domingo, 22 de março de 2009

5 minutos de descanso

Este é daqueles momentos em que não me importava de conseguir ver de um pouco mais alto e perceber a minha floresta. As dos outros é sempre mais facil... não andamos lá a lutar contra a vegetação nem a tentar subir a nenhum monte para ganhar perspectiva... Ando por esta... não é para admirar que me tenha apetecido mudar de pele um bocadinho e calçar sem consequencias os sapatos de outra pessoa. É cansativo, uma canseira em que sabe bem poisar a cabeça num ombro que passa e se deixa ficar os 5 minutos de descanso que precisamos. Que às vezes preciso. E que preciso agora. Mas a vida nem sempre é como queremos, mas como tem de ser.
É engraçado como introduzo este conceito ao meu filhote desde que o conheço. É um trabalho duplo... de cada vez que lho digo, digo-o também para mim. Mas esta mania de tentar perceber o me acontece deixa-me ainda mais anti-social do que sou. Ou será que me deixa mais natural?
Ontem dei por mim a dizer algo que foi tão claramente para mim que abanei. Balancei o suficiente para parar dois minutos e pensar: "Mas o que é que se passa aqui?"
O bruxinho de serviço do quarteirão em que habito e com quem tenho algumas conversas interessantes no café que frequentamos, ontem veio sentar-se numa mesa perto da minha. É uma pessoa muito interessante e com quem tenho bastante empatia. Começa a dizer-me que é incrivel a quantidade de gente que ajuda na loja e no trabalho dele e quando precisa não consegue encontrar ninguém que o ajude. Revi-me bastante nas palavras dele, o suficiente para sorrir e perceber que uma afirmação daquelas não é falta de humildade. É apenas um desabafo. Quando se tem uma determinada prespectiva das nossas janelas não é fácil encontrar quem ouça e não opine, quem não sinta a necessidade de falar dos seus proprios problemas, que ouça de coração aberto, sem julgar, sem formar uma opinião ou sem minimizar a nossa questão. O respeito pelo que os outros sentem, pelas necessidades dos outros, pelas certezas, passos e decisões, não é uma caracteristica muito comum. Não é facil e sinceramente não há muita pachorra para desabafar com alguém que interrompe, minimiza, julga e critica os nossos problemas. Que nem sequer ouve. E a grande maioria das pessoas nem se apercebe que o faz. E quando nos habituamos a estar em respeito com os outros, quando interiorizamos esta forma de estar não é facil encontrar alguém que o faça connosco. Não é facil dizer: "Sinto isto"! Dou por mim a dizer, mesmo a pessoas muito proximas e com quem partilho o coração, "Não preciso que me digas o que pensas, se tenho ou não tenho razão ou o que farias, só preciso que ouças!". É tão raro, que a ultima vez que me aconteceu receber um "Percebo" cheio de amor e paciencia depois de um desabafo, levei 3 segundos a interiorizar a beleza do momento.
O que acontece quando nos habituamos a estar desta forma é que é relativamente simples ajudar os outros. Regra geral precisam de ser escutados, precisam de um gesto de amor e carinho, precisam de sentir que são alguém, que alguém se importa na loucura colectiva da vida em sociedade. E é muito dificil deixarmo-nos ajudar. Pior é extremamente dificil dizer "Preciso de ajuda" Raramente o faço. Revi-me absolutamente nas palavras dele, percebi claramente o que me saiu pela boca depois de o escutar e percebi que era tanto para ele como para mim... "Quando passamos muito tempo a ajudar os outros, esquecemo-nos de como se pede ajuda." Não disse mais nada e ele olhou para mim meio a espanto, meio já estava à espera (sim, tinha acabado de admitir ao bruxo de serviço do quarteirão que talvez tivesse concorrencia o que, ao longo das várias conversas que já tinhamos tido, sempre tive o cuidado de ocultar). Ao que ele disse: "É verdade, às vezes esqueço-me", com um sorriso.
E até aquela resposta podia ter sido minha. Às vezes esqueço-me de como se faz... e às vezes, às vezes quando peço, o ombro não passa, não está disponivel ou não pode. Não é suposto ter ombro naquele momento e quando chega, chega fora de horas, no timming errado e despropositado. Quando já não faz sentido e soa estranho. Quase que me ouço a dizer ao big boss lá de cima "Ó muito obrigadinha..."
Percebo claramente os desencontros e encontros deste fim de semana... percebo que estive onde tinha de estar e que a minha não presença num aniversário deu espaço para que algo de muito bonito e extraordinário acontecesse a uma amiga de coração. Percebo o trabalho e a importancia de ter estado aqui, para outra amiga de coração... mas, raios, um ombro também sabia bem, não??

