sábado, 13 de junho de 2009

Amadurecer Desenquadrada

Curiosamente o que desencadeou a crise existencial nº 754, foi ter falado com uma rapariga que não via há.... há quanto tempo mesmo??? Teria 19 anos? Ou seja... 15 anos.
Falamos por mensagens de facebook (estas tecnologias modernas são extraordinárias) e combinamos um jantar com as meninas do costume de há todos estes anos. Por meninas do costume leia-se a equipa feminina da faculdade do meu irmão, que participava no challengers trophy universidades e andava a recrutar membros fora da faculdade, para ser mais competitiva.
Eu, a Raquel, a Filipa, a Paula e mais duas meninas que não me lembro dos nomes. Das seis, apenas duas eram da faculdade que a equipa representava. E eram as duas que tinham a cargo toda a parte estratégica da prova. Nós as quatro eramos os cavalos da equipa. A Raquel na canoagem era imbativel, as duas outras meninas na corrida e eu era darem-me uma bicicleta e os trilhos mais dificeis e ficava feliz. Todas loucas, cheias de coragem e vontade. Eramos uma equipa de tal forma bem estruturada e unida que, apesar do pouco tempo para treinar, disputavamos o primeiro lugar com a equipa militar feminina.
Moral da estória... os economistas não brincam em competição.... brincam em muitas outras coisas, mas não em competição.
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Ter falado com uma delas, ter sabido novidades e ido procurar a velha caixa com fotografias antigas foi uma surpresa. Encontrei não só as nossas, como as de pessoas muito proximas e com quem ainda convivo.
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O choque aconteceu quando percebi que não mudei muito.... mas a expressão e o que reconheço nela mudou totalmente...
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Houve pessoas para quem os anos passaram de forma mais dura e isso transparece bem no que são hoje. Ficaram visivelmente marcados pelos anos. Não fiquei muito marcada. Mas os olhos...
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O que torna tudo isto mais estranho é a lembrança por detrás dos olhos. Quando lembro, não me vejo. As diferenças internas são obvias mas parecem-me naturais, suaves. Não devo olhar para aquelas fotos há cerca de 3 anos e não me lembro de ter tido um choque tão grande, por me aperceber que aquela podia ser outra pessoa.
Que não reconheço em mim a tristeza, a revolta daquela rapariga de 19 anos. Mais estranho é identificar o mesmo nas fotografias até aos 27 anos. Uma miuda muito bonita. Engraçado, como na altura sentia-me tão mal na minha pele que nunca conseguia ver isso. Muito bonita e com os olhos mais tristes e distantes que se possa imaginar.
Não me lembro do que me ria. Não me lembro do que me fazia rir.... era quase como se passasse 90% do tempo triste e tão imersa no meu mundo que nem sabia como estar com as outras pessoas. Viciada em livros, li tudo e mais alguma coisa nesses anos de adolescencia e juventude. Gastava mais dinheiro em livros que em roupa ou qualquer outra coisa. Consegui finalmente deixa-los na ultima mudança de vida. Mas antes disso, de cada vez que mudava de casa (o que não foi assim tão poucas vezes) a primeira coisa a ser encaixotada e transportada eram os livros. Eram o meu mundo. O único onde vivia.
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Visto daqui, a esta distancia, não sei o que diria a essa rapariga de olhos tristes. Nada a teria ajudado. Nada teria sido mais fácil, as escolhas teriam sido as mesmas. As certezas e medos os mesmos. Não sei que lhe diria. Diria alguma coisa. Teria que dizer. Aquela rapariga sofria tanto por dentro que transparecia nos olhos...
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Perceber que os anos passaram e que mudei. Que já sou adulta. É nesta altura que me apetece dizer: Alguém se enganou! Anda meio mundo enganado, porque não me sinto adulta! Mais consciente, às vezes mais atenta, mais feliz, mas a loucura que movia aquela rapariga é exactamente a mesma. Os tambores são os mesmos...
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Afinal não são só os economistas que andam a brincar... O que é levado a sério hoje em dia continua a ser a competitividade. Seja pelo que for, nem que seja por feijões. Os feijões só vão mudando.
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O que sinto hoje é apenas mais um desenquadramento. É a noção do envelhecimento. É o perceber, mais uma vez, que daqui a 10 ou 15 anos, os tambores vão ser os mesmos... que o mundo fora de mim vai ser o mesmo.
Que nada teria tornado este caminho mais suave, que gostaria de ver outra expressão no que fui. Mas que não estaria aqui se assim fosse.
Que mudamos, sim. Que é possivel mudar como estamos com os outros e conosco mesmos. Que é possivel amadurecer com alegria e sabedoria. Mas o fio condutor que me guia é o mesmo. E esse continua a fazer-me sentir desenquadrada.

1 comentário:

a.mar disse...

É só desenhares um quadrado à tua volta, ficas emidiatamente em quadrado.
Se te sentisses enquadrada é que era estranho, farias parte de um quadro, serias uma fotorafia numa moldura.