sábado, 14 de fevereiro de 2009

Rodas quadradas numa carroça

Há já alguns dias que não consigo escrever, não é por falta de assunto que esses têm sido mais que muitos mas por esta ter sido uma semana fértil em acontecimentos marcantes. Tenho andado a procurar o fio condutor de todos eles. É um exercicio engraçado e obriga-me a reflectir sobre o que vai acontecendo. E obriga-me a estar mais atenta.
"Tudo acontece como tem de acontecer e está tudo bem, porque é mesmo assim que tem de acontecer. Se somos capazes está tudo bem e se não somos está tudo bem na mesma."
Isto a juntar ao silencio relativo que tenho conseguido ter dentro de mim têm-me levado às circunstancias mais curiosas. Têm-me feito não reagir a determinados acontecimentos e a agir provocando outros. E está tudo bem... teoricamente ;) Isto é um treino e ninguém disse que era fácil. É apenas simples. A unica coisa que pode tornar fácil é a minha atitude perante o que acontece. E esse tem sido baseado no silencio interior. E no deixar de ter resistencias ao afastamento.
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De uma forma muito simples: as pessoas afastam-se, é natural. Por experiencias de vida diferentes é natural que deixem de ter encaixe, que deixem de ter tema de conversa ou que deixem de se sentir confortáveis e quentes na companhia do que antes era quente e confortável. Por vezes são as coisas mais idiotas que as mantêm juntas. O que provoca sofrimento é a reacção que temos a esse afastamento e o agarrarmo-nos ao que as mantém juntas. Voltamos ao mesmo... o coração lembra as diferenças com carinho e aceitação. Não é necessário o conflito. Se esse existir vamos estar a minar qualquer hipotese de aproximação futura. Afastamentos e aproximações, afastamentos e aproximações. Ciclos, estações, expansões e contracções. É natural! Não posso, nem vou justificar-me perante isso, porque não existe justificação. As palavras que possam ser ditas para justificar estes ciclos são tão desnecessárias e contraproducentes como rodas quadradas numa carroça.
Mas existe uma necessidade de ego de ficar por cima. Tenho reparado nisso em ambas as situações. Tanto para os afastamentos como para as aproximações. Não conseguimos ser honestos e simples na abordagem inicial que fazemos às pessoas de quem nos aproximamos. Parece que temos sempre alguma coisa a provar, que estamos sempre há espera de algo, que precisamos de nos sentir importantes e relevantes. E esssas atitudes não mudam quando nos afastamentos, só mudam os contornos. Sentimos a necessidade de levar a bicicleta, de dizer que eramos nós que tinhamos razão, que nos fizeram isto ou aquilo e por isso nos afastamos. Que a outra pessoa, de repente :) ficou parva e muita paciencia tivemos nós. Pois... pois mesmo. Não me apetece nada disto. E o resultado é o silencio tanto numa situação como na outra. Se há afastamento, não me apetece estar a dourar ou a fazer festinhas no ego de ninguém (nem no meu) e muito menos a entrar em conflitos e a dar força a resistencias. Se há aproximação que sejam pelas boas razões, pelas que interessam, porque gostamos do sorriso, porque houve sinceridade nos olhos de quem sorriu. Não porque se teve uma tirada mais "inteligente" ou mais idiota. Não por estarmos à espera de algo nem porque esperam algo de nós.
Tenho percebido porque é que me relaciono com pessoas aparentemente tão diferentes, de quem tenho tendencia para me aproximar e de quem tenho tendencia para me afastar... tenho andado bastante entretida a perceber se estou a tentar camuflar uma necessidade ou se não existe razão mais nenhuma senão aquele encantamento pela expontaneadade e sinceridade da outra pessoa.
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E tudo acontece exactamente como tem de acontecer! Até o deixar de ter resistencia a estas danças. Só assim a memória não abafa o encantamento do coração com a lembrança do que lhe é diferente. Só assim agradecemos o tempo em que estivemos proximos.
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