sexta-feira, 30 de abril de 2010

À Procura da Poesia Viva

Andei à procura de um verso,

Um verso alegre, sopro de vida.

Procurei e não o encontrei.

Onde andam os versos alegres,

Onde está a poesia da vida?

Mas só há poetas tristes?

Só encontro nessas linhas

Geniais odes ao sofrimento,

À ironia, ao desencontro?

Onde estão os poetas

De hoje, os optimistas,

Os que lêem o sol nos olhos

Ou numa estrela longínqua?

A poesia canta alegria

A prosa esvai a tristeza.

A escrever poesia que seja

Alegre, que cada linha seja

Doce, picante ou delicada,

As silabas felizes e vibrantes

E as letras iluminadas

Por cores, luzes e energia.

E que se sirva viva...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

The Gospel Inside

It will make a weak man mighty and it will make a mighty man fall.
It will fill your heart and hands Or leave you with nothing at all. It's the eyes for the blind and the legs for the lame.
It is love for hate The pride for the shame.
Gospel on the water, on the land, The gospel in every woman, the gospel in every man.
Gospel in the garden, gospel in the tree.
The gospel that's inside of you, the gospel inside of me.
In the hour of richness, in the hour of need. For all of creation comes from the gospel seed.
Now you may leave tomorrow and you may leave today But you've got to have the gospel when you start out on your way.
That's the power of the gospel That's the power of the gospel
That's the power the mighty power
That's the power of the gospel
Ben Harper

The Power of the Gospel

terça-feira, 20 de abril de 2010

Quando tiver que ser

Pedalo com mais força, uma perna, a outra perna, enquanto sinto os musculos a vibrar com a força da subida. Não me custa, os musculos não reclamam e a respiração mal se altera. A pedalar de pé, com um olho nas pedras que indicam o caminho para o refugio dos sobreiros e o outro no verde que se estende até ao mar. Não me lembrava de estar tão alta, no cimo da bicicleta enquanto me equilibro e desacelero para poder desviar-me de um tronco. O Pintas, um cão de raça indefenida, pintalgado de preto e amarelo e com um temperamento brincalhão e dócil alterna entre esquivar-se das rodas à minha frente e correr ao meu lado. Quando finalmente paro e desço da bicicleta sou brindada com um salto na minha direcção. Cambaleio com o peso e tamanho dele. Dá-me pelos ombros e é o tipo de cão que se leva como guarda numa noite escura.
Aproximo-me do refugio entre as arvores, olho de esguelha para o local previligiado de contemplação e continuo. Já volto, penso enquanto contorno o banco de pedra e vou até à vedação. Há vacas do outro lado a pastar calmamente. Levantam a cabeça para ver quem lá vem e continuam na sua vida, sem me ligarem. A que estava em trabalho de parto ontem, já não está à vista, enquanto espreito entre os arbustos para a tentar ver. O dono deve te-la levado para o estabulo ou então afastou-se das outras....
Viro costas à vedação e volto a olhar para o banco de pedra entre os sobreiros. Cinco sobreiros o contornam. Dois à frente a enquadrar a vista e os tres restantes a fazer um semi-circulo atrás. Aproximo-me lentamente e sento-me na parte mais alta. Ouço... passaros, os passos e ruminar das vacas, o Pintas a cirandar, o vento, insectos... nada. Vozes, metais, carros... nada. Respiro fundo e sinto a leveza do ar, os cheiros da terra e das plantas. Fresco e limpido. Olho... e vejo verde pintalgado de branco a estender-se pelo vale até ao azul do mar, com a casa branca e terrea no lado esquerdo.
"Parece neve" exclamo noutra altura, "É o que toda a gente diz", foi a resposta. Porque parece mesmo!, penso. Se nunca tivesse visto neve e me a descrevessem, imaginaria assim, os campos verdes pintalgados por milhares de pontos brancos, como os que vejo aqui.
Tenho sede e relembro a aventura da manhã quando me perdi pelos campos à procura de uma fonte para ir buscar água. Não há agua potável na casa branca, debroada a azul. A agua canalizada que existe é do poço e apesar dos filtros, toda a gente prefere a agua da nascente. Perdi-me, acabei por sair do carro e ir encher as botas de lama para poder desfrutar o estar num sitio daqueles. Caminhei alguns minutos pelo meio dos campos e das arvores, pelo meio do silencio enquanto usava a desculpa que tinha visto ali qualquer coisa para poder abandonar o carro. E tinha visto. Vi o chamamento do verde e das arvores, da agua nas folhas e do tapete de plantas que tornava o chão macio e almofadado.
Tive que recorrer a ajuda para encontrar a fonte. E todo o ritual de carregar garrafões de um lado para o outro fez sentido quando a encontrei. A frustração de ter sede e não ter agua para beber porque não tinhamos ido à fonte no dia anterior, fez sentido. Num recanto, rodeada de verde está um lago represado artificialmente. À beira da estrada de terra, salta à vista o contraste do escuro do pequeno lago com o verde luxuriante. Do lado direito há uma pequena construção com uma porta de madeira. Desvio a porta e espreito. Lá dentro a agua brota do chão e enche um reservatório de pedra natural. Ninguém construiu aquela fonte, apenas a taparam para a agua ser protegida de terra e animais. Os animais e a terra têm toda a agua que precisam no lago, mas aquela e diferente. É fresca e transparente, limpida e cristalina. Enchemos os garrafões e pude provar a agua e saciar a sede. Poucos rituais me fizeram tanto sentido como aquele. Apercebi-me da ilusão de ter agua garantida na torneira à distancia de um rodar da mão. Apercebi-me do mau gosto que tem a agua que normalmente bebo e o quão pesada é. Poucas vezes beber agua me soube bem, não pela sede, mas pelo gosto. Pela limpeza e leveza enleadas com o fresco e com o gosto... que deve ser o gosto da água. Aquele gosto que mais nada tem.
Regresso ao presente com a imagem do garrafão de vidro que sobreviveu à viagem, em cima da mesa de madeira, na casa branca. Já lá vou, penso, enquanto volto a olhar em frente e a apreciar a beleza da vista enquandrada pelos sobreiros.
Fecho os olhos para sentir com o quinto sentido... sinto a indecisão e duvidas de quem esteve naquele lugar antes de mim, sinto o chamamento que aquela terra me faz. Cada vez mais forte, cada vez mais alto.
Será quando tiver que ser, penso com um sorriso.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Strange Place for Those Who Walk

