusão que não era. E em que, quanto muito, lhe perguntaria mentalmente "Para que?"...
O meu umbigo prega-me uma partida e eu, feita parva e desatenta fiquei chateada e não faço o ritual habitual de me assegurar que as atitudes dos outros ficam para si proprios. Não... Em vez disso, toco-lhe mentalmente no ombro, puxo-lhe um cabelo (olhem bem o requinte de mau feitio) e digo-lhe: "Miuda, e que tal aprenderes que não perdes a vez, só porque permites que os outros passem antes de ti!"
Imediatamente a seguir a pensar isto, o carro dela começa a deitar fumo pelo capot. O meu queixo cai-me no chão e digo: "Não! Não, fui que fiz isto? Não fui eu que fiz isto... Fui??"
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Coincidencias é coisa que há muito tempo sei que não existe. Mas isto é um exagero! Sei que tenho sempre que ter cuidado com o que penso, mas isto é um exagero! Não? Escusado será dizer que comecei imediatamente a desejar e a pensar que ia correr tudo bem e que ia passar o mau feitio ao carro, mal ele e os animos arrefecessem. A desejar tudo de bom à rapariga e a imagina-la a por o carro a funcionar e ir alegremente e sem precalços para onde tinha de ir. Fiquei em tal estado de choque que só depois de passar o carro (já encostado) dela é que me lembrei que nem tinha parado para a ajudar. Até poderia ter sido pior o soneto que a emenda.
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E é assim... pois... então, assim sendo, cá vai:
Paz, Amor e Sabedoria nos vossos Corações!
Que assim seja!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ver(i)dades

Era uma vez.... era uma vez
Acontece que só acontece uma vez
De vez em quando
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Na primeira oportunidade da Vida
Inteira vou vendo
Na idade de ver
A ver na idade
.
Segui por um atalho
Dei a mão ao vento
Prendi o cabelo
Para voar
Ohei para um estranho
Parei algures e sorri
A um sorriso que
Alguém recebeu
E eu recebi
Seguimos caminho.
.
Os caminhos cruzam-se
Sucedem-se os acasos
A intriga aprofunda-se
Mais densa e confusa
Resolvem-se sozinhos
Enigmas que ficaram
Alguns por descobrir
Outros por resolver
.
Um passo a um abraço
Da distancia
Atravesso a estrada
Para o outro lado do rio
Sigo o vento e os cheiros
Qualquer coisa assim
Em que tropeço
Cai
Ups não era aqui
.
Olho a lua redonda
Sigo os raios de prata
E ouro. O vento mudou
Uma e outra vez
Balanço embalada
Levada e conformada
Naquele acaso
(Acaso o houvesse)
Passo uma esquina
Cheia de medo e
Encontro coragem
.
Descobro o desencontro
E marco um encontro
Comigo naquele ponto
De encontro em que
Me ligo e religo
Onde reside
A força e quem
Me habita
.
Era uma vez... era uma vez
Uma vez que não termina
Que vai narrando
Veracidades na cidade
Verdades das idades
Veres só por ver

sexta-feira, 6 de março de 2009

Dois pares e meio de asas

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"Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.
- Como quereis o equilíbrio? "
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David Mourão-Ferreira
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Será por isso que procuramos outro par e meio?

