terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Aprender a ser feliz

Houve alguém que me escreveu, um dia, que alguma culpa eu deveria ter para a vida me sorrir...
A minha resposta foi obvia e imediata - Não é a vida que me sorri. Sou eu que sorrio à vida... sem culpa.
Sou feliz. Aprendi a ser feliz, sem pressa, sem ansiedade. A aceitar as minhas escolhas e a aceitar o que a vida me oferece e retira. Muita agua correu para me sentir assim e muita tinta escorreu para o aprender. Nunca pedi para ser feliz. Se pedi alguma coisa para este ano quase a terminar foi simplesmente alegria. Alegria... e todo o universo conspirou e se alinhou para mo conceder. Não momentos de felicidade, divertidos, alegres ou contentes. Não tinha sido isso que tinha pedido. Pedi alegria... e foram colocadas à minha frente pessoas e oportunidades que poderia ter deixado passar. Mas não deixei. Aproveitei cada uma delas para aprender a ser feliz. Não digo que a vida seja facil, não o é para ninguém. Mas é simples. Tão espantosamente simples que quase não dá para acreditar.
Treinei e aprendi a encantar-me com todas as pequenas coisas que me captam a atenção. Desde uma flor num canteiro, a uma pessoa especial, a um céu extraordinário, uma musica, um ritmo, um pombo que passa, uma imagem, um sorriso, um reflexo. E aprendi a acumular a sensação. Em vez de a perder e ir procurar outra sensação, aprendi a fazer perdurar cada uma delas e a soma-las. A partir de certo ponto torna-se exponencial. Deixam de se somar para se multiplicar.
Treinei e aprendi a aceitar que as pessoas não ficam nas nossas vidas mas sim no nosso coração. Que aparecem, surgem e ficam ou não, assim como eu fico ou não nas vidas delas... sem culpas ou sofrimentos. E só acontece assim se eu me deixar viver o que tenho a viver com elas. Se deixar de ter medo de magoar ou sair magoada. De nunca deixar passar a oportunidade de dizer e fazer o que realmente sinto. E de ficar calada quando devo ficar calada. De deixar que as pessoas se sintam livres para ir ou ficar... sem chantagem emocional nem vitimas. Sem projecções.
Aprendi a sentir-me livre. Mesmo com obrigações, rotinas, trabalho, horários. Aprendi que a liberdade é um conceito absolutamente relativo e que o unico sitio onde tenho que me sentir livre é no meu coração. Que para me sentir livre no meu coração só tenho que me deixar sentir livremente. Tenho que estar centrada em mim e no que é importante para mim. Não no meu umbigo... mas no que sou para além dos titulos, profissões, bens, ocupações e outros ões. Aprendi que isso é o que estou. E que posso mudar isso como mudo de estilo de roupa ou penteado. Sem culpa, mais uma vez. Sem apegos.
Aprendi que tudo muda, tudo passa, todas as dores, todas as pessoas, todas as paisagens. Que nada, neste mundo é eterno. Que nada é realmente importante. Que a unica diferença que faço é no meu proprio mundo pessoal. Que as unicas pessoas que vão recordar o que sou são aquelas a quem abrir o coração. Todas as outras irão apenas recordar o que fiz. E que já me recordam por viver e fazer o que sinto de coração.
Aprendi que o maior sofrimento é o que causamos a nós próprios. Quando nos enganamos, nos mentimos, quando criamos uma ilusão e a vivemos como se fosse realidade. Aprendi que prefiro viver um sonho, a viver a ilusão de uma realidade. Aprendi e treinei o criar e desfazer ilusões. Até perceber que o sofrimento e o mal que nos fazem ou fazemos são fruto de uma ilusão que nós próprios criamos ou em que nos deixamos acreditar.
Aprendi que a única responsabilidade é a de viver e por em pratica aquilo que sou. Que a única responsabilidade que tenho é deitar-me e sentir que fiz o que senti que tinha que fazer, disse o que senti que tinha de dizer. Treinei e aprendi a prestar contas apenas a mim própria. Sem me deixar influenciar pelos que me rodeiam, sem me deixar levar por pressões do que fica bem ou do que os outros querem ou esperam de mim... sem culpas. Treinei e aprendi a responsabilizar-me.
Treinei e aprendi a ser tolerante. Tolerante comigo e com os outros. Que não faz mal cometer um erro, não faz mal uma distracção, um caminho menos certo... sou humana e ainda estou a aprender. Mas que isso não pode servir como justificação ou desculpa. Serve apenas para me lembrar de que posso e sou capaz de fazer melhor. Aprendi assim a ser tolerante com os outros e a aceitar que toda a gente tem os seus caminhos a percorrer, toda a gente tem os seus tempos de aprender e que toda a gente aprende coisas diferentes. Que somos todos humanos e que andamos todos a aprender. E que é por isso que aprendemos uns com os outros.
Aprendi a deitar-me e adormecer com a sensação de fiz o melhor que sei e posso neste momento. E que se não acordar, amanhã... não me arrependo de nada. Que quando me lembro de viver cada momento como se fosse o primeiro e o ultimo, consigo sempre dizer o quanto gosto de uma pessoa, perdoar e aceitar-me a mim e aos outros, pedir ajuda quando preciso, dar a mão a quem precisa, abraçar com a alma e coração, não ficar zangada com ninguém, pedir desculpa quando erro, deixar-me encantar com o desconhecido, absorver cada gota de sabedoria e sorrir de cada vez que dobro uma esquina... sem saber o que lá vem. Consigo viver entre a inocencia e a responsabilidade.
Ser feliz não exige muito... exige tudo de nós mesmos. Exige que nos permitamos ser nós mesmos sem estar à espera que sejam os outros a mostrar-nos. Exige que cada fibra do nosso ser diga SIM a nós próprios e ao que nos rodeia.
E sim... por vezes sinto que vivo numa realidade paralela. Não me ocupo com as mesmas questões, passa-me ao lado a que preço está a gasolina, quem está no governo, quem ganhou o ultimo jogo, o que deu nas noticias, quem anda a disputar o que. Passam-me ao lado jogos de poder, publicidades, vip e afins. Passa-me ao lado grande parte das coisas que ocupam a maioria das pessoas. Sou incapaz de manter uma conversa de circunstancia e de falar no tempo.
Mas aprendi a não deixar passar ao lado o que a pessoa que está ao meu lado no metro está a sentir, a expressão dos seus olhos e o quanto precisa de ser compreendida. Aprendi a voltar para trás no meio da multidão e a ir por uma moeda e dar um dedo de conversa com alguém que está a pedir na rua. Aprendi a olhar para as pessoas e não para os cargos que ocupam. Aprendi a falar a unica linguagem que é universal e comum a todas as realidades paralelas... a linguagem do coração. Aquela que se fala através dos olhos, da atenção, de um toque, da compaixão, da empatia.
E aprendi que é nesse sonho, nessa realidade, nesse país onde se fala essa lingua que Sou Feliz.

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