In my life, dance can happen everywhere...

By the sea, in my path, in love, pain and joy.

In my tears and in a smile

It happens in my past, in the present and in the future

Turning my life a strange place for those who walk.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Na Cauda do Cometa

Nascemos para Amar.
Amar, esse sentimento que nos impregna, nos faz marchar ou só caminhar. Que nos dá a coragem para sorrir e a ternura para chorar.
Nascemos para Amar a vida, o mar, as estrelas, a chuva e o vento.
Nascemos para Amar sem nomes ou caras... essas somos nós que inventamos.
Caimos, perdemos e ganhamos. Subimos, levantamo-nos e voamos...
Nascemos para Amar.
Vivemos a Amar só para ter o gosto de saborear as perdas e os ganhos, as transformações, as ilusões e desilusões...
Nascemos e vivemos para Amar... esse sentimento que nos eleva... ou então escolhemos fugir, esconder a nossa natureza, sermos cumplices da nossa propria traição.
Nascemos para Amar. E escolhemos (ou não) Amar na Vida, Amar a Vida!...
.
O resto... esse resto que nos faz tantas vezes questionar se vale a pena... esse é só um resto, uma cauda de um cometa que se desintegra e se esvai na passagem no tempo.
E é natural que quanto maior o cometa, quanto mais glorioso e brilhante... maior o rasto que deixa.
.
Mais uma vez só depende de nós escolhermos se queremos ver esse rasto como cicatrizes ou como uma memória brilhante, no fundo dos nossos olhos, uma lembrança de encanto pelas diferenças encontradas, marcada, não a ferros, mas em tons de ouro num salão de honra no nosso coração.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um presente mais longo

