segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Crianças grandes

E agora eu ficava invisivel e anónima? Ninguém me conhecia e quando entrava ninguém reparava em mim? Passava despercebida e nunca abria a boca?...
Ele há pessoas para quem o olhar foge. Cruzamos os olhos e reconhecemo-nos. Talvez porque mantemos o olhar, sem agredir. Só por curiosidade, só porque queremos saber, só para perceber quem ali está. Sem segundos sentidos ou intenções. Só porque sim. Mantemos o olhar e sorrimos. O sorriso é retribuido, no máximo diz-se bom dia, os olhos desviam-se. Mas é quase impossivel esquecer que a pessoa está na sala, na rua, no carro ao lado, na mesa de café.
Presença, carisma, vontade, boa energia... chamem-lhe o que quiserem...
A verdade é que existe uma grande dose de inquietação e interrogação. Estamos sempre a reparar no pormenor idiota. E nem reparamos nas coisas mais absolutamente obvias. Temos sempre vontade de ir a qualquer lado diferente, de ir ver qualquer coisa. De conhecer e explorar, experimentar, sentir. De ir...
Esquecemo-nos de pagar a luz, da mala no café, do nome da vizinha, do aniversário do amigo. Não conseguimos decorar datas precisas. Mas lembramo-nos perfeitamente das sensações. Não conseguimos estar sempre com as mesmas pessoas ou a fazer a mesma coisa muito tempo... afinal ainda há tanto para fazer e conhecer!
Quando paramos muito tempo começamos a sentir-nos sufocados, inquietos, com bichos carpinteiros, submersos pelo que nos rodeia e com vontade de ar puro. De respirar fundo e continuar a saltitar, de ir.
Com cerca de 28 anos incomodava-me a pergunta silenciosa que fazia a mim mesma: "E quando for grande o que é que quero ser?"
Hoje, tive a felicidade de conversar 5 minutos com uma menina grande de 45 anos, de reconhecermos a mesma forma de estar e ser, a mesma inquietação e noção que não existem fronteiras nem limites, apenas tempos diferentes para cada um. Sorrimos à loucura uma da outra, à distracção das coisas mundanas e à incapacidade de passarmos desapercebidas. Sorrimos à estranheza e desconforto que às vezes causamos nos outros. Sorrimos como se fosse uma piada privada.
E percebi que, se calhar, nunca vou ser grande...

5 comentários:

Anónimo disse...

olá Cris,
loucura? pode ser que seja, mas é saborosa.
eu não quero voltar a ter que ser grande outra vez, não quero, quero sim manter esta loucura sempre.
conquistei-a, é minha!
este texto está excelente!
um beijinho
Armando

Cris disse...

Olá Armando,
Essa loucura é intrinseca. Às vezes fazemos de conta que somos "grandes" tanto tempo que nos convencemos que o somos. Outras, quando temos de nos enquadrar em qualquer lado, esquecemo-nos... e passado algum tempo reparamos que nos andamos a trair, ficamos zangados, assustados, doentes, amargos... :) Depende da pessoa e do tempo que passou. A conquista da nossa loucura é a reconquista de nós mesmos. Fico feliz por também seres louco.

E agradeço mais uma vez a atenção e mimo pelas minhas palavras e forma de expressão. O certo é que, apesar de um pouco desconcertante, me convenci a ir tirar um curso de escrita criativa :) A minha area de formação mora longe da escrita. Perceber que o que escrevo toca algumas pessoas faz-me ter vontade de explorar um pouco mais essa minha faceta.

Beijos
Cristina

Inês disse...

“A verdade é que existe uma grande dose de inquietação e interrogação. Estamos sempre a reparar no pormenor idiota. E nem reparamos nas coisas mais absolutamente obvias. Temos sempre vontade de ir a qualquer lado diferente, de ir ver qualquer coisa. De conhecer e explorar, experimentar, sentir. De ir...
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Quando paramos muito tempo começamos a sentir-nos sufocados, inquietos, com bichos carpinteiros, submersos pelo que nos rodeia e com vontade de ar puro. De respirar fundo e continuar a saltitar, de ir.
Com cerca de 28 anos incomodava-me a pergunta silenciosa que fazia a mim mesma: "E quando for grande o que é que quero ser?" “

Ontem sem dar por isso a vida deu-me a resposta a essa pergunta e de sentir que algo dita mais sobre a minha vida do que eu própria e única coisa necessário é estar ligada essa energia divina cósmica. O que eu quero deixa de ter sentido... Basta simplesmente estar. Ou melhor, como sinto, fluindo em ondas que me vão deixando encalhada em diferentes margens.

Beijos Irmã do Coração

Cris disse...

Não diria propriamente encalhada :)

Estou tão feliz por ti, Inês do meu coração! É a oportunidade de uma vida!

Se recuarmos 17 anos e nos lembrar-nos de nós como eramos e o percurso que fizemos até chegar aqui... a vida é engraçada! Eternas inconformadas, cada uma à sua maneira, sempre seguimos o nosso coração...

Querida Inês, se há alguém que merece és tu! E tens todo o meu apoio e ajuda! Sempre!

Gosto de ti! *

Namaste

Anónimo disse...

Cris,graças a Deus por te ter conhecido! A verdade é que acho que somos todos crianças, não só porque,durante a passagem por este belo planeta raras são as vezes em que isto tudo faz sentido (e só o faz, quando percebemos que fazemos parte de uma realidade muuuuiiito mais vasta, em que todos somos irmãos e um só é O nosso Pai), como só sendo "crianças" conseguimos ir progredindo em Espírito e Verdade! Creio sinceramente que se não nos mantivermos crianças (não irresponsáveis, claro está!)estamos a cair fora da Vida. Secaremos sem crescer e isto é bué da grave!!! Looool :)Jesus disse que o Reino dos Céus é das crianças e daqueles que se fizerem como elas, não foi? Por isso vamos lá ser crianças e vamos ensinar os nossos filhos/as a ser crianças, sem nos esgatanharmos pelos bens deste mundo nem perdermos a confiança no nosso Pai, invisível mas sempre presente, que nunca nos abandona nem nos deixa faltar nada. Claro que as Crianças também não são preguiçosas! Bem, já escrevi demais!!! Muitos beijinhos da "menina grande de 45 anos", que por acaso já são 50... Como o tempo passa, he he :)) Marg