terça-feira, 18 de novembro de 2008

A Dançar Sozinha

No sabado passado estive com o meu filho num festival de musica tradicional, em Corroios. Entre concertos e workshops, a dança não faltou... De repasseados alucinantes e circulos contagiantes a pauliteiros de miranda, houve de tudo um pouco.
Estive num workshop de uma dança tradicional sueca, com raizes lapónias, em que a dança é a pares. O homem vai ligeiramente atrás e de lado da mulher e ambos têm as mãos pousadas nas mãos do outro, uma mão virada para cima e outra para baixo. A dança é belissima com o homem a conduzir a mulher de um lado para o outro, podendo rodar, passar a mulher à sua frente, rodarem sobre si proprios... As mão nunca se separam... É de uma beleza e sensualidade extraordinária. Para terem noção do espectaculo, foi dançada ao som de Hedningarna. O povo da Lapónia tem origem genética na Peninsula Ibérica e norte de Africa. E a dança e a musica, apesar da distancia, não escondem as suas origens... absolutamente pagãs.
Estavamos a dançar, com os pares a formarem um círculo, o Miguel a correr dentro e fora dele e um homem a fotografar a aula. Às páginas tantas o Miguel faz asneira e eu deixo o par e o círculo para ir remediar a situação. Quando volto já o meu par tinha sido ocupado :)
Não tenho par e é uma aula... mas conheço bem a dança e a musica, apetece-me mesmo dançar e o instrutor já me conhece o suficiente para me permitir estes pequenos devaneios... entro no círculo de pares sozinha com as mãos colocadas sobre as mãos de um par imaginário, fecho os olhos e começo a dançar e a rodopiar ao som da musica... leve, solta, a sorrir... um daqueles momentos únicos...
Finalmente paro, saio da dança e fico de fora a ve-los dançar. É um deleite ver os homens a redescobrirem o prazer de guiar a parceira de dança e as mulheres a deixarem-se conduzir.
O homem que estava a fotografar vem ter comigo num misto de ansiedade, expectativa e alegria e pergunta-me - É casada?
Começo-me a rir por dentro, sorrio e digo não, enquanto me pergunto: mas o que é que se passa aqui?
- Então é solteira? pergunta com os olhos a brilhar.
- Sou.
- Desculpe, mas esta semana resolvi fazer um trabalho sobre mães solteiras e quando a vi a dançar sozinha percebi! - disse ele - Percebi que é continuar a dançar sozinha!
Olhei para ele, parei de pensar e relembrei o que senti enquanto dançava e sentia o Miguel a brincar por perto... o meu coração cresceu e aqueceu... era mesmo isso.
É mesmo isso, respondi a sorrir, é mesmo continuar a dançar sozinha...
O que não disse, o que não sei se viu foi a tristeza quente por detrás do sorriso, a solitude e às vezes a solidão, o cansaço, a coragem que é preciso e a força que nem sei de onde vem para continuar a dançar... em vez de andar...

3 comentários:

Inês disse...

E saber que quem nós queremos como par é alguém que já venha a dançar, que dance a mesma dança e que dance connosco.
Que nunca seja o motivo da nossa dança, que não o tenhamos de puxar sempre para dançar e que nós nunca sejamos o motivo da dança dele.

Inês disse...

Ah, Ah a menina está a dançar de saias :D

Cris disse...

Pfff :D
Dançar descalça já é normal, não é?

Namaste