4 comentários:

Inês disse...

Claro que sim :)E é das coisas mais agradaveis que nos podemos permitir, a 5 minutos de descanso no ombro de alguém que simplesmente está ali naquele momento.
Mas sabes o que é mais estranho para mim, é eu conseguir perceber que preciso de ajuda, para poder pedir ajuda. Às vezes é só preciso pousar a arma e descansar.

Um beijo grande

a.mar disse...

Há uns tempos pensava para mim que tinha tanto gosto em estar disponível para ajudar os outros. Aliás, era o que eu desejava para mim.
Agora, não sei porquê, parece-me que não. Parece-me que este disponível ocupava demasiado tempo em mim. Que tanto me disponibilizei que me perdi.
Agora que parece que sinto mais os meus pés nesta Terra, que já ponho em causa o que é que é estar disponível.
Parece até que me assusta porque a menina com o Coração grande, em todo o corpo, que andava de olhos fechados, não via o caminho e não olhava a quem, abriu os olhos outro dia. Sente mais o Coração, mas ao ver o que está a fazer, tenta-se a seleccionar a ajuda que tem para dar e a quem a dar.
Parece-me egoísmo... ainda não sei como lidar com isto.
Mas nós estamos onde devemos estar, acho eu...

Cris disse...

Seleccionamos para quem estamos disponiveis. E isso é muito importante. Muito e muito mais profundo do que possa parecer.
Precisamos de, como diz a Inês, poisar as armas e reconhecer que naquele momento precisamos de ajuda. Que precisamos de ajuda para nos voltarmos a centrar. Para voltar a sentir o coração de olhos abertos. E quando o sentimos de olhos aberto conseguimos perceber com ele, com o coração, quem realmente precisa de ajuda. E até essa ajuda pode não ser exactamente o que queriamos dar. É aí que entra o egoismo. Podes recusar ou disponibilizares-te a ajudar, a estar lá para alguém, por motivos do umbigo, por egoismo. Para te fazer sentir bem e importante para alguém. Ou podes reconhecer a luz nalguém e perceberes que essa pessoa precisa que lhe mostrem que também brilha. Seja lá como for que esse processo é feito.
Os meninos usam uma expressão engraçada: consagração. No fundo significa escutar atentamente e receber as respostas que são necessárias para aquele momento e para aquela pessoa. Podes receber essas respostas de inumeras formas :) Cada um tem os seus simbolos e o seu percurso. Mas quando te disponibilizas para a ouvir, alguma resposta surge. E o silencio também é uma resposta ;)

O egoismo não está na recusa de ajuda, nem na selecção de quem ajudas, se essas forem uma resposta a um grande SIM aquilo que somos.
Egoismo é querermo-nos alimentar do que damos aos outros, seja lá o que for que damos... vão ser sempre presentes envenenados e a maior vitima desse veneno somos nós mesmos.

Gosto de ti INÊS
Gosto de ti A.MAR
:)
Não me canso de vos dizer e nunca sei porque é que gosto.. mas gosto! Agradeço-vos por me fazerem sentir de olhos abertos...

Beijos no coração
**

a.mar disse...

É.
Ajudo toda a gente na mesma, mas não da mesma forma. E também noto que as coisas surgem quando necessárias. Que só ajudamos quem quer ser ajudado. Que devemos dar ouvidos a quem pede e como pede.
E que é tão díficil pedir, deixar ajudar.
Há uns tempos, a contar uma história de um rapaz que estava a pedir uma esmola no supermercado, comecei a chorar. E perguntei-me porquê.
Vi-me a mim a pedir uma esmola de amor. Vi-me a mim a dar qualquer coisa em troca de outra coisa qualquer. Exactamente para ser importante para alguém, para me sentir imprescíndivel.
É tão engraçado como encontramos as nossas respostas assim no nosso caminho.
Como outro dia, ía carregada com uma garrafa de água. "mas para que é que vou carregada com este peso? quando chegámos foi preciso a altura da garrafa para acabar de abrir o portão.
Prontos, pensei eu, aí tens a resposta.

Beijinhos do Coração