O que é que estás a fazer agora? Sim, tu! Neste preciso momento... o que estás a fazer?
Onde é que tem as mãos? E os pés? Como é que estás sentado? Estás a bater com o pé, a morder o lábio, a franzir a testa ou a sorrir? Como é que estás a respirar? O que estás a sentir? Em que estás a pensar?
Parece fácil? Não?
Neste preciso momento... estou mal sentada, doem-me as costas e não me apetece mudar de posição, os dedos voam sobre as teclas, a respiração está acelerada, sinto-me num misto de entusiamos e ansiedade e estou para aqui a pensar em como posso conseguir concentrar um conceito até ao ponto de precisar de se libertar...
Falo e escrevo e digo tantas vezes... neste momento.
Neste momento, estar neste momento é um presente. O passado diz-nos como aqui chegamos, o futuro, para onde vamos... mas é aqui que estamos. Aqui, neste momento. Agora.
Agora é o momento de querer... Agora é o momento de poder. E não existe memoria do passado, nem expectativa do futuro que nos possa limitar, quando estamos somente aqui.
Onde é que tens os pés?
Estou mais bem sentada... a respiração esta mais calma e o conceito já se concentrou o suficiente para começar a escapar-me pelos dedos.
Respira fundo, fecha os olhos se necessário, e sente o ar a inundar os pulmões, imagina-o a libertar oxigénio e energia para dentro do organismo. Deixa-o sair e sente como passa mais quente pela garganta, pelo nariz...
Sentes-te aqui? Sentiste-te? Ao mesmo tempo que sentes o ar a entrar e a sair dos pulmões, sente a tua mão direita. Começa por um dedo e não te esqueças de continuar a sentir o ar a entrar e a sair dos pulmões. Agora sente mais um dedo e mais um e mais um, até sentires toda a mão direita. Passa para a outra mão, sem esquecer a mão direita e o ar a entrar e a sair devagar e suavemente....
Bem vindo a este momento! Bem vindo!
Onde e que estava o passado? E o futuro? Teve atenção ou importancia? Onde é que estava a tua atenção?
O passado e o futuro só o sentimos presente quando focamos nele a nossa atenção e o transportamos para aqui. Ele não está realmente cá... somos nós que o trazemos. Que o vamos buscar e o mantemos presente.
Quando deslocamos a nossa atenção para o presente.... algo de extraordinário acontece.
Não é estranho que julguemos sempre que somos o que fizemos, o que nos educaram e ensinaram e só nos sentimos realmente vivos, despertos e acordados quando focamos a nossa atenção no presente? Durante um exercicio tão simples como dar a nossa atenção à respiração...
É verdade, para quem pensa que não sabe meditar ou que não consegue... Bem vindo à sua primeira meditação! Pensou nalguma coisa enquanto se esforçava por sentir ao mesmo tempo as duas mãos e a respiração? Não conseguiu? Então esteve a meditar... nem que tenha sido por um segundo.
Estar neste momento, no presente e meio caminho andado para descobrir quem somos, o que realmente somos. Quando estamos presentes no nosso corpo fisico, quando estamos presentes no que sentimos ou no que pensamos, começamos a perguntar-nos... "Porque é que eu disse aquilo?" Começamos a questionar e a achar estranhas muitas das nossas acções, a perceber que as palavras que nos sairam pela nossa propria boca não refletem aquilo que somos... e assim começa um caminho.... Um caminho que dura até ao fim das nossas vidas, um caminho que podemos abandonar de vez em quando... mas quem ja aqui esteve, sabe. Sabe que não é bem assim e que já conhece o estar realmente aqui, no presente. As projecções do passado e do futuro que a nossa mente constroi já lhe soam a isso mesmo... peças de teatro. Devagarinho, devagarinho, vamos abandonando rotinas e habitos que deixam de fazer sentido e começamos a perceber que o mundo à nossa volta está diferente... a luz tem outra cor, as arvores parecem mais reais que antes e mais importantes que aquelas conversas a que davamos tanta importancia...
Parece estranho e complicado? Parece coisa para pessoas... diferentes? Experimenta! Tenta um bocadinho de vez em quando... é viciante! Altamente viciante, viver o presente!
Viver o presente, momento a momento.
E com o tempo vais acabando por perceber que o passado, assim como o futuro deixaram de existir e se fundiram num unico momento...
Fundiram-se e transformaram-se... num presente mais longo.