quinta-feira, 5 de março de 2009

Bussola no nariz

Já experimentaram fechar os olhos e deixarem-se guiar?
Há várias formas de nos deixarmos guiar, há varias formas de confiar.
Já experimentaram deixarem-se levar?
Começa devagarinho, com pequenas coisas... com um acho que é por aqui, acho que tenho de ir agora, acho que não quero estar aqui ou acho que tenho de estar aqui...
O que achamos, o que queremos e o precisamos são coisas que podem ser diferentes. Mas não precisam de ser diferentes. Podemos tentar deixar-nos guiar para o que precisamos. E aprender a faze-lo coincidir com que queremos e achamos.
Começar com coisas pequenas... como é que está a correr o dia? Normal, bem? Ou tudo empanca, nada flui? Estranho ou não... raramente fico presa no transito, raramente me perco. Aliás nunca me perco, são sempre oportunidades para descobrir sitios e caminhos novos.
Tudo são oportunidades para descobrir, reavaliar, mudar padrões. Tudo são oportunidades para coisas novas, diferentes. É sempre e só uma questão da nossa atitude.
Alguma vez fecharam os olhos e pediram para ser guiados?
Porque às vezes é assim que se começa. Pedimos a nós proprios para estar atentos ao que sentimos sobre o que se está a passar. Estamos atentos aos sinais. Sim, aos sinais, aos nossos sinais. Que nos entram olhos e alma dentro, guiados pelo nosso inconsciente, pelo que quiserem. As crenças ficam com cada um...
Devagarinho... uma pergunta de cada vez. O que estou a sentir? Como é que isto me faz sentir? O que tenho a aprender aqui? Começa com coisas simples. Mas sempre que pensares que não percebes porque, pára. Reavalia o que sentes. Pára. Respira funda e pergunta-te. Para que?Podemos não gostar das respostas, mas quando deixamos fluir, quando nos deixamos guiar por essa bussola interna atenta aos sinais externos... a vida ganha outro sabor.
Se passamos muito tempo a falar para fora, não escutamos o que dizemos para dentro. Pára de andar, pára de falar. Escuta com outros ouvidos que não estes, com os ouvidos internos e não ignores ou inferiorizes as respostas, só porque são nossas, só porque são tuas e mais ninguém as ouve.
Uma vez vi uma pequena animação sobre como se explicava a uma criança se uma coisa era boa ou má... e, na animação, diziam à criança: "Quando te sentires desconfortavel com o que se está a passar, quando te sentires estranho e achares que não tens a certeza, é porque não é uma coisa boa."
Aprendemos a ser crianças. Aprendemos a estar atentos ao que nos deixa desconfortáveis. Aprendemos a confiar de novo nessa bussola de nariz que as crianças têm e nem se apercebem. Nós, adultos... queremos tanto provar a alguém alguma coisa, precisamos tanto de mostar que nos esquecemos, mas esquecemos mesmo o que significa caminhar devagar. O que significa confiar e deixarmo-nos guiar suavemente. Esquecemos depressa e passamos o resto da vida a lamentarmo-nos. E nem assim nos silenciamos.
Não, não é possivel justificar as nossas escolhas quando começam a ser feitas através dessa bussola... mas porque é que têm que justificar? O que há para justificar? É mesmo preciso dizer alguma coisa? Pelo menos não é possivel justificar com razões. Mas podemos sempre dizer que é o que sentimos que é melhor naquele momento. É o que sentes que deves fazer. É o que sentes. E não há argumentos que toquem o que se sente. Podemos usar todos os argumentos e contragumentos. Podemos ter todas as discussões e conversas. Mas nada disso interessa. Interessa o que sentes. E para saberes o que sentes é preciso silencio. Podem olhar para ti de esguelha, podem dizer que não estás bem.... nunca estamos quando não seguimos as regras dos outros. Mas cada um de nós deve seguir as suas regras internas. Aquelas que, de tão enraizadas no mais fundo do nosso ser, nos habituamos a esquecer, a ignorar.
Experimenta... e volta a experimentar e volta a experimentar.
Não é preciso dizer "Não vou por aí", podemos sempre dizer "Vou antes por ali"
Já experimentas-te fechar os olhos, só por um segundo, respirar fundo e perguntar-te: por onde devo ir? O que posso fazer agora? O que preciso de fazer agora?
E quando as respostas nos levam para sitios estranhos... acredita. Acredita e aprende. Acredita em ti. Não no que fazes... no que és. E aprende enquanto lá estás.
E surge obvio, com a practica, com o tempo, debaixo dos nossos pés, aos nossos olhos por onde seguir naquele momento...

