segunda-feira, 27 de julho de 2009

Inspiração

Ato o cabelo com um nó, num gesto rápido e lanço os dedos ao teclado. Este dedilhar rápido é um processo que questiono muitas vezes. Faço algumas pausas, só a olhar para as letras e a procurar inpiração. Inspiração...
Inspira, expira
Expira, inspira
E até que é um processo de ventilação... De onde é que vem a inspiração, o que é isso de inspiração? A leitura e o interesse pelas palavras, o reconhecimento pela beleza de uma ordem nas palavras, de uma determinada ordem de espaços e letras que traduzem uma ideia, um sentimento ou uma emoção sempre me encantou. Como me encantam as borboletas e as papoilas ou o cair de areia de uma mão. De onde vem a clareza quando ponho ordem neste turbilhão?
Como é que as outras pessoas fazem? Ou não precisam?
A necessidade da ordem para não ser subjugada pelos sentimentos. Saltito, seduzo, observo, mudo, absorvo, volto a seduzir tranquila e inconsequentemente. E sinto. Sinto tanto e tão profundamente. Questiono, pergunto, penso e ao mesmo tempo aceito. Um dia de cada vez. Uma paixão de cada vez. É um facto que de cada vez dura cada vez menos... Mas vivo apaixonada. Apaixonada por pessoas e momentos. Danço, flutuo e amo. Por fora nunca percebo o que os outros veem até ao momento em que o mostram. Mas por dentro o mundo é cada vez mais branco. Ou pelo menos hoje foi.
Estava a falar de inspiração? De por ordem ao que sinto e vejo. De por ordem ao que penso. Mas é mais que isso. Porque quando conto, quando descrevo por sons saem-me factos, acontecimentos e nunca consigo transparecer a profundidade, as camadas por debaixo das camadas. Não consigo descacar com exactidão e atingir o cerne da beleza daquele momento, do que me fez sentir. A inspiração vem daí. Exactamente daí! Da memória do que senti. Talvez da tentativa de reviver aquele momento, talvez da tentativa de o reviver com outra visão. De subir um pouco o monte e ganhar uma vista diferente. Inspiração...
A inspiração é um processo activo em que agimos em tensão. Colocamo-nos em tensão. E a seguir à inspiração segue-se necessáriamente a expiração. Aquele momento do respirar fundo em que soltamos o ar todo que estava retido nos pulmões e o alivio chega.
Estava a falar de que inspiração? Do reter de frases, sentires e pensares ao longo de um certo tempo em que se vão acumulando até à fase em que é necessario deixa-los ir, deixar tudo isso seguir o seu percurso natural e desvanescer-se suavemente.
De onde vem a inspiração? Curiosamente do turbilhão. Do viver tumultuoso, das pequenas e grandes estórias, das frases soltas e pensamentos loucos. Vem dos sonhos a dormir e dos sonhos acordados. Da atenção aos pormenores e do reconhecimento da beleza sublime numa qualquer coisa banal. Vem da intensidade do amor, da tristeza, da alegria. Até vem, vejam bem, do cansaço e monotonia, se também essa for vivida.
Inspira, inspira, inspira, inspira... ora tentem lá! Chega um momento em que temos que por alguma ordem à casa. Algo tem de ir, alguma coisa tem de sair para dar espaço às coisas novas. É uma necessidade natural. O processo, a porta que se abre para o expirar é irrelevante. Mas a pressão tem de ser naturalmente aliviada para que não haja uma explosão. E para haver uma explosão já houve, há muito, uma implosão. Inspira, inspira, inspira....
BUUUMMM?....

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