sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Fértil

Terreno fértil! É só isso que os nossos sonhos necessitam para que se concretizem. Há que ter paciência e saber esperar, há que cuidar do sonho, mudar o contexto onde se insere, quando o terreno não é fértil. Há que saber transplantá-lo, retirar as folhas secas e leva-lo connosco, para onde quer que formos.
São os meus sonhos, são eles que me fazem mover, mudar, crescer, procurar. É por eles que me desassossego e é com eles que me ocupo. São eles que me guiam, quando tudo o resto falha.
E são coisas simples e tranquilas, os meus sonhos. Carregam em si o potencial de flores e frutos quando o momento e local e o tempo propicio chegar. Nunca tudo ao mesmo tempo mas um de cada vez. E se o terreno onde se encontra não é fértil, pois que me resta apenas pegar no sonho, coloca-lo cuidadosamente num vaso bonito e voltar a viver, enquanto mantenho a alma aberta aos sinais que me indicam que aquele terreno tem, não o aspecto, mas as características básicas para que o meu sonho posso crescer, dar flores na primavera e frutos no verão.

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos

como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como estas árvores que gritam
em bebedeiras de azul
eles não sabem que sonho
é vinho, é espuma, é fermento
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
no perpétuo movimento

Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel
base, fuste ou capitel
arco em ogiva, vitral

Pináculo de catedral
contraponto, sinfonia
máscara grega, magia
que é retorta de alquimista

mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos Infante
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança

Ouro, canela, marfim
florete de espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim

passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora

cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar

Eles não sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança

António Gedeão

1 comentário:

Pulha Garcia disse...

Gosto muito deste poema. Mas há dias que o recebo melhor que outros. Pode ter um impacto destrutivo.