sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Frágil

Quando a vida nos troca as voltas e nos deixa ao sabor dos sonhos naufragados e recuperados, a baloiçarem, mal amparados em frágeis embarcações de papel.
Quando a lógica observa irónica e o sentimento coloca o coração nas mãos e ambos dizem, Ai, que se vai afundar. E contra toda a lógica o fino papel insiste em se manter à tona, suspenso nas águas por uma magia qualquer, ensopado, é certo, de medos, de fantasmas, mas mantém-se corajosamente a baloiçar por cima das ondas.
É que ele guarda dentro de si muita da fé que contenho, a fé no melhor de mim e de cada um de nós, no acreditar sem sentido, nos milagres e conquistas.
Quando um movimento brusco o faz baloiçar um pouco mais, quando ameaça ser afundado por um balanço ou sugado por um remoinho uma ou, às vezes, mais mãos o amparam e ele, por milagre, insiste em se manter à tona.
E enquanto insisto em continuar a acreditar, com todas as razões para o fazer e no fundo sem absolutamente nenhuma, por vezes desalentada, por vezes desesperada, por vezes zangada, uma parte de mim observa espantada o frágil barco de papel e reconhece o milagre que o sustem, enquanto uma outra parte insiste em me sussurrar ao ouvido, O quê, mas ainda acreditas?
Fragilidade e coragem, milagre e teimosia. O sonho e a fé não dependem da embarcação que os contém, é o que a minha alma responde. Mas, às vezes, só a ouço passado uns dias.

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