sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Em silencio

A diferença entre dançar e andar...
Habituei-me a tomar decisões, a conduzir a minha vida com determinação, a seguir o que sentia, mesmo que só o sentisse por um segundo, a lidar com as consequencias das minhas decisões.
Libertei-me de um pai controlador, de um pai à moda antiga, chefe de familia. E passei a ser eu a controlar a minha vida, a ser independente. Aprendi a ser independente. E pelo caminho tenho recusado qualquer forma de interdependencia.
Acontece que ninguém é independente. Quem pensa ou vive a pensar que é independente vive um belo inferno. A independencia, fala a voz da minha curta vida, tem como preço o corte com os que nos rodeiam. Somos dependentes uns dos outros. Dependemos uns dos outros, sem confundir dependencia com apego. Mas dependemos... interdependemos.
Dependo de amor, de afecto, de toque, de confiança. Negar isso é negar ser mulher. É negar ser um ser humano do sexo feminino com tudo o que lhe é inerente e belo. Dependo, porque sou mulher, do que recebo e dou. Faz parte da minha natureza. Da natureza de qualquer mulher.
Na luta pela independencia, pelo ordenado, pelas contas pagas, pela educação do meu filho, pelas rotinas diárias tão necessárias para assegurar um ambiente de segurança ao meu filho, às vezes, esqueço-me do que isso pode significar: ser mulher. Do que significa ser receptiva...
Noto de cada vez que não o sou. Digo-me sempre o mesmo: "Ouve mais, fala menos".
Tempo houve em que não me apercebia sequer e continuava a lutar contra moinhos de vento.
Não me apetece lutar mais.... não me apetece chegar a casa e pensar "Round 2, etapa seguinte".
Estou cansada de ficar cansada... estou cansada de lutar, de ter de provar (a mim própria) que consigo fazer tudo sozinha. Às vezes não consigo! Às vezes preciso de ajuda...
E quanto mais cansada estou mais falo e menos ouço... os outros, a mim... menos atenta.
Caminhar em silencio. Alguém me disse que existe um nome para isso...
É tempo de praticar o silencio... de descobrir o que significa realmente nascer mulher...

3 comentários:

Inês disse...

Welcome to the group!

E com isto te deixo um texto meu que uma vez eu enviei sobre a necessidade de nos perdoarmos pela maneira como transmitimos a nossa imagem de mulher no meio da sociedade.

"Tenho pensado de como fui criada e como a minha mãe foi criada, como a minha avó foi criada, como viveu. E é impressionante como todas elas foram postas para baixo. E este padrão não é de há alguns anos para cá, são de há muitos e muitos anos fruto da religão e da sociedade.

Vivemos numa sociedade patriarcal, as sociedades matriacais quase não existem e com isto deixamos de saber o que é ser mulher, ser respeitada como mulher. Tudo o que diz respeito às mulheres tem sido posto para baixo e desrespeitado. Assim como podemos, nós as mulheres, ter auto-estima e confiança. Nós nem sabemos qual é o nosso papel de mulheres, estamos tão distorcidas, tão dominadas que aquelas que quiserem lutar e ter uma voz activa reivindicam os mesmos direitos que os homens. Ter as mesmas oportunidades de emprego, o mesmo pagamento pelo trabalho e sermos aceites como iguais mas esqueceram-se que somos mulheres.
Sim esta reivindicação era necessária, mas volto a dizer nós somos mulheres e não homens. Nós tomamos conta dos nossos filhos, parimos, deixamo-nos levar pelos sentimentos, adoramos tudo o que é vida e não podemos achar que somos mais mulheres e e respeitadas por termos um cargo superior no trabalho e querer tudo o que o homem tem!

E é neste processo que eu vivo agora, descobrindo que sou mulher, que sou uma parte de bipolaridade existente na vida. Que sou tão diferente do homem como a luz é da escuridão, mas sem esquecer nunca que não me posso definir como mulher sem a existência do homem. Como podemos dizer o que é a luz sem pode-la comparar com a escuridão!

Todo isto influência a minha consciência de ser mulher e me faz perceber o que sou e em que meio estou e como posso trabalhar a minha confiança e auto-estima como mulher.

É também esta consciência me tem permitido perdoar, perdoar a mim por não saber ser mulher, perdoar as outras mulheres que também não o sabem e perdoar os homens pois esse nunca souberam o que é ser mulher."
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Neste momento tento perceber como funciona o homem, o ser do sexo masculino, que através dos contrários consigo definir melhor o que sou. Descobro-me a observa-los, a tentar perceber o que lhes move. Como conseguem ser homens sem ter a necessidade de mandar, de terem a responsabilidade de serem os "chefes", os que decidem. Como eu, como mulher, consigo que os homens sejam homens sem sentirem a necessidade de me dominarem. Também acredito que existe uma grande necessidade de os homens de se definirem como homens. Como dizia Campbel as raparigas passam para mulheres quando tem o período, de mulher-filha para mulher-mãe quando têm filhos e o os rapazes para homens que processo físico doloroso ocorre neles? Antigamente era a sociedade que estabelicia os rituais e agora que rituais exsistem para o rapaz passar a homem? De homem-filho para homem-pai? E qual é o nosso papel como mulheres em ajuda-los a ter esse ritual. Percebo também que este processo de descoberta da mulher e do homem passa muito da ajuda de ambos. De estarem juntos, de partilharem, viverem, estarem felizes nas suas condições. Sem que nenhum queira ser mais que o outro.

Vem à minha cabeça de um diálgo com um companheiro de dança:
"Ah, estamos a rodopiar mais depressa" - eu
"Percebi que querias ir mais depressa" - ele

E assim continuavamos ele a levar-me para onde ele queria, talvez à velocidade que eu queria. E ambos mandavamos na dança.

Beijo Irmã do coração

Inês

Cris disse...

E andamos normalmente numa pescadinha de rabo na boca. Nós a tentar perceber qual o nosso papel como mulher em que nos mantemos fiéis a nós mesmas e à nossa natureza. Eles a tentar perceber qual o seu papel como homens em que se mantém fieis a si proprios e à sua natureza...
Não há livros disto lol
E tens razão quando dizes que é pela relação a dois que muitas vezes conseguimos descobrir e equilibrar as duas energias.

Mas é preciso um parceiro/companheiro consciente da necessidade de procura desse equilibrio de papeis para que haja um equilibrio real. E por aqui não me alongo mais lol

:)*

Namaste

Anónimo disse...

You know quite well, deep within you, that there is only a single magic, a single power, a single salvation...and that is called loving. Well then, love your suffering. Do not resist it, do not flee from it. It is only your aversion to it that hurts, nothing else.
Hermann Hesse