terça-feira, 3 de março de 2009

Respirar a viagem

Partir em viagem é sempre uma alegria. Sempre que tenho a oportunidade enfio o saco de cama e a mala na bagageira do carro e vou. Confesso que o destino me é quase sempre indiferente.
A ultima vez que isso aconteceu foi a semana passada. Rumo ao Alentejo profundo, verde nesta altura do ano, com planicies extraordinárias. Fui em direcção à dança, sabendo de antemão que, acompanhada pelo filhote, pouco ou nada iria dançar. Talvez ficasse a dança da vida.
Estive para não ir, fiz as malas 30 minutos antes de sair de casa e resolvi que viria no dia seguinte. Uma noite, um dia. E duas viagens. Continuava sem querer ir, mas apetecia-me viajar, conduzir sem destino e sem horários. Apreciar devagarinho o caminho. Meto-me no carro e mal passo a ponte e saio de Lisboa consigo respirar fundo.
É indiferente se vou para sul ou norte. Só não é indiferente a viagem. Não existe excitação à chegada. Em todas as viagens que faço tenho sempre pena de regressar do mundo da viagem para chegar ao destino.
Cheguei a Entradas, comi, ri, dancei, dormi, acordei, sorri, abracei, corri, descansei, ouvi, respirei fundo e, por fim, decidi voltar a viajar. Mais uma vez não me interessou o destino. E naquele momento só me interessou voltar a viajar. Despedi-me à pressa... também fazia parte da viagem?
A estrada corre, as paisagens voam, as arvores mudam, o rio substitui os montes que tinham substituido a planicie. Passo uma ponte e abrando. Gosto de passar por cima dos rios, nesses pontos mais altos de onde se ve mais longe... o entardecer acontece. O céu passa de azul a laranja, de laranja a violeta... qual será esta magia?
Tilinta bem fundo de mim o percorrer o espaço sem a equação tempo. Acontece o mesmo quando percorro o tempo sem a equação espaço...
Aprecio tanto a viagem... para que imaginar o destino? A viagem que fiz só pelo prazer de disfrutar a viagem fez-me uma surpresa à chegada.
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Lembro as viagens e lembro a pele
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Sem ansiedade pelo destino aprendo a apreciar esta viagem
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Tinha-me esquecido que sabia respirar no mergulho.

domingo, 1 de março de 2009

Mergulho

Cobarde! Foi o que acabei de chamar a mim mesma... é muito mais facil colocar aqui poesia e imagens que exprimam o que sinto que sentar-me e realmente escrever sobre o que sinto. É muito mais facil, não me deixa confrontar-me. Uso todas as desculpas. Não estou com cabeça para escrever, as palavras dos outros também servem, quase podia deixar uma musica. Afinal é só mesmo para fazer o ponto da situação... o problema é que quando comecei este blog foi para me expor, para tornar mais facil começar a falar do que sinto. A forma mais egoista de escrever para os outros é escrever para mim. O que torna sobejamente explicito que a opinião dos outros é um efeito secundário, como dizia outra mim. Inacreditavelmente percebo que é a melhor forma de ser escutada... sem interrupções, sem olhares, sem distracções, sem palavras, gestos, confortos ou acusações. Os outros que projectem depois, quando lerem longe de mim...
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Continuo a esconder-me... agora escondo-me nas razões.... bonito.
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Sinto um laço a quebrar-se, a desfazer-se. Sinto uma tempestade a chegar. E estas são duas situações distintas, que têm em comum apenas o que as cataliza. Sinto um laço a quebrar-se de habitos antigos e partilhados. Sinto mais um laço a quebrar-se e a separar-me da materialidade. Isto não é uma situação nova... já me aconteceu antes... mas desta vez tem consequencias mais profundas... e eu sinto-me a um passo de me afastar do mundo mundano. Já me é dificil falar com as pessoas sobre assuntos corriqueiros, já me é dificil socializar. Sinto tristeza pelo abandono de coisas antigas e excitação pelo que está a chegar. Mas para já... sinto a tristeza de deixar algo para trás. Pergunto-me se é mesmo isto que quero, se estou preparada e a resposta chega claramente com um sim. Mas parece que tenho duas dentro de mim. Uma diz que sim, claramente e sem duvidas. E a outra argumenta: e depois disto, como queres voltar ao mundo?? E se me perco de vez do mundo???
Escolho sempre a minha forma de chegar ao mundo. Se não é de uma forma é de outra, não estivesse eu nele e ele em mim. E essa ausencia já a sentia, já a tinha comentado e já tinha escrito sobre ela noutros cadernos. Fui eu que pedi isto... pedi há tantos anos que já nem me lembro quando começou este pedido, já tinha pressentido este momento, já sabia que viria. E se não for agora sei que vou continuar a pedi-lo...
Ter consciencia é o que é. Ter consciencia das mudanças é o que é. Ter consciencia das consequencias das mudanças é o que é... benditos os ignorantes, benditos os ignorantes, benditos os ignorantes...
Minha querida, e que tal aceitar que só me está a ser dado o que pedi e pronto! E se me perder de mim e do mundo num abraço... encontro-me.
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Respira fundo...
Mergulha...
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"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim. "
Carlos Drummond de Andrade