domingo, 5 de outubro de 2008

Sexta à noite1 - Almada velha

Mais uma sexta feira, tão absolutamente normal como qualquer outra...
Não fosse ter sido um dia atípico, repleto de acontecimentos surreais isto seria verdade: uma sexta como qualquer outra. Quando cheguei a casa, já madrugada de sábado não conseguia dormir. Precisei de uma hora para conseguir assimilar tudo o que se passou durante o dia.
De todos os episódios desse dia que vieram preencher um pouco mais a novela de cordel que é a minha vida destaco um, que é mais um dois ou três em um. Foi então assim:
Fui dançar a Almada a um bar à beira rio que costuma organizar concertos/bailes de musica tradicional. E como qualquer baile acaba por se prolongar até às 3h da manhã. Acontece que fui sozinha e vim sozinha de carro. E sair de um bar no Ginjal, subir as escadas até à cidade velha, encontrar o carro e sair de Almada pode ser intimidante. E é intimidante. A cidade está deserta e as poucas pessoas que circulam a essa hora, regra geral, ou estão bêbados ou à procura de problemas. Um pouco como o Bairro Alto a essas horas, mas mais silencioso e "pesado". Talvez seja apenas mais desconhecido, para mim.
Vou a subir as escadas quando encontro dois cães confortavelmente deitados, que me começam a rosnar... não costumo ter medo de cães, mas ali não havia como me desviar ou não os incomodar. Estavam no caminho e precisava de passar. E eles nem se mexiam nem paravam de rosnar. 3h da manhã - estou feita! Não vou dar a volta a pé, que não sou assim tão louca, mas não quero levar uma trinca de cães mal dispostos. Além de que para mal disposta estou cá eu... Acabo por me sentar a alguns degraus de distancia e começo a explicar-lhes que preciso mesmo de passar. Peço-lhes desculpa por os ter acordado, mas preciso mesmo de passar e não quero voltar para trás. E não é que os sacanas acabaram mesmo por se desviar. Agradeci-lhes e passo com a mala do lado deles - não fosse o diabo tece-las! Ufa! Chego lá acima (aquela subida é linda, mas óptima para emboscadas e não me importo de andar sozinha à noite, mas tenho sempre os olhos e ouvidos bem atentos). Como estava a contar, chego lá acima com a sensação de nada a declarar e primeira etapa cumprida. Vou até ao carro, cuidadosamente, entro no carro, tranco imediatamente as portas. Ok segura e pronta para voltar para casa e dormir pelo menos 5 horas.
Almada velha é repleta de ruelas de sentido único e bem estreitas. É linda, mas complicada para a minha banheira de quatro rodas. Assim, tenho de dar a volta ao quarteirão (que de quadrado não tem nada) para entrar numa rua principal. Lá vou eu com mil cuidados com os espelhos e traseira quando, ao virar de uma esquina, percebo que para entrar no próximo beco ia ter de passar por cima de um monte de sacos que estão no chão. Faço marcha à trás e paro para tentar perceber o tamanho dos sacos e eventual conteúdo. Para meu espanto não eram sacos... nem queria acreditar! Estava um rapaz vestido de preto deitado em posição fetal na rua. Ok não estava no meio da rua, mas naquelas ruas é impossível não estar no meio da rua! Destranco as portas e saio do carro: o rapazinho estava quase em coma alcoólico, com um bafo explosivo e quase inconsciente. Abanei-o, chamei-o e nada a não ser resmungos. Às páginas tantas lá acaba por aparecer um senhor a uma janela a dizer-me que ele estava ali à duas horas e que tinha estado um rapaz com ele mas que se tinha ido embora. Bonito! Não consigo passar com o carro e ele não me parecia capaz de se desviar. E não ia ser capaz de fazer marcha atrás e deixa-lo ali embrulhado e prontinho a ser passado a ferro por outro condutor menos cuidadoso. E também não me estava a apetecer arrasta-lo dali para... para onde?? Para outro beco ou para o hospital? Peço ao senhor para chamar uma ambulância que eu esperava. Passado alguns minutos acaba por aparecer o tal "amigo" que me diz que estava farto de ali estar e tinha ido dar uma volta...... sem comentários........ consegue ergue-lo para eu poder passar com o carro. Enfio-me no carro outra vez, tranco imediatamente as portas, respiro fundo e penso outra vez - vou para casa e ainda vou conseguir dormir umas 4 horas...

2 comentários:

Anónimo disse...

Não é sem comentários, é mesmo assim!
Eu estive ai nessa noite (ou outra qualquer igual), e o pobre amigo nada podia fazer a não ser deixar o outro dormir!

Cris disse...

Olá anónimo :)

Bem vindo ao meu cantinho publico e aberto a todos os que quiserem por aqui passar!

Existem sempre outras coisas que podemos fazer... a questão é que não nos podemos limitar ao pensar que não podemos fazer mais nada... e mesmo quando não podemos fazer mais nada, podemos sempre mudar a atitude com que não fazemos nada.

Sê bem vindo!
Cris