terça-feira, 3 de março de 2009

Respirar a viagem

Partir em viagem é sempre uma alegria. Sempre que tenho a oportunidade enfio o saco de cama e a mala na bagageira do carro e vou. Confesso que o destino me é quase sempre indiferente.
A ultima vez que isso aconteceu foi a semana passada. Rumo ao Alentejo profundo, verde nesta altura do ano, com planicies extraordinárias. Fui em direcção à dança, sabendo de antemão que, acompanhada pelo filhote, pouco ou nada iria dançar. Talvez ficasse a dança da vida.
Estive para não ir, fiz as malas 30 minutos antes de sair de casa e resolvi que viria no dia seguinte. Uma noite, um dia. E duas viagens. Continuava sem querer ir, mas apetecia-me viajar, conduzir sem destino e sem horários. Apreciar devagarinho o caminho. Meto-me no carro e mal passo a ponte e saio de Lisboa consigo respirar fundo.
É indiferente se vou para sul ou norte. Só não é indiferente a viagem. Não existe excitação à chegada. Em todas as viagens que faço tenho sempre pena de regressar do mundo da viagem para chegar ao destino.
Cheguei a Entradas, comi, ri, dancei, dormi, acordei, sorri, abracei, corri, descansei, ouvi, respirei fundo e, por fim, decidi voltar a viajar. Mais uma vez não me interessou o destino. E naquele momento só me interessou voltar a viajar. Despedi-me à pressa... também fazia parte da viagem?
A estrada corre, as paisagens voam, as arvores mudam, o rio substitui os montes que tinham substituido a planicie. Passo uma ponte e abrando. Gosto de passar por cima dos rios, nesses pontos mais altos de onde se ve mais longe... o entardecer acontece. O céu passa de azul a laranja, de laranja a violeta... qual será esta magia?
Tilinta bem fundo de mim o percorrer o espaço sem a equação tempo. Acontece o mesmo quando percorro o tempo sem a equação espaço...
Aprecio tanto a viagem... para que imaginar o destino? A viagem que fiz só pelo prazer de disfrutar a viagem fez-me uma surpresa à chegada.
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Lembro as viagens e lembro a pele
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Sem ansiedade pelo destino aprendo a apreciar esta viagem
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Tinha-me esquecido que sabia respirar no mergulho.

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