
Mas fiz mal a alguém?
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À primeira vista, à primeira vista existe mas nem sei que quero acreditar. O que acontece quando o nosso coração ressoa com o de alguém de tal forma que a simples lembrança da energia da outra pessoa nos faz balançar, nos faz sair de nós e nos deixa embriagados de tanto sentir?
A minha metade racional lembra-me o sofrimento passado, enquanto o coração o torna relativo. Estar entre os dois ainda me deixa activa, ainda me deixa agir, talvez porque tenha aprendido a confiar no que o coração me dita, talvez porque continue a acreditar.... mas a lembrança do sofrimento deixa-me aterrada. É a isto que chamam coragem? Continuar a agir e a seguir impulsos de coração nas mãos?
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Sei que a outra parte também sente o impulso, o aperto e a vontade, sei que, de alguma forma também foi à primeira vista, sei que também se deixou guiar. Mas e o seu medo? Ou a sua coragem, em que estado o deixa?
Também sentes o medo do sofrimento, o aperto, o não saber?
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Ser e estar... o sofrimento passado aconteceu exactamente porque ressoavamos mas em oitavas diferentes, na mesma nota mas mais acima ou mais abaixo.... Corações da mesma cor mas de formas diferentes... De formas de estar tão diferentes....
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Isto é meu, o que sinto é meu por direito e direcciono o que sinto para onde levo a minha atenção. É um facto, mas é mais que isso e a partir daqui nem sei se tenho palavras. Existem palavras?
Como é que se explica, se descreve essa vibração exponenciada em cada centimetro da minha pele?
Dar atenção a outras coisas, amadurecer o sentimento sem me deixar levar por ele.... já aqui estive antes e sei o que assusta a outra parte quando tenho esta certeza. Esta absoluta certeza do que vai acontecer. Sei o que quanto me deixou congelada no passado, com uma pessoa e o que acontece quando o medo da intensidade e profundidade não estão conquistados, com outra.
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Sei tudo isto e no entanto... o coração continua a aquecer, os batimentos a falhar e a pele a latejar com a vibração... A certeza não desaparece, aumenta de cada vez que olho para ela com mil argumentos. O medo aumenta, proporcional à certeza. E a coragem, a vertigem que nos faz dar um passo ao avistar o abismo cresce com ambas...
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Eu estava sossegada, no meu canto de onde só saio para dançar, não ando a desassossegar ninguém, não dou primeiros passos e tenho por habito ficar quieta quando outros o dão. Mas fiz mal a alguém?
Não quero deixar de sentir o que sinto... é meu por direito. Mas será que podia deixar de suspirar, de ver as luzes a brilhar e as formas a rodar?